Quais os efeitos no clima de um possível “Super El Niño”?

Especialistas se preocupam com possibilidade de haver um “Super El Niño”, que pode elevar temperaturas até 2,5°C acima da média. Veja o que você deve saber sobre essa possibilidade
El Niño: governo pode decretar emergência climática em 1.038 municípios do Brasil
Homem transita pelas ruas alagadas após fortes chuvas em Rio Branco (AC), março de 2023. Imagem: Felipe Freire/Secom Acre/Divulgação

Com a confirmação da chegada do El Niño, especialistas agora se preocupam com a possibilidade de haver um “Super El Niño”, um evento ainda mais forte que o esperado.

No mês passado, o satélite Sentinel-6 da NASA identificou os primeiros sinais de formação do El Niño no Oceano Pacífico que deve afetar o clima global nos próximos anos.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) confirmou o início. Mas pode ser que ele se manifeste de forma mais intensa do que o normal e virar o “super”. Caso isso aconteça, enfrentaremos calor até 2,5°C acima da média.

Qual a porcentagem de acontecer um “Super El Niño”?

“As chances dele se tornar um evento forte em seu pico são de 56%, enquanto as chances de termos pelo menos um evento moderado são de aproximadamente 84%”, explica em nota Emily Becker, cientista do clima e comunicadora da NOAA. O comunicado foi feito na semana passada.

A pesquisadora Michelle L’Heureux, chefe do Centro de Previsão Climática da NOAA, afirma que o fenômeno se formou dois meses antes da maioria dos outros El Niños. Normalmente, o El Niño começa a se formar no segundo semestre do ano, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Segundo Michelle, ainda há chances de o evento crescer. As estimativas apontam que há 25% de chance de termos um Super El Niño, caracterizado pela potencialização do fenômeno.

Isso ocorreu entre 1997 e 1998, por exemplo, quando foram registradas cerca de 23 mil mortes no mundo por conta de tempestades e inundações. Há também uma forte probabilidade de que o evento desta vez coloque 2024 no topo da lista de anos mais quentes do mundo, superando 2016, conforme informações da BBC.

Como funciona o El Niño?

O El Niño é um dos fatores capazes de provocar recordes de temperaturas nos próximos quatro anos. Segundo informações da Organização Mundial Meteorológica (OMM), há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar 1,5°C entre 2023 e 2027.

Ao contrário do La Niña, fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, o El Niño normalmente eleva as temperaturas em todo o planeta. Quando esse evento está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias.

O El Niño ocorre por conta de um aquecimento anormal do Oceano Pacífico equatorial. Para o fenômeno ser registrado, deve acontecer um aquecimento persistente, que leva pelo menos três meses. Isso acontece porque os ventos alísios sopram com uma intensidade bem menor do que o normal, nesse período.

A temperatura do mar nessa região, próxima à linha do Equador, sobe pelo menos meio grau acima da média, podendo chegar a 28º C. Isso acaba formando um ar quente e modificando os padrões atmosféricos em diversos pontos do planeta.

A woman carries a rainbow-colored umbrella as she walks during a rain shower in Beijing, Thursday, Aug. 18, 2016. Although Beijing is in a semi-dry climate, it receives much of its annual precipitation during the summer months. (AP Photo/Mark Schiefelbein)

Como o fenômeno vai afetar o Brasil?

No Brasil, o El Niño aumenta o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste e de grandes volumes de chuva no Sul do País. Um único episódio do fenômeno não será capaz de provocar todos os impactos, mas aumenta consideravelmente as chances de ocorrência deles, de acordo com o INMET.

A OMM alertou que o evento deve afetar o regime de chuvas na Amazônia, o que é particularmente preocupante. Assim, pesquisadores destacam que o ciclo vicioso de aquecimento e desmatamento pode transformar a floresta em uma savana, o que traria consequências desastrosas para o planeta.

O El Niño também gera um possível impacto na agricultura brasileira. Enquanto chove menos na Amazônia, o Sul do país também deve ser especialmente afetado por causa da intensificação da chamada corrente de jato subtropical.

Dessa forma, aqueles que vivem nessa região devem se preparar para um período de muita umidade, com chuvas prolongadas e intensas, que pode durar meses. Isso foi observado em 2015, quando houve precipitação por vários meses seguidos no Rio Grande do Sul, provocando enchentes em diversos pontos do Estado.

No Norte e no Nordeste, há grandes chances de vir um grande período de seca pronunciada. Isso eleva o risco de estiagem prolongada nessas localidades, com prováveis prejuízos à produção agrícola e quebra de safras.

Sudeste e Centro-Oeste não apresentaram evidências de efeitos característicos das chuvas quando há esse fenômeno. O que se sabe, porém, é que os invernos sob o El Niño tendem a apresentar temperaturas mais altas na parte central do Brasil e redução do número de geadas intensas no Sul.

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