O que o Google+ realmente faz?
Eu normalmente sou sempre o primeiro a me empolgar pelas novidades tecnológicas, particularmente as do Google. Até hoje uso o Buzz, por exemplo. E o Wave? Ainda penso que talvez este fosse um mundo digital melhor se ele tivesse realmente substituído o email, como era a ambição inicial. Sério. Sendo assim, é óbvio que os meus olhos brilham ao usar o novíssimo e reluzente Google+. Mas pouco tempo depois, me perguntei se esse brilho não iria rapidamente se perder junto com o cheirinho de rede social nova. Porque, quando fecho os olhos e penso bem, chego à conclusão que o Google+ não serve para muita coisa.
Você pode entrar no Google+ e compartilhar coisas com seus amigos. Ou com a sua família. Ou pode compartilhar coisas específicas com aquele seu sub-grupo extremamente específico de amigos que curte jogos de tabuleiro, dança árabe ou cervejas importadas. A cada uma dessas coisas compartilhadas você pode receber elogios não-verbais (os +1), que sempre fazem bem para o ego, e, se tiver sorte, pode gerar algumas discussões interessantes.
Também dá para compartilhar umas fotos daquela sua viagem para o interior, quando você fez uma trilha com uns amigos loucos para escalar uma montanha motherfucking enorme. Caso esses amigos estejam online, você pode conversar com eles, inclusive por vídeo. E, no Sparks, se tudo der certo (essa parte do + ainda está em desenvolvimento) você poderá incluir “montanhismo”, “jogos de tabuleiro”, “cerveja” e “dança” aos seus interesses para receber automaticamente algumas novidades sobre os assuntos.
É muito bom, não é?
É, e não é.
Para quem não está tão acostumado com redes sociais mais avançadas, o fato disso tudo estar junto, num mesmo pacote, relativamente integrado e suficientemente fácil de usar, pode significar um maior número de pessoas usando a internet para algo além de email-orkut-site-de-notícias. Isso é obviamente bom.
Mas eu sinto que eu, que já navego por algum tempo e já trafego com desenvoltura por essa cidade bizarra que é a Internet (embora evite passar perto daquele bairro 4chan à noite, por precaução), não tenho muito o que fazer no Google+. Tudo que eu posso fazer com ele eu também posso fazer, e melhor, com outras ferramentas que já existem, e que eu já uso há mais tempo.
Em especial o conceito de Círculos, que parece ser considerado o maior destaque do serviço, me soa uma maneira inorgânica, “forçada”, de atingir um estado que ocorre organicamente quando você pensa que a internet inteira – e não apenas o Facebook, o Flickr, o Twitter, o Instagram etc – é uma rede “social”.
Imagine uma rua. De um lado dela, você vê uma biblioteca grande, com visual neutro e pessoas silenciosas, emprestando todos os tipos de livros. Do outro lado, você vê infinitas bibliotecas menores, mais parecidas com “cafés literários”, cada uma especializada em um assunto. Aqui só se empresta livros de arte, ali só se empresta romances europeus, naquela outra meio mal-iluminada você vai perder tempo se entrar querendo qualquer coisa que não seja um suspense, e tá vendo aquele pessoal ali com camiseta do Gizmodo? Eles estão na frente do lugar onde você só encontra quadrinhos e livros sobre cultura digital.
De que lado da rua você pegaria seus livros? Se você pensar, a nossa grande biblioteca já contém todas as pequenas livrarias. Eu fico lá.
Saindo da metáfora, voltemos para o mundo da internet. Se eu quero compartilhar fotos, tenho ultimamente usado o Instagram (poderia ser o Flickr, o 500px, ou mesmo o Facebook, ou sei lá). Todo mundo que está no Instagram comigo se interessa minimamente por fotografia. Por que eu preciso entrar no Google+, criar um Círculo chamado “Fotografia” e repassar a minha lista de centenas de contatos do Gmail adicionando dezenas de pessoas – algumas das quais eu nem sequer tenho certeza se gostam de fotografia mesmo ou se só comentaram numa foto minha por educação ou porque estavam com tendências particularmente procrastinatórias no dia – se o Instagram já é um círculo de pessoas interessadas por fotografia?
Qualquer que seja o seu interesse, você muito provavelmente encontrará um site, ou uma comunidade, ou um grupo do Facebook, onde discutir isso (inclusive com os seus amigos, se você os convidar – e se eles realmente se interessam pelo assunto, eles aceitarão o convite). Não é necessário forjar um espaço genérico para isso dentro do Google+. A ferramenta do Google quer de alguma forma centralizar todos esses mil espaços, mas eu teria que refundá-los. Faz sentido?
O recurso de videochat em grupo (Hangouts) do Google+ é provavelmente a parte mais divertida do serviço, e uma que eu me vejo usando com alguma frequência. Mas quem pensa que isso é alguma novidade não tem os mesmos amigos que eu, que frequentemente se reúnem no Skype, cada um da sua casa, para falar bobagem enquanto assistem algum jogo na TV ou evento na internet. Não é por vídeo, verdade, mas a comunicação está lá – além do mais, quem vai querer ver a minha cara enquanto fala sobre algo que está acontecendo na TV? Você vai querer olhar para o evento, não para o interlocutor. E mesmo se no fim das contas você achar que este é um recurso matador, não acredite que estará confinado ao Google+. A “grande novidade” do Facebook para os próximos dias parece girar em torno disso, e a Microsoft comprou o Skype, podendo fazer um bocado com a tecnologia e sua base de usuários.
Ainda há um outro recurso “novo” do Google+, que precisa de um bocado de desenvolvimento, o “Sparks”. Nele, é possível buscar as notícias mais relevantes (ou teoricamente, porque por enquanto ele é péssimo) sobre determinado assunto. Os argumentos contra ele são, para mim, os mesmos: o recurso não traz nenhum resultado a que você não chegaria organicamente assinando alguns sites no seu Google Reader e prestando atenção ao que os seus amigos compartilham sobre os assuntos que você gosta para descobrir sites novos para acompanhar seus interesses.
Não sei se é assim com todo mundo (imagino seja o caso da maioria), mas 99% das vezes em que eu compartilho um link eu estou em uma dessas duas situações:
1) eu gostei desse link e quero que o maior número possível de pessoas o veja;
2) eu gostei desse link e lembrei de uma ou duas pessoas específicas que também gostariam dele, portanto quero compartilhar especificamente com elas.
A situação número 1 é o caso de um compartilhamento público no Facebook e/ou Twitter, locais onde temos uma audiência maior. Para o número 2, ainda não existe opção melhor que o bom e velho email. Enquanto eu pensava em quais Círculos montar no Google+, e em quais pessoas incluir em cada um deles, eu também pensava em que tipo de conteúdo em compartilharia em cada um deles. É difícil pensar nisso. Não consegui. Por que eu tenho que separar?
Foi então que eu decidi que eu provavelmente não usarei o Google+. Estou lá, vou entrar de vez em quando para ver o que os meus amigos e as pessoas interessantes com que eu mantenho contato estão compartilhando, vou participar de algumas discussões, mas quando quiser de fato compartilhar alguma coisa relevante para mim com quem é relevante para mim, eu vou procurar o local mais relevante para fazer isso. E, a não ser que eu me descubra muito errado nas próximas semanas, não vai ser no Google+.
[Ilustração: bitmOO]