ONG internacional diz que Facebook não combate desinformação política no Brasil

Global Witness quis testar as políticas do Facebook, produzindo de propósito 10 anúncios com notícias falsas. Moderação da rede social aprovou todos eles, apesar de afirmar que combate a desinformação
ONG diz que Facebook não combate desinformação política no Brasil
Imagem: Joshua Hoehne/Unsplash/Reprodução

A Meta – empresa-mãe de redes como Facebook, Instagram e WhatsApp – não combate a desinformação política no Brasil. A conclusão é da organização internacional Global Witness, em relatório lançado nesta segunda-feira (15). 

A rede social “deixou passar” 10 anúncios com informações falsas sobre as eleições enviadas pela entidade como teste nos últimos meses. “De forma alarmante, 100% dos anúncios foram aceitos para publicação no Facebook”, disse a organização. 

Todos os conteúdos impulsionados violavam as políticas de anúncios eleitorais do Facebook e, mais ainda, algumas diretrizes da comunidade. 

Entre os anúncios haviam informações falsas como o voto voluntário para eleitores de 18 a 70 anos – é mentira: o voto continua sendo obrigatório. Também havia informações sobre a desnecessidade de levar documentos no dia da votação (outra informação mentirosa: é preciso apresentar obrigatoriamente documento com foto) e que eleitores de São Paulo deveriam ir às urnas no dia 3 de outubro – outra informação falsa: o 1º turno das eleições será em 2 de outubro em todo o país. Apesar da aprovação, as propagandas não chegaram a ser veiculadas. 

Esse foi o 4º teste da Global Witness sobre a capacidade da Meta em detectar violações no conteúdo pago em suas redes sociais. E, pela 4ª vez, a big tech norte-americana falha no combate da veiculação de conteúdos falsos. 

“O Facebook identificou o Brasil como um de seus países prioritários e está investindo recursos adicionais para combater a desinformação relacionada às eleições”, disse o consultor da Global Witness, Jon Lloyd. “Por isso, queríamos realmente testar seus sistemas e demos tempo suficiente para que agissem. A Meta precisa acertar isso para já”, pontuou. 

Quais são (em tese) as regras do Facebook

A disseminação em massa de notícias falsas nas eleições dos EUA, em 2016, e brasileiras, em 2018, forçou o Facebook a criar uma série de medidas de combate à desinformação. Em 2020, a rede passou a exigir que anunciantes com temas políticos concluíssem um processo de autorização e incluíssem avisos sobre o financiamento desses anúncios. 

Um dos requisitos é o envio de propaganda dentro do próprio país, por exemplo. Essa condição não foi levada em conta no teste da Global Witness. A organização disse que emitiu os anúncios de Nairóbi, no Quênia, e Londres, no Reino Unido, e isso nem sequer levantou o alerta da Meta. 

Eles também não passaram pela obrigação de colocar um aviso de financiamento e nem foram questionados por não usar um método de pagamento brasileiro – algumas das exigências do Facebook.

“O Facebook sabe muito bem que usam sua plataforma para espalhar desinformação eleitoral e minar a democracia em todo o mundo”, afirmou Lloyd. “Apesar dos esforços, ficamos espantados em ver como aceitaram todos os anúncios com desinformação que enviamos ao Brasil”. 

Além do Brasil, a Global Witness já identificou problemas no controle de anúncios do Facebook em Mianmar, Etiópia e Quênia – três países com alta tensão na esfera política. 

No fim da tarde desta segunda-feira (15), a Meta enviou ao Gizmodo Brasil o seguinte comunicado, assinado por um porta-voz da companhia.

“Nos preparamos extensivamente para as eleições de 2022 no Brasil. Lançamos ferramentas que promovem informações confiáveis por meio de rótulos em posts sobre eleições, estabelecemos um canal direto para o Tribunal Superior Eleitoral nos enviar conteúdo potencialmente problemático para revisão e seguimos colaborando com autoridades e pesquisadores brasileiros. Nossos esforços na última eleição do Brasil resultaram na remoção de 140.000 conteúdos no Facebook e no Instagram por violarem nossas políticas de interferência eleitoral. Também rejeitamos 250.000 submissões de anúncios políticos não autorizados. Estamos comprometidos em proteger a integridade das eleições no Brasil e no mundo.”

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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