Não é preciso muito para deixar algumas cidades irritadas. Mas em Londres, um tipo especial de polêmica sobre um projeto não parece fazer muito sentido: uma passarela sobre o Rio Tâmisa. Por quê?
A Garden Bridge é vendida como um “lugar encantando”, uma “bela engenharia de estrutura de cobre-níquel” que é abrigo para um jardim de 365 m. A ideia é encabeçada pela atriz Joanna Lumley e projetada pelo arquiteto Thomas Heatherwick. No entanto, um artigo recentemente publicado no Guardian expôs comentários sobre a ponte que variam de “uma bela ideia feita no lugar errado e por pessoas erradas” a “uma porcaria”.
E por quais motivos estas pessoas se opõem a esta ideia?
Na verdade, eles têm bons argumentos. Londres passa por uma crise de déficit habitacional, e o sistema de transporte público da cidade está envelhecendo rapidamente. A ponte de 365 m, que originalmente seria paga pelo investido privado, irá custar cerca de US$ 300 milhões para construir — e US$ 91 milhões do valor total será pago pelo governo.
Além disso, ela não é exatamente uma ponte pública: ela será aberta apenas para pessoas a pé — em grupos de oito ou menos — e fechará à meia noite. Críticos dizem que este projeto é uma mera ideia vinda de celebridades ricas que se transformou em uma megalomania caríssima, e será paga por uma cidade que precisa de infraestrutura nova — não uma passarela de US$ 300 milhões.
Inclusive, essa dinâmica não é única a Londres. Em Nova York, existe um projeto similar em produção — projetado pelo mesmo arquiteto, Thomas Heatherwick.
Exceto que não se trata de uma ponte, mas do Pier 55, uma ilha artificial de 1 hectare próxima a Manhattan, que funcionará como um parque semi-público e um centro de entretenimento. E ao invés de Joanna Lumley, ele é encabeçado pelo bilionário Barry Diller e pela designer de moda Diane von Furstenberg. A ilha custará US$ 170 milhões, dos quais US$ 40 milhões serão pagos pela cidade. A construção do projeto está prevista para começar em 2016.
Ambos os parques representam um dilema interessante as cidades: por um lado, ambos são um bom sinal — mostram que mais pessoas estão interessadas em espaços urbanos, e a habilidade das cidades em criar parcerias que impulsionam o desenvolvimento e a renovação urbana. Quem é que não quer mais parques?
Por outro lado, deveríamos ceder aos caprichos de alguns poucos ricos que querem ditar como a cidade deve crescer? Em fevereiro, Inga Saffron, jornalista ganhadora do prêmio Pulitzer de 2014, mostrou que o custo do Pier 55 é o valor total para melhorar 35 parques antigos dos bairros mais pobres da cidade de Nova York, como mostra a New Republic:
A “ilha do bilionário”, como alguns nova iorquinos chamam o projeto, é o exemplo mais recente e mais extremo de como ricos e a elite ditam a forma como parques dos EUA são financiados, aumentando as diferenças entre bairros ricos e pobres.
Em Londres, o caso parece ser o mesmo. O Guardian conversou com Will Hurst, um arquiteto crítico ao projeto, que diz que a ponte “driblou as regras normais de planejamento e consecução” no qual um projeto público-privado é criado, enquanto projetos de infraestrutura mais importantes ficam sem financiamento.
Claro, deixar um legado visível é muito mais atraente para um doador rico do que gastar o mesmo dinheiro melhorando parques já existentes, sistemas de trens ou subsidiando o custo da passagem de ônibus. Eles querem criar ilhas inteiras, não apenas pequenas melhorias.
É um mundo novo para o planejamento urbano. É ótimo que bilionários queiram escrever o próprio capítulo na história urbana, mas eles deveriam ter carta branca para isso – seja em Nova York, Londres ou qualquer outro lugar?