Projeto de cientistas brasileiros estuda como prever surtos de dengue, zika e febre amarela

A equipe de cientistas internacionais está desenvolvendo uma forma de monitorar e prever ressurgências de vírus transmitidos por mosquitos.
Crédito: nuzree/Pixabay

Com a pandemia de Covid-19, os esforços de saúde têm se concentraram em estudar e combater o novo coronavírus. No entanto, isso não significa que outras doenças anteriores foram erradicadas. O Brasil, por exemplo, já lutava contra epidemias como a zika e a dengue quando fomos atingidos pelo Sars-CoV-2.

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Tanto o Covid-19 como surtos anteriores mostraram que ainda não estamos preparados para lidar com essas doenças transmissíveis e muito menos erradicá-las de vez. Por isso, uma equipe de cientistas internacionais está desenvolvendo uma forma de monitorar e prever ressurgências de vírus transmitidos por mosquitos. Essas doenças, conhecidas como “arboviroses”, incluem a febre amarela, dengue, zika e chikungunya.

O novo projeto de pesquisa conta com a participação de diversas instituições, entre elas: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). Nos EUA, participam: The University of Texas Medical Branch (UTMB), New Mexico State University (NMSU), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Cary Institute of Ecosystem Studies. O projeto ainda conta com o Instituto Conmemorativo Gorgas de Estudios de la Salud (ICGES), no Panamá.

Por enquanto, a equipe, batizada de Create-NEO (Coordinating Research on Emerging Arboviral Threats Encompassing the Neotropics, ou “pesquisa coordenada sobre ameaças emergentes arbovirais nos neotrópicos”, em tradução livre), publicou um artigo na revista acadêmica Emerging Topics in Life Science, revisando os fatores que podem influenciar a reemergência da febre amarela. Maurício Nogueira, professor da Famerp, explicou em comunicado da Agência Fapesp que alguns dos fatores que influenciam novos surtos são o desmatamento, os padrões sazonais de chuva e a população de primatas não humanos.

O objetivo do grupo de pesquisa agora é descobrir o que exatamente desencadeia as epidemias. Para isso, eles vão criar modelos preditivos com base em estudos realizados no interior de São Paulo, Amazonas, Pantanal e Panamá, que costumam concentrar casos de arboviroses.

O projeto também pode ajudar a entender e antecipar as transmissões dos vírus entre regiões rurais e urbanas. No caso da febre amarela, por exemplo, a doença pode ocorrer por meio de mosquitos Haemagogus infectados pelo flavivírus em áreas florestais, enquanto que o Aedes aegypti é considerado o vetor urbano.

O problema é que, mesmo com a vacina contra febre amarela, ainda há reemergências do vírus do ciclo silvestre que se espalham para as cidades. Quando ele se estabelece em primatas não humanos, inicia-se um ciclo de transmissão enzoótica, que é mais difícil de ser controlada, de acordo com os pesquisadores. Nesse caso, o vírus se mantém no ambiente silvestre e pode ser transmitido para as cidades por meio de uma infecção acidental em um humano. Isso representa um risco de retorno do ciclo urbano, o que significaria que a febre amarela poderia voltar a ser transmitida pelo Aedes aegypti.

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Outros fatores levados em consideração nos modelos preditivos são as mudanças climáticas e o avanço das cidades em áreas que antes eram preservadas. Nas Américas, há registros de casos da febre amarela desde o norte do Panamá até o nordeste da Argentina. A maioria deles se concentra na Bacia Amazônica, ocorrendo principalmente durante a estação de chuvas, e o principal vetor são os mosquitos Haemagogus. Porém, os pesquisadores alertam que Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil também têm registrado um aumento de casos do vírus silvestre.

[Agência Fapesp]

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