Reportagem: Aline Tavares/Instituto Butantan
Após quatro anos de treinamentos superintensivos de atletas do mundo todo, começam nesta sexta (26/7) os tão aguardados Jogos Olímpicos de Paris 2024. O Brasil será representado por 277 homens e mulheres, que disputarão 39 modalidades esportivas. Com um condicionamento físico de dar inveja, os atletas olímpicos fazem coisas que parecem quase impossíveis para quem assiste da televisão de casa. E isso não é exclusividade do Homo sapiens: no mundo animal, também temos atletas capazes de entregar uma bela performance – e sem nem precisar de treino. Seja na escalada, no nado, no salto ou na luta, esses bichos são dignos de medalha de ouro!
Conheça abaixo alguns campeões brasileiros em cinco diferentes modalidades:
Saltos ornamentais: baleia-jubarte
Você já deve ter visto registros das baleias dando grandes saltos, muitas vezes tirando o corpo imenso todinho da água, nos mares do Brasil – principalmente entre o litoral norte de São Paulo e o sul da Bahia. São as famosas baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae), que podem pular a 12 metros de altura, dando um verdadeiro show para quem tem a sorte de avistá-las – nas Olimpíadas, a maior altura do salto ornamental é de 10 metros. Pesquisadores sugerem que esse comportamento é uma forma de se comunicar com outros grupos distantes de baleias.
Todos os anos, de junho a novembro, esses animais saem da Antártica em busca das águas quentes do Brasil para se reproduzir, percorrendo cerca de 4 mil quilômetros. Depois, durante o verão, retornam aos mares antárticos para se alimentar. De acordo com o Instituto Baleia Jubarte, as populações dessa espécie vêm se recuperando dos impactos da caça, e em 2022 houve um recorde de aparição de 25 mil baleias na costa brasileira. Elas podem chegar a 16 metros de comprimento e pesar cerca de 40 toneladas. O período de observação de baleias no litoral de São Paulo vai de maio a agosto, quando você pode aproveitar para conhecer pessoalmente nossas campeãs de saltos!
Luta livre: cascavel
No mundo animal, a disputa dos machos pelas fêmeas é muito comum. Essa é uma forma de mostrar quem é o melhor pretendente, e algumas serpentes fazem isso em um ritual conhecido como dança combate. Nessa batalha, destacam-se as cascavéis (gênero Crotalus): os machos “se levantam” o máximo possível para disputarem altura, se entrelaçam e tentam abaixar a cabeça do oponente com movimentos bruscos do corpo. A derrota ocorre quando uma das partes decide abandonar a luta por exaustão. Surpreendentemente, essa batalha pode durar até uma hora – já as lutas livres nas Olimpíadas são compostas por dois períodos de três minutos cada.
Maratona aquática: tartaruga-de-pente
Nadadoras profissionais do fundo do mar, com patas que parecem remos, as tartarugas-marinhas podem migrar longas distâncias de mais de mil quilômetros – cem vezes mais do que o percurso de 10 km das Olimpíadas. No Brasil, uma das campeãs da maratona aquática é a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), espécie criticamente ameaçada de extinção, que faz seus ninhos principalmente ao longo do litoral Norte e Nordeste, em praias remotas.
Após a postura dos ovos, ela viaja pela costa para se alimentar, preferencialmente em recifes de corais, onde se nutre de esponjas, algas, crustáceos e peixes pequenos. Pesando cerca de 80 kg e com 1 metro de comprimento, a tartaruga-de-pente pode nadar a uma velocidade de mais de 30 km/h. É bem mais que os seres humanos: os nadadores de águas abertas atingem, em média, 5,7 km/h sem correnteza e 1,4 km contra a corrente.
Escalada esportiva: caranguejeira-de-dedos-rosa (Avicularia variegata)
Na arte da escalada, nossa campeã é a dócil caranguejeira-de-dedos-rosa (Avicularia variegata), que adora subir em árvores. Apesar do tamanho robusto comparado ao de outras aranhas, chegando a 15 cm, as do gênero Avicularia conseguem escalar com facilidade, à la Homem-Aranha, devido às características especiais de suas pernas e pés. O animal possui cerdas “adesivas”, o que lhe permite até subir por superfícies mais lisas, além de pequenas garras que a ajudam a se segurar.
Esses artifícios com certeza seriam úteis nas Olimpíadas: na modalidade “boulder”, os atletas escalam paredes de 4,5 m de altura sem cordas durante tempo limitado e com o menor número de tentativas possível, enquanto no modo “velocidade” é preciso subir 15 m o mais rápido possível.
Ginástica artística: perereca-de-folhagem
Os ginastas artísticos chamam atenção com seus movimentos elegantes e cheios de força, flexibilidade, coordenação e equilíbrio. Na natureza brasileira, a medalhista da modalidade é a perereca-de-folhagem (Phyllomedusa burmeisteri): diferente de suas parentes, que costumam saltar bastante, essa perereca charmosa é conhecida por desfilar pelos galhos das árvores Mata Atlântica. Seus movimentos são precisos, delicados e performáticos. Ela habita principalmente os estados de São Paulo e Minas Gerais e vive escondida no interior das matas, se camuflando entre as folhas das árvores.
Referências:
https://journal.iwc.int/index.php/jcrm/article/view/796/518
https://www.baleiajubarte.org.br/a-baleia-jubarte
https://www.fisheries.noaa.gov/species/hawksbill-turtle
https://www.southwesternherp.com/crotalus-viridis-male-combat-dance/
https://www.fisheries.noaa.gov/species/humpback-whale
https://www.jstor.org/stable/1562936
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4736027/
Imagens: @joaomarcosrosa (tartaruga-de-pente), Rafael Mesquita / Projeto Mantas de Ilhabela e Projeto Baleia à Vista (baleia jubarte), José Felipe Batista/Comunicação Butantan
Este texto contou com a colaboração da bióloga e diretora do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan, Erika Zaher