As dificuldades de efetuar a primeira cirurgia cerebral em um lobo-marinho

Apesar do frio, o Mystic Aquarium, em Mystic, Connecticut, estava cheio de visitantes na véspera de ano novo. Mas uma popular residente do aquário, uma lobo-marinho adulta chamado Ziggy Star, estava nos bastidores naquele dia, se recuperando em um ambiente com uma piscina privativa e longe dos olhares de visitantes. • Suíça proíbe que lagostas […]

Apesar do frio, o Mystic Aquarium, em Mystic, Connecticut, estava cheio de visitantes na véspera de ano novo. Mas uma popular residente do aquário, uma lobo-marinho adulta chamado Ziggy Star, estava nos bastidores naquele dia, se recuperando em um ambiente com uma piscina privativa e longe dos olhares de visitantes.

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Quando seus treinadores abriram o portão, ela esticou seu pescoço para dizer oi, com sua cabeça apontando para trás. Então, ela se inclinou para baixo, expondo um retângulo raspado no topo de sua cabeça. As margens do corte são retas e limpas, e em seu centro há uma meia lua de suturas escuras marcando o local onde, em novembro, Ziggy obteve cirurgia cerebral – a primeira do tipo efetuada em um lobo-marinho.

Ziggy foi resgatada adulta da costa da Califórnia em abril de 2013, e foi levada até Mystic depois de exames apontarem que ela possuía problemas neurológicos – dificuldade para controlar os movimentos, problemas na visão – que tornariam difícil a sua sobrevivência na vida selvagem. Nos últimos quatro anos, ela nadou ao lado de três filhotes de lobo-marinho e um macho adulto, Sam, no aquário.

Mas em setembro, Ziggy sofreu uma série de convulsões e foi encaminhada as pressas até a escola de medicina veterinária na Universidade Tufts. Ela estava tão mal e tão inconsciente que não houve nem necessidade de sedá-la para efetuar a ressonância magnética, disse Ane Uriarte, neurologista e neurocirurgiã da Tufts que acompanhou o caso de Ziggy.

Operando um lobo-marinho

O resultado do exame mostrou que Ziggy possuía uma condição chamada hidrocefalia: fluido cerebrospinal estava se acumulando em seu crânio, colocando pressão no cérebro e fazendo com que ele se deteriorasse. Ela já mostrava sinais do problema quando o mesmo exame foi aplicado após seu resgate em 2013, mas o novo resultado mostrava que o problema estava muito pior que antes.

Alguns dos sintomas como convulsões podiam ser controlados com medicações. Mas elas não surtiriam efeito no líquido acumulado e não fariam muito para melhorar a qualidade de vida da lobo-marinho. “As informações que obtivemos com a ressonância e o fato delas estar clinicamente piorando nos levou para a cirurgia”, disse Uriarte.

Na cirurgia, que retiraria o fluido e liberaria a pressão no cérebro de Ziggy, Uriarte perfurou o crânio do animal e inseriu um pequeno tubo dentro dos ventrículos, as cavidades cheias de fluído no cérebro de Ziggy. O tubo precisava ser precisamente inserido para que ficasse solto e sem encostar em nenhum tecido cerebral. Uriarte então inseriu a outra ponta do tubo no abdômen de Ziggy, onde o fluído seria absorvido pelo corpo do animal. O tubo foi ancorado a uma placa de titânio do lado externo do crânio, e também recebeu uma válvula que controlou o fluxo do líquido.

O procedimento é bastante comum em cães e gatos (e humanos), mas nunca havia sido feito em um lobo-marinho antes. Todos os cérebros e ventrículos têm formatos diferentes, disse Uriarte, então os cirurgiões utilizaram a ressonância magnética para identificar a posição exata no crânio que será perfurada. Como veterinária, Uriarte disse ser regularmente exposta a diferentes tipos de anatomia. “Veterinários não estudam apenas uma espécie”. Até cães variam de maneiras extremas – um chihuahua e um dogue alemão, por exemplo, têm crânios muito distintos.

Mas cães possuem marcas específicas em seus crânios, disse Uriarte, que fazem o mapeamento do cérebro mais fácil. “Você acha a marca, e então pode fazer medidas a partir dela”, diz. Lobos-marinhos, por outro lado, possuem crânios lisos e redondos, sem nenhuma característica distinta. “Foi um pouco mais desafiante que um cão ou um gato”, explicou Uriarte. Para se preparar, a equipe recebeu um crânio de foca da Califórnia para ter uma referência ao crânio de Ziggy. “Gastamos muito mais tempo com planejamento do que com a cirurgia de fato”, disse.

Apesar dos obstáculos, a cirurgia feita em 20 de novembro durou cerca de uma hora e foi um sucesso. No dia seguinte, Ziggy viajou de volta a Mystic ao lado de uma bateria portátil que manteve uma série de monitores vitais conectados a ela funcionando durante a viagem para casa. Foram necessários quatro dias para que ela acordasse da anestesia. Mamíferos marinhos já são difíceis de anestesiar porque a medicação pode ativar seus reflexos de mergulho – que os ajuda a conservar oxigênio debaixo d’água ao redirecionar o fluxo do sangue para o coração e pulmões – e causar privação de oxigênio e problemas cardíacos. Além disso, Ziggy parece ser particularmente sensível aos efeitos da medicação, disse Uriarte.

“Ela ficou um pouco instável quando acordou”, conta Erin Gibbons, supervisora assistente para cetáceos e pinípedes no Mystic Aquarium. Os treinadores ofereceram a Ziggy um pouco de lula, que ela ansiosamente apanhou. “Foi emocionante, vê-la comendo pela primeira vez”. Agora, Ziggy já retornou ao seu peso antes da cirurgia. Ela fica em áreas terrestres desde então, com alguns pequenos mergulhos supervisionados, mas já parece mais forte na água, e até mais alerta do que era desde os anos em que chegou ao aquário, disse Gibbons. Eventualmente, ela retornará a Sam e os outros filhotes na área de exibição. “A vontade de viver dela é incrível”.

Foi entusiasmante, disse Uriarte, solucionar um problema que nunca foi solucionado antes. “É uma grande sensação, poder traduzir a minha experiência em algo que nunca foi feito antes”, disse. Podemos aplicar o nosso conhecimento a algo novo”.

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