_Animais

O que diz a última pesquisa sobre por que os cães comem seu próprio cocô

Isso deixa malucos os donos de cães. Você sai para uma caminhada agradável com sua companhia canina e, por causa de um idiota que não pegou o cocô do seu próprio cão, um cocô quente e fresquinho está logo ali na calçada. Antes que tenha tempo para reagir, você assiste horrorizado o seu suposto melhor […]

Isso deixa malucos os donos de cães. Você sai para uma caminhada agradável com sua companhia canina e, por causa de um idiota que não pegou o cocô do seu próprio cão, um cocô quente e fresquinho está logo ali na calçada. Antes que tenha tempo para reagir, você assiste horrorizado o seu suposto melhor amigo atacar o cocô, devorando-o num piscar de olhos.

• Treta em alto mar: estudo descreve primeira morte de golfinho asfixiado por polvo
• Morte repentina de 200 mil antílopes em 2015 ocorreu graças ao aquecimento global

Mas por quê? Sério, por quê?

O que poderia possivelmente fazer um cachorro a comer o cocô de outro cachorro ou, em alguns casos, seu próprio cocô? É um comportamento difícil de entender, porque os cachorros tendem a ser avessos a coisas fedorentas. É um comportamento paradoxo. Muitos donos de cães ficam compreensivelmente preocupados quando seus animais de estimação fazem isso, temendo que haja algo psicologicamente errado com os cachorros ou que o cocô vá deixá-los doentes. E ninguém quer ser lambido por um cão que acabou de devorar uma pilha de cocô também, é claro.

Tentando entender as motivações

Mas não só os donos de cachorros pensam nisso. Os cientistas também estão curiosos e preocupados com esse estranho comportamento. Em uma tentativa de entender o quão comum comer cocô é entre cães e por que eles fazem isso, uma equipe liderada por Benjamin Hart, da Universidade da Califórnia em Davis, entrevistou milhares de donos de cachorros para pesquisas online.

A primeira delas, envolvendo 1.552 donos de cães, avaliou a frequência desse comportamento nos animais, ao mesmo tempo em que explorava potenciais diferenças entre os comedores e os não-comedores de cocô.

A segunda pesquisa, com 1.475 participantes, explorou as razões por trás do comportamento, tentando determinar se produtos de tratamento vendidos por aí de fato previnem que o cão coma seu próprio cocô (alerta de spoiler: não). Os cachorros são famosos por comer cocô de outras espécies, mas esse estudo focou apenas no fenômeno de “coprofagia”, o ato de, repetidamente, comer seu próprio cocô ou o cocô de membros da mesma espécie.

Os resultados mostram que 16% dos cães são coprofágicos, o que significa que eles já comeram cocô pelo menos em seis ocasiões diferentes, conforme observado por seus donos. E os cachorros que comem cocô tendem a fazê-lo frequentemente: 62% deles comiam diariamente, enquanto 38% o fazia semanalmente. Mas os cães eram exigentes. A maioria do cocô era fresco, com, no máximo, dois dias. Mais do que isso, e os cachorros tendiam a evitar comê-lo. Esses resultados foram publicados na semana passada no periódico científico Veterinary Medicine and Science.

Observando os dados, os pesquisadores tiveram dificuldade para encontrar conexões que pudessem explicar o comportamento. Teorias anteriores já sugeriram o estresse e a ansiedade, ou deficiências na dieta, mas os novos resultados não reforçam completamente essas ideias.

Por exemplo, não foi encontrada nenhuma ligação entre a idade do cão, sua dieta, raça, seu estado neutro ou a ideia com que foi separado de sua mãe. Os comedores de cocô eram tão treinados em casa quanto os que evitavam o hábito, “sugerindo uma aversão normal às fezes”, escrevem os autores. O comportamento foi mais comum em casas com vários cachorros, mas isso provavelmente porque havia mais acesso ao cocô.

Porém, os pesquisadores conseguiram encontrar um fator causal potencial: donos de cachorros comedores de cocô tendiam a descrever seus amigos caninos como “comedores ávidos”, em contraste com cachorros não-coprofágicos. Já voltamos nisso daqui a pouco.

Quanto à taxa de sucesso das opções de tratamento comercial (normalmente, aditivos alimentares e pílulas com o intuito de tornar os cachorros aversos ao seu próprio cocô), os pesquisadores disseram que seus efeitos eram “quase zero, indicando que o comportamento não é prontamente alterado”. Então, não gaste seu dinheiro com esses produtos, o que, ainda por cima, pode comprometer a saúde do seu cachorro.

Quanto aos cachorros que tinham o hábito, os pesquisadores dizem que isso pode ter algo a ver com sua indisposição de comer cocô com mais de dois dias.

Forma de limpeza

Como já apontado, a coprofagia é um comportamento paradoxal nos cachorros. Eles são naturalmente avessos a dejetos, evitando defecar onde vivem. Essa aversão é provavelmente herdada de seus ancestrais lobos selvagens, que evoluíram o comportamento para evitar parasitas intestinais de origem fecal e outros patógenos. Acontece que os ovos dos parasitas não chocam normalmente dando origem a larvas infecciosas em apenas alguns dias.

De acordo com a nova teoria, comer o cocô ainda fresco pode ter sido uma maneira de os lobos antigos fazerem uma “limpeza” quando um lobo doente, velho ou sem modos acidentalmente ou, sem querer, fazia cocô dentro de sua própria toca. Portanto, comer cocô é um comportamento de adaptação que ajudava os ancestrais caninos a evitar parasitas intestinais.

James Serpell, professor da escola de veterinária da Universidade da Pensilvânia, contou ao Washington Post que a teoria é “plausível”, mas que a observação sobre os “comedores ávidos” sugere motivações de alimentação.

Estudos feitos em outros lugares mostraram que cães de rua em países em desenvolvimento comem bastante fezes humanas para compensar deficiências na dieta. Além disso, os cães de hoje em dia “recebem dietas que são relativamente ricas em gorduras e proteínas, nem todas sendo completamente digeridas, o que torna suas fezes potencialmente atraentes como uma segunda fonte de comida”, explicou Serpell ao Washington Post.

A nova teoria é interessante, mas não completamente satisfatória. A coprofagia é uma questão muito difícil de se estudar, e existem várias razões plausíveis para explicar por que os cães têm esse comportamento, desde a vontade de pegar um lanchinho rápido até o simples fato de estarem entediados. E, na verdade, as razões podem variar de cão para cão, sendo motivadas por uma série de fatores conhecidos e desconhecidos. É também importante apontar que esse estudo foi feito baseadas em entrevistas; os cientistas tiveram que confiar na avaliações dos donos dos cachorros, com descrições de traços subjetivos como comedores “ávidos”.

Embora uma resposta para essa pergunta ainda esteja a caminho, parece, sim, que comer cocô é algo que os cães façam normalmente. Isso não significa que você precisa gostar disso, nem que seja um comportamento completamente saudável por parte dos cachorros (em alguns casos, pode causar diarreia e até mesmo a transmissão de parasitas e doenças).

Frequentemente, o cachorro vai ficar bem depois de devorar o excremento, mas alguns donos devem levar seus animais ao veterinário se estiverem preocupados. Quanto a evitar que seu cão coma cocô, a melhor aposta é manter o quintal limpo, sem cocô, e seu cachorro em uma coleira enquanto você o leva para passear.

[Veterinary Medicine and Science]

Imagem do topo: AP

Sair da versão mobile