Os 5 negros brasileiros que entraram para a história das Copas

A história do futebol brasileiro e as vitórias em Copas pode ser contada pelas trajetórias de homens negros. Veja a lista
Os 5 negros brasileiros que entraram para a história das Copas

Atletas negros são destaque no campo e são maioria entre os jogadores da seleção na Copa 2022, mas enfrentaram muitos obstáculos até conquistar seu espaço. No Brasil, negros já foram impedidos até mesmo de vestir a amarelinha.

Entre 1919, o governo federal chegou a proibir que “negros e mulatos” representassem o país na seleção brasileira. O ato racista, assinado pelo presidente Epitácio Pessoa, deixou de valer em 1922, quando o Brasil perdeu de lavada nos Jogos Sul-americanos. 

Na prática, a autorização só voltou porque vários dos grandes nomes do futebol nacional eram negros – como Arthur Friedenreich, o primeiro craque brasileiro. E, apesar de ser o melhor do seu tempo, Friedenreich foi impedido de disputar o Mundial de 1930. 

Outras estrelas do futebol, como Leônidas da Silva, Barbosa, Pelé, Mario Américo e Romário, também tiveram suas trajetórias marcadas pelo racismo da sociedade brasileira. Neste domingo (20), dia da Consciência Negra e da abertura da Copa do Catar, conheça a história de cada um deles. 

Leônidas da Silva 

Os 5 negros brasileiros que entraram para a história das Copas

Leônidas da Silva vestindo a camisa do Flamengo, time em que jogou de 1936 a 1941. Imagem: Divulgação

Sabe a bicicleta? Foi Leônidas que aperfeiçoou e popularizou para o mundo. Conhecido como Diamante Negro, foi o grande ídolo do futebol brasileiro no final da década de 1950, muito antes de Pelé. 

Com Leônidas, a seleção fez sua primeira grande campanha na Copa de 1938, quando conquistou o terceiro lugar. A imprensa francesa logo o chamou de “Homem Elástico”, uma referência aos malabarismos e agilidade com que guiava, driblava e finalizava a bola.

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O famoso gol de bicicleta de Leônidas da Silva. Imagem: Museu do Futebol/Reprodução

Nascido no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 1913, perdeu o pai logo cedo e passou a ser criado pelos patrões da mãe, empregada doméstica. Aos 13 anos, já era destaque nas partidas amadoras e começou a ganhar dinheiro para disputar pelas equipes do bairro. 

Em 1929, com apenas 16 anos, passou a jogar profissionalmente no Sírio Libanês, um pequeno clube da zona norte da capital fluminense. A partir daí, a subida foi meteórica: jogou pelo Bonsucesso, Botafogo, Vasco, Flamengo e São Paulo, onde virou ídolo. 

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Leônidas da Silva veste o manto do São Paulo FC, time do qual é um dos maiores ídolos. Imagem: SPFC/Twitter/Reprodução

Nos seus 21 anos de carreira, foi campeão em todos os clubes que defendeu: conquistou três campeonatos cariocas e cinco campeonatos paulistas. Artilheiro nato, seus números impressionam: marcou 437 gols em 512 jogos.

Também virou figurinha carimbada entre os titulares da seleção, que liderou nos Mundiais de 1934 e 1938. Leônidas se aposentou aos 37 anos, em 1950, e morreu em 2004, em decorrência do Alzheimer.

Uma curiosidade sobre o Diamante Negro é que o chocolate da Lacta é, sim, inspirado no atleta: em 1938, a empresa pagou ao jogador para nomear o doce com seu nome.

Barbosa 

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O goleiro Moacyr Barbosa na Revista do Esporte, na década de 1940. Imagem: Revista do Esporte/Reprodução

Há quem fale até hoje de Moacyr Barbosa com gosto amargo: o goleiro ídolo do Vasco e que consagrou o Brasil na Copa de 1950 é também o que tomou um gol “fácil” para o Uruguai no fatídico Maracanazo. 

Mas lembrar só lembrar de Barbosa por isso é uma grande injustiça. O atleta é um dos maiores ídolos do futebol, e tido por muitos como o maior goleiro do Brasil. 

Nascido em Campinas (SP) em 27 de março de 1921, tinha 9 irmãos. Aos 14 anos, a morte do pai e de dois irmãos o forçou a mudar-se para a capital paulista, onde começou a trabalhar. Foi em 1940 que começou a jogar profissionalmente no Clube Atlético Ypiranga.

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Fatídico gol que deu a derrota do Brasil no final da Copa de 1950, contra o Uruguai. Imagem: Divulgação

Dois anos depois, já era negociado pelo Vasco, onde conquistou seis campeonatos cariocas, um torneio Rio-São Paulo e o Sul-Americano de Clubes. Na Copa de 1950 derrotou a Iugoslávia por 2 a 0, a melhor equipe europeia do Mundial à época.  

A campanha ia bem. O Brasil goleou a Suécia por 7 a 1 e a Espanha por 6 a 1 na primeira e única final quadrangular. Do Uruguai, perdeu de 2 a 1, resultado que “condenou” Barbosa para sempre. 

“Será que eu fui o culpado? Será que eu errei? Ao rever o lance dias depois, achei que estava certo. Quer dizer, eu fiz o certo e deu errado. [O jogador uruguaio Alcider] Ghiggia fez errado e deu certo”, disse Barbosa em entrevista no ano 2000. 

