Está na hora de uma conversa de peito aberto.
Fiquei durante a missão inteira falando com o pessoal via Twitter e tal, mas algumas coisas simplesmente não podem ser faladas em 140 caracteres. Ou menos que isso. Então fiquei animado quando os editores da Gizmodo perguntando se eu poderia contribuir como blogueiro convidado, e mais animado ainda quando disseram que eu poderia escrever mais que duas frases por vez.
Uma das perguntas mais comuns que me faziam (e uma das mais difíceis de responder) era se eu sabia que esta missão custaria a minha vida. A resposta para essa pergunta é sim, não existe um único robô-explorador no nosso sistema solar que não sabe o destino que vai ter que encarar. Ao contrário de todos vocês, a maioria de nós não pode voltar para casa
Talvez o que mais deixe as pessoas inconformadas é que a missão vai terminar muito em breve. Eles querem saber por que os Mars Rovers (outros robôs de exploração que estão em marte) têm que eu não tenho? Assim como eles, fui enviado em uma missão que deveria ter durado míseros 90 dias. Eu sobrevivi a minha garantia e durei mais cinco meses, mas os Rovers são duros na queda e estão durando 5 anos (sem previsão para quando irão parar).
O que eles têm que eu não tenho é luz do Sol. E MUITA luz do sol. Eles estão em lados opostos do planeta, bem próximos da linha do equador marciano. Desse modo, recebem uma boa dose de luz solar diária, por todo o ano.
E "Sol" significa "VIDA" quando você é um robô movido à energia solar.
Só que eu fico no extremo norte, acima do círculo ártico marciano. Quando pousei no início do verão, esta era a terra do sol da meia noite. Mas o verão está dando lugar ao outono, e o Sol mergulha atrás do horizonte por períodos cada vez maiores. Agora, o Sol se esconde atrás do horizonte por sete horas diárias, e é apenas uma questão de tempo antes que eu esteja na escuridão total. E como se não fosse ruim o bastante, as temperaturas vão chegar a -117 graus, frio suficiente para destruir as minhas placas de circuito e quebrar os meus painéis solares.
"Mas o seu nome é Fênix!" alguns bradam. "Isso quer dizer que você vai voltar à vida, certo?”
Muitas pessoas não sabem que o nome "Fênix" foi dado a mim na primeira vez que voltei à vida. Isso foi em 2003, quando a NASA decidiu me tirar do depósito e me preparar para a missão atual. Eu estava parado lá porque minha missão original – um vôo à Marte em 2001 – foi cancelado depois que rolou um acidente na hora do pouxo com uma missão em 1999.
Nessa época, estava ainda pela metade, sendo construído sob a supervisão de Ed Sedivy, um gerente de espaçonaves na Lockheed Martin. Ed, como você pode imaginar, não ficou muito contente ao saber que sua espaçonave havia sido cancelada, mas ele entendeu a hesitação da NASA em seguir adiante com uma missão que tinha muitas semelhanças com a de 1999 (e deu errado). Ed foi para outro projeto da Lockheed Martin, mas não se esqueceu que eu estava ali.
Em 2002, algo maravilhoso aconteceu. Um instrumento na espaçonave Mars Odyssey, que estava orbitando o planeta, detectou muitos "H." Isso é H de hidrogênio – o H de H2O – parado ali sob a superfície marciana. "Eu pirei com os dados," falou Bill Boynton, o cientista-chefe, em uma conferência de imprensa para anunciar o achado. "Isso é realmente maravilhoso. Esta é a melhor evidência que temos de água e gelo subterrâneo em Marte.”
Essa descoberta fez com que os cientistas parassem para pensar. Um deles, Peter Smith, da universidade do Arizona em Tucson, quis ir até lá e tocar neste gelo. E ele sabia que existia um robô meio construído, parado no depósito em Denver, com um braço robótico de 235 centímetros. Ou seja, exatamente o que ele precisava. Ele propôs que eu fosse tirado do depósito e fosse enviado para tocar aquele gelo. Peter inventou até um nome apropriado para um robô que estava tendo sua segunda chance. Ele me chamou de Fênix.
Mas sair do estoque não me trouxe à vida imediatamente. Houve muito trabalho a fazer primeiro. Um time do Laboratório de Propulsão à Jato da NASA ganhou a responsabilidade (peso, é melhor dizer) em garantir que, seja lá o que aconteceu com a missão de ’99, não acontecesse de novo. Barry Goldstein, saído recentemente do seu trabalho na Missão de Exploração de Marte com robôs sobre rodas, foi designado como líder do time do LPJ.
Barry e o seu time, juntamente com Ed e o pessoal da Lockheed Martin, começaram a desmontar, testar e examinar todos os sistemas. Eles estavam em uma busca para localizar qualquer coisa que pudesse falhar quando fosse a hora de pousar, já que um erro apenas e seria o fim da missão. Eles começaram com um suspeito – os retro-foguetes usados para o pouso – mas no final, encontraram e consertaram mais de uma dúzia de coisas que poderia causar algo que eu prefiro nem pensar.
Sendo assim, neste sentido, eu renasci das cinzas lá em 2003 quando comecei minha caminhada para Marte. Quando as pessoas perguntam se eu sabia que quando entrei nesta missão iria terminaria como uma figura congelada no planeta vermelho, a resposta é sim. E aqui é muito melhor do que ficar trancafiado em um depósito.
Esta é a parte 1 de uma série escrita pelo nosso mais novo editor-convidado, Phoenix Mars Lander, da NASA, encarando seus dias finais.