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Pesquisadores descobrem fósseis mais antigos de dinossauros em rebanho

Ossadas de quase 80 dinossauros e 100 ovos foram descobertos num sítio arqueológico na Argentina. E isso revela hábitos surpreendentes de grandalhões pescoçudos que viveram ali há 192 milhões de anos.

Um sítio arqueológico que reúne restos mortais de dezenas de indivíduos (de várias faixas etárias) é a primeira evidência de que dinossauros de pescoço longo e quatro patas viviam em rebanhos. Os detalhes da descoberta foram publicados na última quinta-feira (21) na revista científica Scientific Reports.

“Este novo sítio de fósseis é impressionante”, escreveu por e-mail ao Gizmodo US Steven Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo, na Suécia, que não estava envolvido no novo estudo. “Esta é uma evidência convincente de que esses dinossauros herbívoros eram sociais e formaram grupos, cuidando de seus ovos e filhotes.”

Uma equipe liderada por Diego Pol, do Museu de Paleontologia Egidio Feruglio, na Argentina, descobriu os fósseis na Formação Laguna Colorada, na Patagônia. Eles pertencem à espécie Mussaurus patagonicus — um saurópode de pescoço longo do Jurássico Inferior que se apoiava em quatro patas. Nos últimos 15 anos, o time conduziu pesquisas e escavações no local do fóssil, resultando na descoberta de mais de 100 ovos e quase 80 esqueletos de Mussaurus.

Os fósseis, dispersos por um terreno fértil, permitem recriar todo o ciclo de vida dos dinossauros — desde embriões ainda guardados dentro dos ovos até adultos totalmente crescidos. Incrivelmente, os restos foram agrupados em grupos específicos de idade — um sinal de que esses herbívoros gigantescos viviam em rebanhos. Com uma idade estimada de 192 milhões de anos, os fósseis são 40 milhões de anos mais antigos do que as evidências que se tinha até então sobre esse comportamento social complexo entre dinossauros. 

“Os espécimes que encontramos mostraram que o comportamento de rebanho estava presente em dinossauros de pescoço comprido desde o início de sua história”, explicou Pol em um e-mail ao Gizmodo. “Esses eram animais sociais e achamos que isso pode ser um fator importante para explicar seu sucesso.”

O terreno fértil compartilhado do Mussaurus estava localizado às margens de um lago seco. O clima era quente, mas as evidências de seca apontam para uma possível causa de morte e uma razão pela qual alguns dos dinossauros foram soterrados pela poeira levada pelo vento.

A maioria dos ovos foi agrupada em grupos contendo de oito a 30 ovos e colocados ao longo de uma série de trincheiras que sugeriam um terreno fértil comum. A imagem de raios-X foi usada para identificar os embriões como pertencentes ao Mussaurus.

A análise dos esqueletos fossilizados revelou a presença surpreendente de grupos com idades específicas, incluindo um agrupamento de 11 jovens (todos com menos de um ano de idade), um grupo de nove adolescentes e dois adultos. A descoberta de agrupamentos específicos por idade é uma evidência potencial de que os indivíduos do Mussaurus viviam em rebanhos, que o faziam durante toda a vida e que preferiam andar ao lado de membros da mesma idade. Pedi a Pol que explicasse a presença de agrupamentos específicos por idade.

“O Mussaurus era minúsculo quando nasceu — o esqueleto inteiro cabe na palma de uma mão — mas os adultos pesavam 1,5 tonelada, que é quase o peso de um hipopótamo”, respondeu ele. “Os padrões de movimento diário, velocidade e a forma como buscam por alimentos eram provavelmente muito diferentes em recém-nascidos, jovens e adultos.” Ele disse que é comum animais do mesmo tamanho se reúnam e coordenarem suas atividades. Isso vale especialmente “para jovens que são pequenos, inexperientes e, portanto, mais vulneráveis ​​a ataques de predadores”.

Esse comportamento social complexo pode ter surgido como consequência do aumento do tamanho do corpo, que teve início entre os saurópodes entre 227 e 208 milhões de anos atrás. Esses dinossauros, para atender às suas tremendas necessidades de energia, tiveram que procurar por comida por longas distâncias, o que exigiu um novo conjunto de habilidades sociais adaptativas, de acordo com o estudo.

Reconstrução artística do viveiro de Mussauro patagonicus. Imagem: Jorge Gonzalez

Ryan Felice, pesquisador da University College London que não estava envolvido na pesquisa, descreveu-a como uma “descoberta realmente empolgante”. Como ele explicou, os paleontólogos já sabiam que os dinossauros não-aviários eram bons pais, como evidenciado por grupos de ninhos pertencentes ao dinossauro cretáceo Maiasaura — um nome que significa literalmente “lagarto boa mãe”.

“A partir desses tipos de descobertas, podemos inferir que esses animais tinham uma estratégia reprodutiva semelhante aos crocodilos hoje — a mãe protege os bebês quando eles são muito pequenos, mas uma vez que eles podem cuidar de si mesmos, a família se separa e todos seguem seus próprios caminhos,” disse Felice. “O que torna esta descoberta tão emocionante é que existem filhotes, jovens e adultos totalmente crescidos de Mussaurus, todos no mesmo lugar. Isso significa que grupos multifamiliares se reuniram não apenas para reprodução, mas que potencialmente formaram rebanhos para toda a vida — algo parecido com os elefantes ou gnus de hoje.”

ninhos com ovos de Mussaurus. Imagem: Diego Pol

O que torna a nova descoberta especialmente importante é que o Mussaurus é uma espécie de dinossauro bastante antiga, “então os autores levantaram a hipótese de que, talvez, os grupos sociais e o cuidado dos pais fossem coisas que evoluíram no início da história dos dinossauros”, disse Felice.

“Parece que os dinossauros foram animais altamente sociais desde o início, o que pode ter contribuído para seu estupendo sucesso evolutivo”, explicou Brusatte.

Olhando para o futuro, Pol e seus colegas continuarão a inspecionar o local na esperança de obter uma melhor compreensão dos ninhos e de como eles foram estruturados, juntamente com a busca por evidências de predadores e plantas consumidas pelo Mussaurus.

 

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