OMS quer acabar com a bouba até 2030; doença já foi comum no Brasil
Desde a sua criação, em 1948, a OMS (Organização Mundial da Saúde) busca soluções para a erradicação da bouba, uma doença bacteriana que atinge especialmente áreas tropicais. Nesse período, campanhas de combate e avanços na ciência permitiram que ela fosse contida em grande parte do planeta.
Assim, em 2012, a organização se comprometeu a extinguir a bouba até 2020 – o que não aconteceu. Milhares de casos ainda são reportados atualmente em, ao menos, 15 países.
Mas, apesar dos desafios, a bouba permanece como um dos dois alvos de erradicação de doenças tropicais negligenciadas pela OMS até 2030.
Segundo a revista Nature, há um otimismo cauteloso entre pesquisadores e profissionais de saúde pública. Isso porque eles acreditam que, desta vez, a meta está ao alcance.
O que é a bouba
A bouba é uma doença da pele causada pela bactéria Treponema pertenue, que é da mesma família do microrganismo causador da sífilis. No entanto, diferente de sua parente, ela não é uma IST.
A contaminação pela bouba ocorre por contato direto com as feridas e verrugas que ela causa na pele – motivo também da estigmatização das pessoas que sofrem com a doença. Em casos graves, a bouba pode desencadear inflamação dolorosa, resultando na destruição de ossos e tecidos.
Em geral, a infecção é mais comum em crianças de comunidades rurais de baixa renda, concentrando-se em áreas tropicais da África, Ásia, América Latina e Pacífico. Atualmente, Papua Nova Guiné é um epicentro de bouba, por ser o local com a maioria dos casos.
A bouba no Brasil e no mundo
Desde o início do século 20 a bouba assola regiões tropicais. No Brasil, a doença atingiu de maneira mais intensa o norte e o nordeste do país, e algumas regiões de Minas Gerais. Mas, a partir da década de 1930, a doença virou alvo de medidas mais robustas do governo contra epidemias.
Então, em 1952, a OMS lançou a primeira campanha global de erradicação da bouba, com distribuição de injeções de antibióticos à base de penicilina. Isso levou a avanços significativos no combate à doença: 50 milhões de pessoas receberam tratamento, o que reduziu a carga global da doença em 95%.
No entanto, a falta de recursos e vigilância levou a um ressurgimento da bouba na década de 1970. Desde então, o mundo enfrenta alguns desafios para evitar a doença. Por exemplo, com casos de resistência antibiótica e evidências de primatas abrigando a mesma bactéria.
Apenas em 1967 que a OMS reconheceu que a bouba estava erradicada em Minas Gerais. E, a partir de 1970, ela desapareceu do Brasil. Atualmente, a bouba se restringe a lugares isolados do Sudeste Asiático.
Em 2020, mais de 300 casos foram confirmados e mais de 80 mil pessoas com suspeitas clínicas de bouba foram registradas no mundo.
Próximos passos
Agora, a OMS está firmando novas frentes de combate para erradicar a bouba. Segundo a Nature, um ensaio clínico feito na Papua Nova Guiné destaca a avaliação promissora do medicamento linezolida, que se apresenta como uma alternativa eficaz à azitromicina.
Além disso, uma nova abordagem de tratamento também tem potencial para ajudar no combate à doença. Ela consiste na administração de três rodadas de tratamento em massa de azitromicina, a cada seis meses.
Até agora, demonstrou uma redução significativa nos casos de bouba em comparação com o método convencional. Ainda assim, os desafios são grandes. Especialistas ressaltam a importância de buscar por uma vacina para a doença, embora não haja nenhuma em desenvolvimento.
Também é necessário melhorar o método de diagnóstico, que ainda é complexo. E a vigilância, especialmente em locais que há animais contaminados pela bactéria, é essencial.