O iOS 11 está acabando comigo

Tá bom, é o seguinte. Não sou a primeira pessoa a dizer isso. E tenho certeza de que não serei a última. Mas o iOS 11 é ruim. O novo sistema operacional transformou meu celular em uma sombra infestada por bugs do que um dia já foi. E a frustração de tentar usá-lo às vezes também […]

Tá bom, é o seguinte. Não sou a primeira pessoa a dizer isso. E tenho certeza de que não serei a última. Mas o iOS 11 é ruim. O novo sistema operacional transformou meu celular em uma sombra infestada por bugs do que um dia já foi. E a frustração de tentar usá-lo às vezes também me faz querer morrer.

Muitas pessoas têm suas ressalvas com o design. Uns dois meses atrás, meu ex-colega de trabalho Jesus Diaz escreveu uma matéria espirituosa e bem argumentada na Fast Company, com a depreciativa manchete: “O iOS 11 é uma droga“. Suas queixas são as mesmas que já ouvi várias vezes quando Jesus ainda estava no Gizmodo: o alinhamento das mensagens está errado, as convenções de interface de usuário são burras, a Apple não presta mais atenção aos detalhes e assim por diante. Ele não está errado sobre nada disso.

Mas minha queixa é diferente. Faz dois meses que a Apple lançou o iOS 11 para milhões de dispositivos no mundo todo, e o software está cheio de bugs. Alguns dos problemas são feios ou simplesmente inesperados de uma empresa que construiu sua reputação em cima de seu software sem defeitos. Bem feito para mim por sempre esperar perfeição de uma empresa imperfeita, acho. Mas tem uns problemas muito ruins mesmo. Tão ruins que eu sequer consigo usar os recursos mais básicos no meu celular. Eles apareceram quando atualizei o sistema no dia de lançamento. E eles persistem dois meses e várias atualizações depois. Que feio, Apple, ignorar toda esses problemas.

Bom, deixe-me lhes mostrar os bugs no meu celular. O pior deles é também o que eu encontro mais frequentemente. Às vezes, quando recebo uma mensagem, vou responder no app Mensagens, mas não consigo ver a mensagem mais recente, porque o teclado está a cobrindo. Também não consigo rolar para baixo para vê-la, porque a thread está ancorada no fundo da página. O mais maluco é que, às vezes, recebo a caixinha de resposta, às vezes, não. O único jeito que encontrei para conseguir enviar mensagens normalmente é apertar na setinha de voltar, indo para todas as minhas mensagens, e então retornando à mensagem por meio da página inicial.

Removi as mensagens porque elas não são da sua conta.

Isso não deveria acontecer. Normalmente, tocar no campo para responder uma mensagem puxa o teclado e coloca a mensagem mais recente acima de onde o teclado é mostrado. E, normalmente, se você está olhando para o teclado, você também está olhando para o campo de resposta. De outra forma, para onde suas palavras vão? Desse jeito, você pode ler o que está respondendo. Mas não no iOS 11. Esse bug mexe comigo diariamente.

Não sou nenhum desenvolvedor, mas acho que esse bug está ligado à tela de bloqueio. O problema do teclado parece acontecer mais frequentemente quando eu deslizo um alerta de mensagem para escrever uma resposta. Também encontrei outros problemas relacionados à tela de bloqueio no app Mensagens. Alguns desses aconteceram quando eu não estava prestando muita atenção, então não consegui descobrir o que estava desencadeando isso ou como consertar. Uma vez, no entanto, pareceu como se eu estivesse vendo o iOS entrar em colapso diante de meus olhos.

Esse bug possivelmente estava ligado ao problema do teclado acima, já que existem algumas semelhanças. Quando tentei responder uma mensagem sem desbloquear o celular — essa foi a única vez que usei o 3D Touch —, o aparelho mostrou que minha amiga estava digitando, com aquela animação que me deixa incrivelmente ansioso. E então eu recebi uma mensagem dela enquanto ela ainda estava digitando. Depois, recebi mais duas animações de “digitando” que então se foram quando eu de fato recebi mais mensagens da mesma amiga.

Mantive as reticências, mas removi a mensagem. Você também vai notar que uma das bolhas está estranhamente cortada no canto esquerdo inferior.

E olha que até agora estamos falando só de um aplicativo. Claro, é possível que eu tenha notado esses bugs porque o Mensagens é um dos apps que eu uso mais frequentemente. Também é possível que o Mensagens simplesmente seja particularmente “bugado” no iOS 11. A Apple foi até mesmo forçada a admitir que o app continha alguns erros quando lançou uma atualização para consertar o problema em que, ao digitar “i”, o corretor automático trocava para “A”.

Mas outros aplicativos nativos no iOS 11 também têm bugs. Até uma atualização recente, a tela do meu iPhone não respondia, o que é um problema já que tocar a tela é quase a única maneira de usar o dispositivo. O app Telefone também tem um bug legal, em que só consigo acessar meu correio de voz periodicamente. Às vezes, quando faço ligações, a pessoa com quem estou falando soa como um monstro. Isso poderia ser problema das operadoras, claro, mas, ainda assim, os problemas arranham a imagem de que a Apple constrói produtos sem falhas. Não, ela não constrói. Você poderia argumentar que os produtos da Apple nunca foram perfeitos, mas eu diria que eles estão menos perfeitos agora do que jamais estiveram.

Não estou tentando fazer uma lista extensa de tudo que a Apple fez de errado recentemente. Eu sequer quero entrar em detalhes sobre cada um dos bugs ou defeitos de design no iOS 11, porque isso seria coisa de mimado, além de ser muito chato. Dizer que o sistema operacional continua cheio de defeitos dois meses depois do lançamento já é o bastante, e, pouco a pouco, a Apple parece estar consertando o problema. O novo iOS repleto de bugs me faz querer mudar para o Android? Não exatamente. Me deixa melancólico e nostálgico em relação à época em que você podia confiar que um produto caro demais da Apple iria funcionar bem? Com certeza.

Porém, na época em que o iPhone 4 foi lançado e parecia que a Apple não errava em nada, os smartphones eram muito mais simples. As câmeras eram alegremente ruins. As telas eram pequenas. O número de aplicativos que podíamos baixar e de coisas a que podíamos conectar o celular era mínimo em comparação a hoje. A realidade aumentada existia quase exclusivamente como algo teórico que o futuro poderia nos trazer. Avance sete anos, e os smartphones podem ser conectados a headsets de realidade virtual. E, por enquanto, parece que a Apple finalmente levou a realidade aumentada às massas — de graça.

Talvez deveríamos esperar alguns bugs. Tecnologias mais complexas contêm mais pontos de falha, e eu estou simplificando demais o problema. Não estou criando desculpas para o desleixo da Apple. Entretanto, estou tentando entender exatamente como minha vida com computadores se transformou tão drasticamente da época do Windows 95, quando nada funcionava direito, à época de ouro do iPhone 4, em que tudo parecia perfeito, para agora, quando uma lista pequena de bugs no iOS faz eu sentir como se meu mundo estivesse desabando.

Talvez o mundo esteja desabando. Talvez os bugs sejam os primeiros ataques da guerra inevitável que a Siri vai travar com seus criadores. Talvez eu que seja o chato, o mimado que está triste porque nada parece perfeito como antes. Ou talvez, e apenas talvez, a Apple esteja deslizando, e todos nós estávamos errados em confiar nela nesse tempo todo.

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