Todo mundo que gosta da exploração espacial ficou feliz com o pouso bem-sucedido do rover Perseverance em Marte na quinta-feira (18). Não é para menos: o Planeta Vermelho, com seu clima inóspito e sua distância de 225 milhões de quilômetros, é famoso por encerrar missões antes mesmo de elas começarem. Embora seja um desafio, muitas vezes são erros humanos que levam as missões ao fracasso.
Listamos cinco desses eventos infelizes (e alguns vergonhosos) em meio às tentativas da humanidade para explorar o planeta.
1973: Mars 4
No início dos anos 1970, a União Soviética salpicou uma série de módulos e aterrissadores em Marte. Problemas naturais e de origem humana atormentaram essas naves, e a Mars 4 (eram sete, no total) não foi exceção. Um chip de computador no orbitador degradou-se no caminho para o planeta, o que significa que os foguetes relevantes não dispararam quando deveriam, quando o veículo se aproximou do planeta. Em vez de desacelerar para entrar em órbita, a Mars 4 acelerou. Ops.
1999: Mars Climate Orbiter
Essa aqui pode ser a mais constrangedora da lista. Lançado em 1998, o Mars Climate Orbiter da Nasa foi criado para estudar a atmosfera do planeta, coletando dados sobre poeira e vapor de água e criando um registro do clima diário de Marte para ter uma noção das tendências climáticas.
O orbitador chegou a Marte em setembro de 1999 e deveria fazer um ping para a equipe na Terra quando alcançasse lado oposto do planeta. Os cientistas da NASA não ouviram nada… e nada… e nada. No fim, descobriram que o orbitador recebeu algumas instruções distorcidas — comandos de navegação foram enviados em unidades inglesas, e não nas métricas padronizadas internacionalmente. Este erro significa que a sonda perdeu o ponto ideal para orbitar e, em vez disso, caiu na atmosfera de Marte, onde se desintegrou.
1999: Mars Polar Lander
Nave parceira do Mars Climate Orbiter, o Mars Polar Lander também teve muito azar. Ele foi lançado no início de 1999 e alcançou o Planeta Vermelho em dezembro daquele ano. O plano era que o aterrissador pousasse no polo sul marciano e procurasse água congelada, o que daria pistas sobre vida no planeta.
Depois que o aterrissador entrou na atmosfera marciana, a comunicação cessou. A Nasa procurou sinais do módulo de pouso por mais de um mês, mas não encontrou nada. Três meses depois, em março de 2000, uma investigação independente concluiu que um defeito nos sensores fez com que o módulo de pouso condenado pensasse que já estava no solo quando, na verdade, ainda estava descendo. Isso teria feito os motores do módulo de pouso desligarem mais cedo e a nave bater com tudo no chão.
2016: ExoMars Schiaparelli
Batizado em homenagem ao astrônomo do século 19 Giovanni Schiaparelli, o módulo de entrada, descida e aterrissagem da Agência Espacial Europeia é uma das falhas mais recentes desta lista. Com previsão de pousar em Marte em outubro de 2016 — o ponto principal de sua viagem era mostrar como essa nave poderia fazer pousos controlados em Marte — o Schiaparelli também carregava alguns instrumentos para pesquisa científica.
Eles nunca foram colocados em uso. O Schiaparelli caiu perto de seu local de destino. A situação da nave era semelhante à do Mars Polar Orbiter: o computador de bordo de Schiaparelli calculou mal e achou que a nave estava abaixo do nível do solo quando na verdade ainda estava descendo. O paraquedas foi liberado e o módulo sofreu uma queda livre de 3,7 quilômetros até o solo de Marte. Um campo de destroços foi fotografado pelo Mars Reconnaissance Orbiter da NASA nas semanas seguintes, revelando uma cicatriz preta na terra vermelha, causada pelo pouso forçado a 530 quilômetros por hora.
2020: toupeira da InSight
A decepção mais recente no Planeta Vermelho é a saga da toupeira, como ficou conhecida a sonda de calor da InSight. A Nasa desistiu oficialmente desta parte no mês passado, já com a missão em andamento, depois de mais de um ano tentando fazê-la funcionar. O escavador robótico deveria alcançar um nível profundo do subsolo e coletar dados sobre o que acontecia no interior de Marte. Mas os problemas começaram no início de 2019, quando a sonda parecia não conseguir chegar a mais do que três centímetros sob o solo. Da Terra, os engenheiros tentaram algumas estratégias para colocá-la em movimento, incluindo prendê-la com o braço robótico da sonda. Infelizmente, o solo não cooperava. Onde a equipe esperava encontrar regolito solto, eles se depararam com “duricrust”, um material espesso semelhante ao cimento. “Tentamos tudo o que foi possível, mas Marte e nossa toupeira heroica continuam incompatíveis”, disse o principal investigador do projeto, Tilman Spohn, em janeiro de 2021. “Felizmente, aprendemos muito, e isso vai ajudar muito nas futuras missões que tentarão cavar a subsuperfície.”
Todas essas memórias dolorosas tornam os sucessos ainda mais doces, e estamos ansiosos para que toda as descobertas científicas que virão do rover Perseverance.