Um poluente em peixes e frutos do mar prejudica as defesas do corpo humano
Alguns dos nossos frutos do mar favoritos vêm com uma dose desagradável de metais pesados, como o mercúrio, e existe outro grupo de produtos químicos que às vezes contamina peixes como o atum.
Eles se chamam poluentes orgânicos persistentes (POPs) e obstruem o sistema de defesa química do corpo humano, segundo uma nova análise publicada na revista Science Advances.
O estudo examinou como dez POPs encontrados no atum e em fluídos corporais humanos (sangue e urina) interagem com uma proteína que transporta toxinas indesejadas para fora de nossas células. Os resultados sugerem que até mesmo a ingestão de quantidades muito pequenas de POPs pode causar danos ao corpo.
“Estes produtos químicos interferem em nosso sistema de defesa química, o que pode nos tornar mais vulneráveis a toxinas”, diz Amro Hamdoun, biólogo do Instituto Scripps de Oceanografia e principal autor do estudo, ao Gizmodo.
Os POPs são conhecidos há um bom tempo. Um dos mais infames, o pesticida DDT, foi desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial e proibido na década de 1970 nos EUA. (No Brasil, ele foi banido para uso agrícola em 1985, e proibido totalmente só em 2009.) No entanto, outros POPs – incluindo os retardadores de chama e revestimentos antiaderentes – ainda são amplamente usados hoje.
Embora estes produtos químicos sejam bastante úteis em muitas aplicações, eles são o pesadelo de um toxicologista. Eles degradam muito devagar no meio ambiente, se acumulam em tecidos biológicos, e vêm sendo associados à obesidade e a problemas no desenvolvimento neural.
Moléculas como agentes de segurança
O estudo de Hamdoun lança nova luz sobre a toxicidade dos POPs, demonstrando pela primeira vez exatamente como estes produtos químicos desligam um sistema-chave de defesa celular.
Normalmente, moléculas estranhas são expulsas de nossas células por um transportador especial conhecido como glicoproteína-P (gpP). “A gpP é meio semelhante a um agente de segurança”, disse Hamdoun. “Inicialmente, pensamos que estes produtos químicos passam pelo segurança. No entanto, descobrimos que eles formam interações muito próximas com a gpP.”
Testes de laboratório revelaram que dez dos POPs mais difundidos se ligam fortemente a esta proteína protetora, inibindo a capacidade de fazer o seu trabalho. Mesmo em níveis em que os POPs não apresentam perigo, “eles interferem com os sistemas e vias que evoluíram para nos proteger”, diz Hamdoun.
Foto de um atum usado nos testes (Lindsay Bonito/Scripps Oceanography)
Os níveis de POPs no ambiente estão em declínio. Mas o oceano é um lugar grande, e a indústria deixa um longo legado. “Basicamente, ainda existem reservatórios deles no oceano”, diz Hamdoun. “E nós ainda estamos sendo expostos a eles através do consumo de frutos do mar.”
Quais os tipos de frutos do mar, e quais partes do oceano estão mais contaminadas, é algo que Hamdoun e seus colegas ainda estão tentando descobrir. Mas sabemos o suficiente para começar a tomar algumas precauções de senso comum, incluindo testes de rotina de frutos do mar e acompanhamento de estoques potencialmente contaminados.
“A boa notícia é que podemos reduzir essa exposição monitorando de onde eles [peixes contaminados] vêm”, diz Hamdoun. “A má notícia é que nós não fazemos isso ainda.”
Os frutos do mar são tipicamente uma fonte de proteína muito saudável, e apenas uma pequena fração deles tem chance de trazer níveis preocupantes de retardadores de chama e pesticidas. Mas distribuidoras de alimentos e agências reguladoras devem ficar atentas e avisar isso aos consumidores.
“Estes compostos permanecem no meio ambiente por muito tempo”, diz Hamdoun. “Nós ainda vemos peixes com níveis tão elevados como há 30 a 40 anos. Precisamos encontrar esses peixes, encontrar os produtos alimentares, e reduzi-los ou eliminá-los no fornecimento de alimentos.”
[Scripps Institution of Oceanography at UC San Diego]
Foto por Wikimedia