Qual é o preço máximo para um smartphone top de linha? Por anos, o limite ficava em R$1.999 – o bastante para incluir os impostos e as margens de lucro no Brasil. Esse preço sempre foi salgado, mas dava para obter desconto em planos pós das operadoras; ou podíamos torcer que, em alguns meses, o preço baixasse.
Mas algo mudou: o preço de smartphones high-end está subindo a níveis que não víamos desde a época em que a Nokia apostava em sua N Series no Brasil.
Quando o iPhone 4S foi lançado, ele chegou a preços surreais na Apple Store online – a partir de R$2.599! Só que nas operadoras, mesmo no pré-pago, o modelo de 16GB custava em torno de R$1.999. Alguns meses depois, a própria Apple reconheceu que o preço estava absurdo e o reduziu para… R$1.999.
Com o iPhone 5, este não é o caso: ele começa em R$2.399 nas operadoras; e em grandes lojas de varejo, ele custa até mais caro! Isso não impediu filas gigantes no lançamento, nem o esgotamento do estoque nas operadoras.
Por sua vez, a Samsung lançou o Galaxy S III por R$2.099, testando o limite máximo de preço para um high-end. Mas no varejo, ele custava duzentos reais mais barato (à vista) já no lançamento. Em alguns meses, o preço baixou ainda mais.
Com o Galaxy S4, no entanto, a Samsung está apostando que R$2.399 é o novo patamar para seus smartphones top de linha. Pior: o preço da versão com 4G é ainda mais cara.
Estes preços altíssimos são os mesmos que a Nokia praticava quando estava no auge. O Nokia N95 foi lançado no Brasil por R$2.499; o N97, apesar de seus inúmeros bugs, desembarcou por R$2.399.
Mas, à medida que a empresa perdia o brilho e a concorrência aumentava no Brasil, os preços dos grandes lançamentos foram caindo: o Nokia N8 e o Lumia 800, por exemplo, começaram custando em torno de R$1.500. A Nokia passou a cobrar muito caro só pelos lançamentos “experimentais”, de produtos que claramente não teriam um público amplo no Brasil – era o caso do Nokia N900 e PureView 808, por exemplo.
Só que este ano, isso mudou. O top de linha da Nokia, o Lumia 920, testou o limite de preço – R$1.999 – e parece que deu certo: a empresa diz que esta foi sua maior pré-venda no Brasil.
O que explica o aumento dos preços nos smartphones high-end? Os impostos, tidos como o maior motivo para os preços altos no Brasil, não aumentaram. Sim, ainda temos o ICMS que pode chegar a 25%, mais o imposto de 60% sobre importações. Só que o Galaxy S4 será produzido no Brasil, então o imposto sobre importações não impacta o valor do produto como um todo (só nas peças). Como justificar, então, que ele vá custar US$579 nos EUA – quase o mesmo preço do Galaxy S III há um ano – mas tenha sofrido um aumento no Brasil?
Talvez seja o câmbio. Mas veja só: em junho, à época do Galaxy S III, o dólar estava girando em torno de R$2,05; nos últimos meses, ele esteve abaixo dos R$2,00. Se a explicação estivesse no câmbio, o Galaxy S4 deveria custar cerca de 4% a menos.
Desta vez, a explicação parece bem clara: é o lucro Brasil. Se há quem pague caro por esses smartphones, para que baixar o preço? Além disso, sempre é mais fácil baixar preços – se o mercado reagir mal a eles, por exemplo – do que aumentá-los depois.
E a concorrência no high-end também é pequena, o que ajuda a manter os preços altos. Fora iPhone e Galaxy, quais são as opções? A Motorola está se concentrando no mid e low-end. A Sony deve trazer apenas o Xperia ZQ ao país, e deixar o Xperia Z de fora. A LG ainda não estreou nem o Optimus G, nem o G Pro. E a HTC não vende mais seus aparelhos – como o ótimo One – por aqui. Só sobra, por enquanto, a Nokia.
Mas enquanto outras fabricantes, como a Nokia, ainda parecem se ater ao limite de R$1.999, a Samsung parece seguir o exemplo da Apple também no preço. A Samsung é a marca de celular mais reconhecida no Brasil, segundo o Top of Mind da Folha, e construiu a marca Galaxy depois de milhões e milhões em propaganda. O Galaxy S4 é um teste para provar ao mundo que a Samsung conseguiu criar uma legião de fãs tão fiéis quanto os da Apple – e o preço faz parte disso.
Se der certo, teremos um novo e temeroso patamar para o preço de aparelhos high-end.
Imagem por Martin Hajek