É preciso plantar um trilhão de árvores para combater o aquecimento global, diz pesquisa
As árvores são benéficas em muitos sentidos; elas fornecem sombra para piqueniques e habitat para os animais, por exemplo. Mas elas também são uma grande parte dos esforços para combater as mudanças climáticas, sugando o dióxido de carbono do ar.
Novas descobertas foram publicadas na última quinta-feira (4) na revista Science mostrando quão importante é o papel que elas podem exercer em mitigar as mudanças climáticas, calculando a “capacidade da Terra em abrigar árvores”. Atualmente, estima-se que existam 44 milhões de quilômetros quadrados de cobertura florestal em nosso planeta, ou 3 trilhões de árvores – o que é um número muito maior do que os 400 bilhões estimados pela NASA, como observa a CNN. Ainda assim, há espaço suficiente para adicionar mais 9 milhões de quilômetros quadrados de árvores – um pedaço de terra do tamanho dos EUA e que equivaleria a 1,2 trilhões de árvores, para absorver ainda mais carbono. Há apenas um pequeno problema: as mudanças climáticas podem tornar a vida em certas partes do globo inóspita para algumas dessas novas árvores, particularmente nos trópicos.
Apesar das árvores estarem em quase toda parte, descobrir o quanto de cobertura de árvores o planeta tem é uma tarefa bastante desafiadora. A Organização para Agricultura e Alimentação define a floresta como qualquer área com mais de 10% de cobertura de árvores. E a melhor maneira de realmente ver o quanto de cobertura de árvores existe é usando dados de satélite, que é exatamente no que o estudo se baseou.
Usando o software de acesso aberto Collect Earth para reunir imagens de satélite, os pesquisadores tiraram 78.774 fotos de satélite da área florestal. Eles analisaram especificamente as áreas protegidas e os locais com atividade humana limitada para evitar a inclusão de parques, fazendas e outros usos da terra que podem parecer com florestas, mas não são na realidade. Eles alimentaram todos esses dados, além de 10 outras variáveis, registrando o clima e o solo através de um modelo para estimar a cobertura atual das árvores, e as áreas onde ela poderia ser expandida. Os resultados mostram que uma área do mundo equivalente à Rússia, Canadá, Estados Unidos e Austrália – ou quase um terço de toda a área terrestre do mundo – é coberta por florestas.
Mais de 31 milhões de quilômetros quadrados de terra poderiam hospedar mais florestas de acordo com o estudo, mas dado que precisamos daquela terra para plantações e lugares para morar, apenas 9 milhões de quilômetros quadrados dessas terras são realmente adequadas para cobertura florestal. Os quatro principais lugares preparados para o reflorestamento são a Rússia, os EUA, o Canadá e a Austrália, todos países desenvolvidos e, no caso dos três primeiros, abrigam uma parte da vasta floresta boreal que circunda a região norte do mundo. O Brasil e a China também estão na lista e, juntos, esses seis países contêm 50% da área onde as florestas poderiam crescer novamente.
Com base no que sabemos sobre as florestas, isso armazenaria mais de 205 gigatoneladas de carbono à medida que as árvores crescessem até a maturidade. Em comparação, o mundo emitiu 37,1 gigatoneladas de dióxido de carbono no ano passado. As florestas recém-plantadas ofereceriam uma enorme contribuição em absorver novas emissões e a poluição de carbono que nós liberamos comprometendo a atmosfera.
“A restauração dos ecossistemas que poderiam sustentar as árvores é nossa principal arma para combater as mudanças climáticas”, disse Jean-François Bastin, principal autor do estudo da ETH-Zürich. “Restaurando as áreas potenciais disponíveis, poderíamos armazenar cerca de um quarto da quantidade atual de carbono presente na atmosfera”.
Isso ajudaria a combater as mudanças climáticas, além de proporcionar outros benefícios, desde a recreação até a restauração do habitat. O estudo tem uma ressalva, no entanto. Os pesquisadores modelaram dois cenários climáticos – um em que as emissões aumentam rapidamente e outro onde elas atingem o pico em meados do século e começam a declinar – para ver como essas áreas seriam habitáveis para as árvores. Acontece que, embora a floresta boreal provavelmente se saia bem, é provável que a cobertura de árvores diminua nos trópicos à medida que o clima se aquece. A Amazônia está particularmente em risco, já que também deve secar. No geral, a capacidade da Terra em abrigar árvores seria menor e, com isso, também as chances de evitar consequências severas das mudanças climáticas.
A notícia ainda mais sombria é que as taxas de desmatamento na Amazônia estão subindo sob o mandato do presidente de direita Jair Bolsonaro. A política adotada por ele em relação ao meio-ambiente tem se mostrado confusa, com declarações e ações contraditórias. Já antes da posse, Bolsonaro havia declarado a sua intenção em extinguir o Ministério do Meio Ambiente e deixar o Acordo de Paris. No entanto, o atual presidente voltou atrás. Ainda assim, o ministério foi enfraquecido e ele não parece disposto a cumprir as metas estabelecidas no acordo, com o contingenciamento de 95% das verbas destinadas ao combate das mudanças climáticas, a extinção da Secretaria de Mudanças do Clima, demissão de 21 dos 27 superintendentes do Ibama, entre outras medidas.
O desmatamento da floresta tropical também continua em outros lugares, e incêndios maciços estão engolindo as florestas do norte do mundo graças ao aumento das temperaturas. Em suma, a humanidade está indo na direção errada.
Mas se há um lado positivo nessa história, é que conhecemos as soluções. O novo estudo fornece mais um incentivo para começar a reduzir a poluição por carbono agora, em vez de mais tarde, e manter a capacidade da Terra em abrigar árvores cada vez maior. E isso mostra onde podemos concentrar os esforços de conservação para maximizar os benefícios climáticos.