Um clássico estudo da psicologia não consegue ser reproduzido com os mesmos resultados

Um estudo antigo diz que expressões faciais podem moldar nossas emoções - sorrir nos deixaria mais felizes, e franzir a testa nos deixaria mais tristes.

A psicologia está no meio de uma espécie de guerra civil. Um dos lados alega que há uma crise generalizada do teste de reprodutibilidade; outro diz que esta é uma preocupação muito exagerada.

As evidências, no entanto, favorecem o primeiro grupo. No ano passado, uma iniciativa da Universidade de Virgínia chamada Projeto Reprodutibilidade repetiu 100 experimentos e falhou na replicação de um terço deles. Adicione mais um a essa lista: um estudo clássico, de 30 anos atrás, que concluiu que expressões faciais podem moldar nossas emoções – sorrir nos deixaria mais felizes, e franzir a testa nos deixaria mais tristes.

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Conhecido como “hipótese do feedback facial”, o estudo remete ao psicólogo americano William James. Ele acreditava que palmas das mãos suadas ou coração acelerado não eram apenas o resultado de emoções como ansiedade, pânico ou medo – na verdade, eram também a causa delas. No estudo, pessoas que sorriam com uma caneta entre os dentes achavam cartuns mais engraçados. Outras pesquisas deram apoio a esta hipótese, incluindo o estudo alemão de 1988 que deu o tal nome que citamos acima.

Pesquisadores holandeses da Universidade de Amsterdã decidiram reproduzir o experimento – por sugestão de Fritz Strack, o autor original – colaborando com diversos outros laboratórios no mundo. Em um novo estudo publicado na Perspectives on Psychological Science, eles relataram que não conseguiram replicar os resultados “de uma forma estatisticamente convincente”, concluindo que “no geral, os resultados foram inconsistentes com o resultado original”.

estudo-feedbackAmbiente do laboratório onde foi feito o estudo. Foto: Quentin Gronau/Flickr.

Embora 9 dos laboratórios envolvidos tenham conseguido resultados semelhantes ao estudo original, os efeitos não foram estatisticamente fortes, e desapareceram por completo quando foram combinados com os resultados de outros 8 laboratórios que não encontraram nenhuma evidência para a hipótese.

No entanto, como observa o British Psychological Society’s Research Digest, “isso não significa que toda a hipótese do feedback facial está descartada. Vários estudos a sustentam, incluindo pesquisas envolvendo pessoas que se submeteram a tratamento de botox, que afeta os músculos faciais”.

Os pesquisadores fizeram o possível para recriar as condições originais do estudo, incluindo o uso dos quadrinhos The Far Side do cartunista Gary Larson. Ainda assim, havia algumas diferenças: os participantes assistiram as instruções em vídeo e foram filmados enquanto executavam as tarefas para garantir que eles estavam fazendo tudo corretamente.

O próprio Fritz Strack levantou algumas questões sobre a metodologia e a análise estatística em um comentário que acompanha o novo estudo. Ele alega que os resultados não devem ser considerados conclusivos ainda. Por exemplo, o grupo de participantes eram estudantes de psicologia, e provavelmente já tinham lido o estudo de 1988, o que pode ter feito com que adivinhassem o verdadeiro propósito da recriação do experimento, distorcendo os resultados.

Além disso, Strack acha que filmar os participantes pode ter feito com que eles ficassem mais conscientes de suas ações, o que poderia ter alterado os resultados. Ele também questionou se os estudantes de hoje em dia iriam compreender o tipo de humor dos quadrinhos The Far Side, de 1980. “É um indicativo de que um dos quatro critérios de exclusão foi a falha dos participantes em compreender os cartuns”, escreveu.

[Perspectives in Psychological Science via Improbable Research]

Foto do topo: Quentin Gronau/Flickr.

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