Com o aumento dos casos de transtornos mentais, crescem também as pesquisas focadas em saúde mental. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 264 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, e esse quadro tende a piorar com a pandemia de Covid-19, conforme já sugerem alguns estudos. Enquanto nem todos buscam tratamento, aqueles que o fazem recebem medicamentos e terapias que são receitados por padrão. O problema é que cada pessoa reage de uma forma diferente, e um novo estudo decidiu investigar os motivos por trás disso.
Publicado na eLife, um artigo da Universidade do Colorado Boulder revela que tudo está ligado a uma proteína no cérebro chamada AKT, que pode funcionar de forma diferente em homens e mulheres. Ela é vista como uma das principais responsáveis por promover a “plasticidade sináptica”, ou seja, a capacidade do cérebro de fortalecer conexões entre neurônios em resposta a alguma experiência.
Para entender melhor esse processo, o comunicado da universidade diz que, quando você passa por alguma experiência e seu cérebro quer criar uma memória disso, é necessário produzir novas proteínas capazes de codificar essa memória. A AKT é uma das primeiras a entrar em ação e, sem ela, os cientistas acreditam que seria impossível criar novas memórias ou até mesmo apagar as antigas para liberar espaço para outras mais agradáveis.
A AKT também é comumente conhecida por causar câncer quando sofre mutação, além de estar associada a doenças como esquizofrenia, transtorno pós-traumático, autismo e Alzheimer.
Mas como saber quando a AKT pode ser benéfica ou maléfica ao nosso cérebro? Os pesquisadores do novo artigo argumentam que existem diferentes formas dessa proteína (ou “isoformas”). A AKT2, por exemplo, é a que é encontrada em células cerebrais em forma de estrela, chamadas astrócitos, e que costumam causar câncer.
Já a AKT3, por outro lado, é frequentemente associada ao crescimento e desenvolvimento do cérebro. A AKT1, quando combinada com a AKT2 no córtex pré-frontal do cérebro, é essencial para o aprendizado e memória.
Com base nisso, os pesquisadores acreditam que é possível focar em proteínas específicas no cérebro para tratar transtornos mentais de forma personalizada, sem comprometer outros órgãos ou causar efeitos colaterais. Um dos métodos utilizados no estudo foi analisar como ratos machos e fêmeas reagem à perda de diferentes formas da AKT.
Os resultados, no caso dos machos, indicaram que, quando comparados aos ratos que não tinham a proteína, aqueles que mantiveram a AKT1 funcionando normalmente apresentaram uma capacidade muito maior de substituir uma memória antiga ou associação que não é mais útil. Quando as fêmeas foram analisadas, quase não houve diferença.
De acordo com o estudo, sabe-se que transtornos mentais não ocorrem de forma semelhante em homens e mulheres, sendo que as mulheres têm quatro vezes mais chances de sofrer alguma condição do tipo, principalmente depressão e ansiedade. Os testes com os ratos, segundo os autores, mostram que diferentes formas de proteínas servem a diferentes propósitos e podem agir de maneira distinta em homens e mulheres.
Por isso, os pesquisadores afirmam que mais pesquisas são necessárias para entender como essas diferenças podem ser abordadas para que cada indivíduo receba o tratamento adequado.