Poluição por CO2 pode facilitar transmissão de Covid-19, diz estudo
Que a presença de dióxido de carbono no ar faz mal para a saúde humana, a ciência já sabia. Mas que a concentração de CO2 na atmosfera também pode prolongar a vida de vírus que se espalham por gotículas no ar — como o SARS-CoV-2 (da Covid-19) — é novidade.
É o que aponta um novo estudo publicado na revista Nature Communications. De acordo com a pesquisa, o CO2 faz com que o vírus sobreviva por mais tempo no ar e, assim, aumenta o risco de transmissão.
“Sabíamos que o SARS-CoV-2, como outros vírus, se espalha pelo ar que respiramos. Mas este estudo representa uma grande descoberta em nossa compreensão exata de como e por que isso acontece, e, crucialmente, o que pode ser feito para impedir”, explica Allen Haddrell, autor principal do estudo.
Entenda a pesquisa
Para o estudo, os pesquisadores desenvolveram uma tecnologia de bioaerossol chamada CELEBS (Levitação e Extração Eletrodinâmica Controlada de Bioaerossóis em um Substrato, da sigla em inglês). A metodologia permitiu que os cientistas medissem a sobrevivência de diferentes variantes do SARS-CoV-2 em partículas aerossóis geradas em laboratório. Na prática, ela imita o aerossol exalado no ar.
Então, eles realizaram experimentos variando a concentração de CO2 no ar entre 400 partes por milhão, que é o nível normal no ar livre, e 6.500 ppm. Em uma simulação de concentração de CO2 de três mil ppm, por exemplo, 10 vezes mais vírus permaneceram infecciosos após 40 minutos em comparação com o ar limpo.
Por enquanto, as projeções climáticas indicam que a concentração de CO2 na atmosfera deverá ultrapassar 700 ppm até o final do século. Por isso, para Haddrell, o estudo auxilia na compreensão do motivo de episódios de supertransmissão da Covid-19 acontecerem em certas circunstâncias.
“O pH elevado de gotículas exaladas contendo o vírus SARS-CoV-2 provavelmente é um dos principais fatores da perda de infectividade. O CO2 se comporta como um ácido quando interage com as gotículas. Isso faz com que o pH das gotículas se torne menos alcalino, resultando na inativação do vírus nelas a uma taxa mais lenta”, explica.
Além disso, os pesquisadores também descobriram que diferentes variantes do SARS-CoV-2 tinham aerostabilidades diferentes. Em geral, a última variante Ômicron teve uma vida útil prolongada.
Avanço na ciência
Para os autores do estudo, as descobertas sobre a poluição de CO2 têm implicações na compreensão da transmissão da Covid-19 e outros vírus respiratórios.
“Mostra que abrir uma janela pode ser mais poderoso do que se pensava originalmente, especialmente em salas lotadas e mal ventiladas, pois o ar fresco terá uma concentração mais baixa de CO2, fazendo com que o vírus seja inativado muito mais rápido”, comenta Haddrell.
Mas eles acreditam que a pesquisa é mais ampla e ajuda a compreender como as mudanças no ambiente podem aumentar a probabilidade de futuras pandemias.