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Uma das últimas imagens do goleiro Barbosa em vida. Imagem: Dacio Malta/Reprodução

O estigma do jogador o acompanhou para sempre. Barbosa teve uma rápida passagem pela seleção mais tarde. Ele jogou profissionalmente até 1962, quando se aposentou pelo Campo Grande, aos 42 anos. 

Em seguida, virou funcionário da Suderj (Superintendência de Desportos do Rio de Janeiro) e foi instrutor de natação nas piscinas do Maracanã. Morreu em 2000, aos 79 anos em Praia Grande, no litoral paulista, sem posses, apesar de já ter sido o melhor goleiro da América do Sul e um dos melhores do Brasil. 

Pelé 

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Pelé ao receber o troféu “Jogador do Século”, da FIFA, em 2000. Imagem: Pelé/Instagram/Reprodução

Edson Arantes do Nascimento, ou simplesmente Pelé, é o maior ídolo do futebol brasileiro de todos os tempos — e apontado, com méritos, como o maior jogador da história do esporte. 

Nascido em 23 de outubro de 1940 na cidade mineira de Três Corações, o jovem Pelé prometeu ao pai que conquistaria o primeiro Mundial do país depois de vê-lo chorar pela derrota da seleção na Copa de 1950. 

Sua missão começou na cidade paulista de Bauru, onde foi morar com a família ainda na infância. Lá, jogou em equipes amadoras até ser contratado pelo Santos, após um teste, aos 15 anos. 

Foi no clube da Vila Belmiro que Pelé brilhou. Aos 17 anos, já ganhou o apelido de “rei do futebol” de ninguém menos que o dramaturgo Nelson Rodrigues. Ao jogar pela seleção na Copa de 1958, Pelé cumpriu a promessa que fizera ao pai anos antes: deu ao Brasil o primeiro Mundial. 

E não só isso. Ao lado de Garrincha e outros craques, Pelé ditava o compasso da seleção e elevou a equipe brasileira para a melhor do mundo. Ganhou três títulos mundiais nas quatro Copas que disputou. 

Ao longo da carreira, Pelé marcou 1.281 gols em 1.363 jogos. Ele é, até hoje, o maior goleador da história do futebol mundial. Com 82 anos, ostenta um legado fica na memória dos apaixonados pelo esporte. 

Mário Américo 

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Mário Américo posa para a Revista Placar, em junho de 1972. Imagem: Acervo pessoal/Walter Roberto Peres/Divulgação

Nos bastidores, Mário Américo foi o mais famoso massagista da história do futebol brasileiro. Natural de Monte Santo, em Minas Gerais, nasceu em 28 de julho de 1912 e sonhava em ser músico. 

Mas a vida o levou para outro caminho: ainda jovem, tornou-se lutador de boxe. A presença no esporte, em 1937, fez com que aprendesse uma nova função: a de massagista. 

Depois de estudar na Escola Nacional de Educação Física, do Exército, em 1942, trabalhou em clubes como Vasco e Portuguesa. Neste último, chegou na década de 1950 com direito a luvas no contrato. 

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O massagista da seleção brasileira, Mário Américo, em atendimento aos jogadores, data indefinida. Imagem: Acervo pessoal/Walter Roberto Peres/Divulgação

Na seleção, onde atuou de 1950 a 1974, se destacou dando apoio a técnicos e jogadores em sete Mundiais. De espírito humorado, é personagem de lendas inesquecíveis. Em 1962, roubou a bola da decisão em que o Brasil derrotou a Tchecoslováquia. 

A FIFA intimou a devolução. Américo, então, entregou uma réplica e ficou com a relíquia. Também era conhecido como “pombo-correio” por causa da rapidez com que transmitia mensagens dos treinadores aos atletas em campo. 

Mário Américo morreu em 9 de abril de 1990, aos 77 anos, em São Paulo. 

Romário

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Romário comemora a vitória do tetracampeonato na Copa de 1994. Imagem: Romário/Instagram/Reprodução

Romário nasceu no bairro de Jacarezinho, na capital carioca, em 29 de janeiro de 1966. Aos 13 anos, olheiros viram o talento do menino nas ruas da Vila da Penha. A partir daí, começou a sua carreira como jogador. 

Seu destaque como atacante logo o levou para o Vasco, aos 15 anos, onde foi campeão em todas as categorias de base. 

Estreou na equipe profissional em 1985, aos 16. Mas o auge mesmo só chegou em 1988, quando foi convocado para jogar com a seleção brasileira nas Olimpíadas de Seul. 

Apesar do Brasil ter ficado sem a medalha de ouro, Romário ganhou alcance internacional. Foi contratado pelo time holandês PSV e, anos depois, pelo Barcelona. Em 1994 voltou para a seleção, desta vez para disputar a Copa do Mundo. 

Conhecido pela personalidade forte e impulsividade, o Baixinho – que mede 1,68 m – conquistou seu espaço com gols icônicos que deram ao Brasil o tetracampeonato. Conquistou o milésimo gol em 2007, em sua última passagem pelo Vasco. 

Depois da aposentadoria, entrou na política. Aos 56 anos, hoje é vice-presidente do Senado pelo PL (Partido Liberal).

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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