Há uma orca na França com um talento peculiar: ela parece poder reproduzir palavras humanas. Isso certamente seria um impressionante e animador avanço nas relações entre baleias e humanos, mas, para os meus ouvidos, as “palavras” soam muito mais como peidos.
Cientistas na Europa e no Chile anunciaram ter treinado uma orca fêmea de 14 anos chamada Wikie para reproduzir palavras como “oi”, “um, dois” e “tchau” no Marineland Aquarium em Antibes, na França. A orca não está de fato falando, é claro. Mas a sua capacidade de simular sons é importante por si só. Ouça alguns exemplos abaixo:
Se eles não se parecem muito com o a palavra original, os autores compreendem: “Apesar do objeto de pesquisa não criar cópias perfeitas dos sons humanos, elas foram reconhecidas como cópias conforme avaliado tanto por observadores independentes e analistas acústicos”, de acordo com o artigo publicado nesta quarta-feira (31) no Proceedings of the Royal Society B.
Nós humanos temos habilidades vocais muito avançadas, caso você não tenha percebido. Um dos nossos talentos é a capacidade de imitar outros a fim de aprender novos sons. Existem relatos que cetáceos, o grupo que inclui baleias, golfinhos e botos, imitam o som de outros animais, então os pesquisadores se interessaram em testar este tipo de aprendizado, cientificamente, em orcas. Eles tentaram ensinar a Wikie a repetir as palavras dos pesquisadores, não por sua boca, mas por seu espiráculo.
A análise acústica (e um teste com observadores independentes) mostrou que os sons imitados eram bem semelhantes às palavras. Eu ri bem alto durante o trecho de “um, dois” – tente você também ouvi-lo sem rir.
Este tipo de pesquisa não é importante apenas para garantir algumas risadas, no entanto. Elas podem ajudar cientistas a entender as orcas em seu habitat natural, escreveu Luke Rendell, professor de biologia na Universidade de St. Andrews, para o The Conversation:
A evidência que orcas podem aprender sons nos fornece o elo perdido para entender suas vidas no habitat selvagem. Há muito tempo sabemos que as orcas possuem dialetos de grupos próprios, coleções de chamados distintos que são únicos a um grupo específico ou a um determinado número de grupos. Por décadas cientistas sugeriram que estes dialetos são o resultado de aprendizado, e muitas pistas fundamentavam essa ideia.
Basicamente, é possível que grupos de baleias desenvolvam seus próprios dialetos – da mesma maneira que grupos de humanos possuem suas próprias línguas – aprendendo e incorporando sons dos seus repertórios.
O estudo tem seus limites, no entanto, dado que ele inclui apenas uma baleia que foi mantida em cativeiro e não em seu habitat selvagem. Mas a pesquisa imediatamente lembrou, conforme observado por outros editores do Gizmodo, de um estranho estudo de 1960 que envolveu Margaret Howe Lovatt e Peter, o golfinho, uma história repleta de insinuações de bestialidade e muito LSD.
De qualquer forma, a orca na França está certamente fazendo algum tipo de mímica, e talvez baleias também façam mímicas parecidas em seu ambiente natural, criando dialetos inteiros com os peidos que saem de seus espiráculos. E você aí achando que era especial.
[Proceedings of the Royal Society B]
Imagem de topo: Kenai Fjords National Park/Paige Calamari/Flickr