Você com certeza já deve ter visto na prática como funcionam as deepfakes — o uso de rostos falsos de pessoas reais e que vem ganhando força com exemplos de atrizes e atores, um dos mais recentes sendo do astro Tom Cruise. Mas sabia que as deepfakes não estão restritas apenas a pessoas? Como se já não bastasse a gravidade disso, elas agora estão sendo utilizadas para falsificar a geografia.
Essa é a constatação de um grupo de pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que encontraram uma maneira de gerar fotografias deepfake de imagens de satélite, como parte de um esforço para detectar fotos manipuladas.
A equipe de pesquisadores usou um algoritmo de inteligência artificial para gerar as deepfakes geográficas, alimentando as características observadas em imagens reais capturadas por satélite. Depois, foi possível usar os dados coletados para detectar a geografia verdadeira do local monitorado pelo satélite analisando características como textura, contraste e cor. A tecnologia é bem parecida àquela usada em programas como ThisPersonDoesNotExist.com, um site que utiliza imagens públicas de milhões de pessoas ao redor do mundo para criar indivíduos que não existem.
Bo Zhao, principal autor do estudo, afirma que, até o momento, a tecnologia tem sido usada positivamente para tornar os satélites mais eficazes e precisos. De acordo com o pesquisador, é possível simular locais do passado para mudar a entender como alguns fatores, entre eles a mudança climática e a expansão urbana, alteraram aquele ambiente ao longo dos anos.
Em contrapartida, Zhao conta em entrevista ao The Verge que já existe um sinal amarelo quanto ao uso indiscriminado dessa inteligência artificial para gerar imagens falsas. Inclusive, esta seria a primeira grande pesquisa a tratar sobre o uso das deepfakes em geografia. “O objetivo é desmistificar a função de confiabilidade absoluta das imagens de satélite e aumentar a consciência pública sobre a potencial influencia de uma falsa geografia profunda”, disse.
Entre os exemplos citados por Zhao, o pesquisador acredita que pessoas e até mesmo governos de alguns países poderiam criar deepfakes geográficas para enganar a mídia e seus cidadãos. Elas poderiam ser usadas por nações negacionistas para criar boatos sobre incêndios florestais ou inundações. Ou o efeito inverso: tirar o crédito de histórias reais baladas em imagens de satélite.
Os pesquisadores esperam que o relatório ajude os geógrafos a desenvolverem sistemas mais apurados para capturar falsas imagens de satélites, assim como já acontecem para desmascarar deepfakes humanas. Segundo a equipe, não se pode mais ignorar a falsificação geográfica para que não entremos em uma “distopia de falsa geografia”.