Cientistas talvez tenham descoberto por que alguns icebergs são verdes

Cientistas suspeitam que os minerais de óxido de ferro são responsáveis por dar aos icebergs sua coloração típica do Dia de São Patrício
AGU/Journal of Geophysical Research

Na balada inglesa do século 18 “The Rime of the Ancient Mariner”, uma tempestade conduz um navio de marinheiros em direção ao Polo Sul, onde eles encontram todo tipo de paisagens fantásticas, incluindo icebergs flutuantes “tão verdes quanto esmeralda“. Pode parecer que o autor Samuel Coleridge estava tomando alguma licença poética, mas os icebergs coloridos de esmeralda são uma coisa real — e mais de 200 anos depois de a balada ter sido escrita, cientistas talvez saibam o que os causa.

Um estudo publicado recentemente no Journal of Geophysical Research: Oceans revisita o mistério de longa data dos icebergs verdes, que os capitães do mar vêm relatando há quase um século, se não mais. Embora os primeiros trabalhos dos mesmos autores sugerissem que os icebergs verdes obtinham sua coloração a partir do carbono, novos dados os fizeram revisar seu pensamento. Agora, eles suspeitam que os minerais de óxido de ferro são responsáveis por tingir os icebergs para parecer que eles estão prontos para uma festa do Dia de São Patrício.

Se isso for verdade, esses icebergs ricos em ferro podem representar uma fonte importante de um nutriente crucial para o vasto Oceano Antártico, que circunda a Antártida.

“Há muito interesse em saber de onde vem o ferro (no Oceano Antártico)”, disse ao Gizmodo o autor principal do estudo, Steve Warren, geofísico e professor emérito da Universidade de Washington. “Se ele pode entrar no gelo marinho, esses icebergs podem viajar centenas de quilômetros.”

A experiência de Warren com icebergs verdes data de 1988, quando ele se juntou a uma expedição australiana à Antártida como parte de seu primeiro período sabático. Por “sorte”, quando a tripulação chegou à estação de pesquisa Mawson, no lado oeste da Plataforma de Gelo Amery, da Antártida Oriental, eles atracaram bem perto de um iceberg bastante impressionante que tinha ficado preso no gelo marinho.

Um iceberg parcialmente virado, incluindo gelo marinho azul profundo e gelo glacial branco. Foto: Collin Roesler

O iceberg, explicou Warren, era verde jade e notavelmente claro. Sua clareza revelou aos pesquisadores que eles estavam lidando com gelo marinho, ou seja, gelo que se forma a partir da água do mar congelada no fundo de uma plataforma de gelo flutuante. Embora o gelo glacial que se forma sobre a terra por meio da compactação da neve seja opaco graças à presença de inúmeras bolsas de ar, o gelo marinho não contém bolhas de ar que refletem a luz, tornando-o transparente.

Normalmente, o gelo marinho assume uma cor azul profundo, refletindo a distância que os fótons de luz devem percorrer antes de serem absorvidos. Claramente, havia algo a mais presente neste iceberg de cor jade. Amostras do iceberg foram coletadas, analisadas em laboratório, e descobriram que elas continham matéria orgânica dissolvida (DOM, na sigla em inglês), que pode produzir cores verdes e amarelas ao longo das costas enquanto os rios despejam minúsculos pedaços de matéria orgânica no mar. Assim, os pesquisadores levantaram a hipótese de que a DOM era a responsável.

Porém, em 1996, surgiu um pequeno problema nessa história, quando Warren retornou a uma parte diferente da Plataforma de Gelo Amery para seu segundo período sabático, mais uma vez se vendo confrontado com uma geleira de tonalidade incomum. Esta era uma mistura de gelo marinho azul, verde e verde-amarelado, coberta de gelo glacial branco. Quando o iceberg foi analisado, descobriu-se que ambos os gelos verde e azul tinham níveis semelhantes de matéria orgânica dissolvida, sugerindo que algo mais havia sido responsável pela diferença de cor.

“Foi uma preocupação irritante sobre a qual não sabíamos o que fazer, até que, dois anos atrás, um estudo foi publicado na Tasmânia mostrando grandes quantidades de ferro” em gelo marinho coletado do fundo de um buraco de perfuração, explicou Warren.

Warren e seus colegas agora supõem que os minerais de óxido de ferro são os culpados por trás dos icebergs verdes encontrados. Se for verdade, esses minerais com ferro são provavelmente o resultado da “farinha glacial”, basicamente poeira formada pela erosão do leito rochoso.

A glacióloga do Instituto Scripps de Oceanografia, que estudou a camada de gelo marinho da Plataforma de Gelo Amery como parte de seu trabalho de doutorado e responsável por encontrar os icebergs cor de esmeralda, disse que o novo estudo oferecia um “mecanismo possível e plausível” para explicar a sua coloração.

“A água da plataforma de gelo (que forma o gelo marinho) veio da linha de aterramento”, disse Fricker, referindo-se ao ponto em que uma geleira salta da rocha a que está ligada e se torna uma plataforma de gelo flutuante. “Muito dele provavelmente ainda tem sedimentos.”

Ainda assim, é preciso investigar mais para ter certeza de que esses picolés gigantes têm sabor de ferro. Warren disse que ele e seus colegas apresentaram uma proposta para viajar de volta para a Plataforma de Gelo Amery em busca de mais icebergs cor de jade na próxima primavera norte-americana. Ele tem esperança de que seu valor potencial — como uma espécie de suplemento dietético de apoio à cadeia alimentar do Oceano Antártico — ajude o grupo a garantir uma doação.

Afinal, se esse palpite estiver correto, uma alteração induzida pela mudança climática no número de icebergs verdes existentes poderia ter consequências de longo alcance.

“A razão pela qual talvez possamos obter o financiamento é que eles (os icebergs verdes) podem realmente ser importantes”, disse Warren.

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