Em 1972, muito antes de a internet chegar ao Brasil, estudantes e professores da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) construíram o Patinho Feio, o primeiro computador 100% brasileiro.
O projeto, até então inédito, incluía a construção da máquina apenas com peças, materiais e profissionais formados no país. Depois de 50 anos e muitos avanços tecnológicos, os criadores se reencontram na exposição do projeto pioneiro.
O Patinho Feio está instalado no SESC da Vila Mariana, na capital paulista, até 4 de novembro. Depois, ficará em outras exposições públicas até julho de 2023.
Nesses espaços, será possível conferir a máquina que abriu caminho para a tecnologia digital no Brasil. Foi com o Patinho Feio que estudantes e professores deram os primeiros passos para o nascimento da indústria de informática brasileira.
O computador foi feito do zero, não tinha telas e media quase um metro de comprimento. Suas placas de circuitos, onde ficam os componentes eletrônicos, foram feitas de plástico e papelão. Hoje, o mais comum é que sejam de fibra de vidro.
A máquina conseguia imprimir comandos e registrar códigos com uma memória de 4 KB – capacidade quase um milhão de vezes menor que a de um celular atual.
Inovação sem precedentes
Sem telas, o Patinho Feio era mais analógico que digital. Os códigos eram digitados em um teletipo (modelo de máquina de escrever). Depois, ficavam impressos em fitas de papel perfuradas com marcações na linguagem binária (0 e 1).
O código ia para o papel depois de passar pelo processamento do computador. Por isso, poderia ser lido várias vezes pelo teletipo para imprimir o desenho ou o texto que o usuário desejasse.
Apesar de ter um metro de comprimento, o computador era considerado de “pequeno porte”. “Mesmo assim, o Patinho era maior do que os computadores utilizados a bordo pela NASA nas expedições da Apollo 11 à Lua”, disse Lucas Moscato, desenvolvedor do projeto e docente aposentado da Poli-USP. Quem liderou a construção foi o professor Antônio Hélio Guerra Vieira.
A inauguração, em 24 de julho de 1972, contou com presenças ilustres como o governador de São Paulo à época, Laudo Natel; o ex-reitor da USP, Miguel Reale; e o bispo Dom Ernesto de Paula.
Salto para o futuro
Mais tarde, o Patinho Feio serviu de base para a produção do G-10, o primeiro computador comercial brasileiro, desenvolvido em parceria pela Escola Politécnica da USP, Marinha do Brasil e PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
Este é um dos maiores motivos de orgulho dos criadores do computador. Além disso, todo o projeto contou com verbas públicas da Escola Politécnica, sem participação de investidores externos.
“O Patinho Feio ajudou a formar e desenvolver a indústria de computadores no Brasil, com a criação de centenas de empresas e milhares de empregos qualificados, além de gerar bilhões de dólares para nossa economia”, disse o diretor da FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia), José Roberto Castilho Piqueira.
Depois da exposição no SESC, o Patinho Feio será levado para o Espaço USP Integração & Memória, no prédio da Reitoria da Universidade. A partir de fevereiro, ele poderá receber visitas de estudantes dos níveis fundamental e médio.