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Pedregulhos saltitantes podem ser a explicação para as faixas que vemos na lua mais feia de Marte

Marte tem duas das luas mais feias do Sistema Solar, uma delas a Fobos — uma lua de forma estranha e com marcas, apresentando também um conjunto distinto de listras. Astrônomos têm debatido a origem desses sulcos há décadas, mas uma nova simulação de computador sugere que as faixas da lua Fobos foram feitas por […]

NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona

Marte tem duas das luas mais feias do Sistema Solar, uma delas a Fobos — uma lua de forma estranha e com marcas, apresentando também um conjunto distinto de listras. Astrônomos têm debatido a origem desses sulcos há décadas, mas uma nova simulação de computador sugere que as faixas da lua Fobos foram feitas por pedregulhos rolantes e saltitantes desalojados por um asteroide cataclísmico.

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A característica mais distintiva dessa lua, além de seus sulcos, é uma gigantesca cratera de impacto conhecida como cratera Stickney. A Fobos mede apenas 27 quilômetros em seu ponto mais amplo. Ainda assim, essa cratera se estende por nove quilômetros.

Uma nova pesquisa publicada nesta semana no periódico científico Planetary and Space Science fornece evidências ligando o evento de impacto que criou a cratera Stickney aos sulcos da Fobos. Um novo modelo de computador desenvolvido por cientistas da Universidade Brown sugere que o antigo impacto atirou pedregulhos pela paisagem da lua que saltaram, rolaram e deslizaram, formando as faixas que vemos atualmente.

A teoria parece bastante intuitiva, mas há mais coisas em torno desses sulcos do que se imagina.

Por exemplo, os sulcos não são todos divergentes da cratera Stickney, como se esperaria caso tivessem sido criados pelo evento de formação da cratera. Além disso, alguns sulcos são sobrepostos a outros, o que sugere que eles se formaram em momentos diferentes. Algumas faixas percorrem a própria cratera Stickney, o que parece indicar que a cratera já estava lá quando os sulcos se formaram. E, por fim, há o chamado “ponto morto” da Fobos — uma área na lua em que não há sulcos; se os sulcos foram causados por pedregulhos saltitantes, parece estranho que todos eles tenham evitado essa área em particular.

A teoria dos pedregulhos saltitantes foi proposta pela primeira vez em 1989, mas, graças a essas observações anômalas, outras teorias conseguiram permanecer. Alguns argumentaram que impactos de asteroide enormes em Marte despejaram detritos que formaram os sulcos, enquanto outros especularam que a gravidade de Marte estaria destruindo Fobos, com os sulcos demonstrando sinais de falha estrutural.

Modelos computacionais mostrando os possíveis caminhos dos pedregulhos rolantes na Fobos depois do impacto que formou a cratera Stickney. Imagem: K. Ramsey & J. W. Head

Com a verdadeira causa dessas faixas ainda em dúvida, os cientistas planetários da Universidade Brown Kenneth Ramsley e James Head decidiram testar a teoria do pedregulho saltitante por meio de uma simulação de computador do antigo impacto de asteroide. O modelo usado levou em consideração a gravidade insignificante da Fobos, junto com sua topografia distorcida, sua rotação e sua relação orbital com Marte. Ramsley e Head não tinham noções preconcebidas do que a simulação poderia mostrar.

“O modelo é realmente apenas um experimento que executamos em um notebook”, disse Ramsley em um comunicado. “Colocamos todos os ingredientes básicos, então pressionamos o botão e vemos o que acontece.”

Observando a simulação se desdobrar, os pesquisadores viram como os detritos se moviam para fora a partir do local do impacto, com os pedregulhos se alinhando em conjuntos de caminhos paralelos — uma observação consistente com os conjuntos de sulcos paralelos observados na Fobos.

No entanto, devido à fraca gravidade da lua, alguns dos pedregulhos continuaram rolando e saltando. Na verdade, alguns pedregulhos rolaram por tanto tempo que viajaram por Fobos — e continuaram viajando. A observação impressionante de pedregulhos circunavegantes poderia explicar por que alguns sulcos não estão alinhados radialmente à cratera e por que alguns estão sobrepostos aos outros. As simulações também mostraram alguns pedregulhos retornando ao seu ponto de origem, o que poderia explicar por que os sulcos podem ser vistos dentro da cratera Stickney.

Simulação mostrando como os pedregulhos dão um salto enorme sobre uma área específica da lua Fobos. Imagem: K. Ramsey & J. W. Head

Os modelos forneceram também uma explicação para o ponto morto. Essa região de baixa elevação é cercada por áreas de maior elevação. Observando a simulação, os pesquisadores viram os pedregulhos atingindo a beira e, literalmente, dando um salto sobre o ponto morto, ficando no ar por um longo período e, finalmente, pousando do outro lado.

“É como um salto de esqui”, disse Ramsley. “Os pedregulhos continuam indo, mas, de repente, não tem mais chão debaixo deles. Eles acabam fazendo esse voo suborbital sobre essa zona.”

Ramsley e Head dizem que seu novo modelo “traz um argumento convincente” ao explicar a origem da maioria dos, se não de todos, sulcos na lua Fobos. Claro, isso é apenas um modelo de computador. Por isso, seria bom corroborar essas descobertas com outras formas de dados, como uma análise geológica. Também seria bom ver outros pesquisadores replicarem essas descobertas com suas próprias simulações de computador, já que algumas das variáveis usadas nas simulações podem ter sido enviesadas ou de alguma forma imprecisas.

Independentemente disso, a teoria do pedregulho saltitante está surgindo como a explicação mais plausível para os sulcos distintivos da lua. É uma teoria legal, mas a Fobos, junto com sua companheira Deimos, ainda é feia demais.

[Planetary and Space Science]

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