Na constelação Centaurus, a 320 anos-luz de distância, encontramos um dos planetas mais estranhos até agora. Ele é quatro vezes maior do que Júpiter e sua translação — ao redor de um dos seus três sóis — demora duas vezes mais do que a de Plutão.
Ele foi encontrado por uma equipe de astrônomos do European Southern Observatory (ESO), utilizando um novo equipamento do Very Large Telescope (VLT). Batizado de HD 131399Ab, ele possui um sistema solar complexo, que abriga três estrelas; é o segundo planeta do tipo descoberto.
E ao contrário do primeiro exoplaneta com triplo sistema solar, o HD 131399Ab sofre influência gravitacional das três estrelas ao seu redor. Os cientistas ainda não sabem o quão estável o sistema descoberto é no longo prazo.
“Eu arriscaria dizer que essa é a órbita mais estranha de todos os exoplanetas que já encontramos”, disse Kevin Wagner, astrônomo da Universidade do Arizona e líder do estudo publicado hoje na revista Science, ao Gizmodo. “Não conhecemos nenhum outro sistema solar numa configuração como essa”, completou.
Descobrindo exoplanetas
Embora os astrônomos já tenham descoberto centenas de exoplanetas pelo método de trânsito, apenas alguns deles foram capturados por “formação direta de imagem”. Realizar tal façanha é tão difícil como tentar ver um vaga-lume em um farol a mais de 1500 quilômetros de distância. Os únicos exoplanetas que conseguimos registrar por formação direta de imagem são maiores que Júpiter e possuem uma órbita similar ou um pouco mais larga, onde o brilho do seu sol é menos intensa.
Com a evolução dos equipamentos, podemos enxergar uma maior diversidade de exoplanetas, incluindo alguns sistemas com mais de um sol.
Em 2014 o VLT ganhou o SPHERE, um equipamento que possui um sistema óptico adaptativo para cancelar a distorção da atmosfera da Terra. Além disso, foi adicionado um coronógrafo, que bloqueia a luz das estrelas. Essas ferramentas foram fundamentais para que os astrônomos observassem o novo planeta.
O triplo sistema solar
O HD 131399Ab orbita ao redor de uma estrela central denominada 131399A, que possui 1,8 vez a massa do Sol, e é orbitada por um segundo sistema solar duplo. Nesse sistema duplo uma estrela menor circula à volta da maior. O planeta leva 550 anos terrestres para completar uma translação. O vídeo abaixo, em inglês, ilustra a descoberta:
“Todas essas estrelas influenciam a força gravitacional que atua sobre planeta, isso faz com que ele tenha uma órbita irregular que está constantemente se alterando” disse Wagner.
Ainda não sabemos se essa competição gravitacional entre as três estrelas fará com que o planeta seja destruído ou ejetado do sistema. Em termos cósmicos, HD 131399Ab ainda é jovem, com 16 milhões de anos. O fato dele ter sobrevivido até agora sugere que podem existir outros planetas como esse. Alguns poderiam ser menores, rochosos e habitáveis.
“Achamos que [planetas com três sois] não será comum, ou pelo menos não em um cenário extremo como esse” disse Wagner. Estudar esses sistemas irá expandir nosso conhecimento sobre as condições em que planetas se formam e migram.
Wagner irá continuar estudando a órbita do HD 131399Ab para determinar se o planeta permanecerá estável no longo prazo. Seu destino ainda é uma dúvida, assim como as chances de existirem outros planetas com um triplo sistema solar.
Isso, no entanto, não nos impede de imaginar como seria viver num planeta como esse.
“Quando as estrelas não estivessem em eclipse, veríamos três sóis no céu. E conforme a translação avançasse, uma estrela começaria a raiar quando a outra se pôr” disse Wagner.
Ou seja, haveriam duas estações: uma com três alvoradas e pores-do-sol todos os dias, e outra com a luz do dia perpétua, onde uma estrela sempre substituiria a outra.
Vídeo por Mandy Mandelstein