Texto: Agência Bori
Highlights
- Pesquisa da UFF, Uerj e instituições parceiras analisou tipos de detritos encontrados no trato gastrointestinal de tartarugas marinhas no litoral do RJ
- Mais da metade desses detritos foram resíduos de plástico flexível, como os de sacolas, e de cores facilmente confundidas com alimentos, como o marrom
- Pesquisa contribui para autoridades locais observarem o impacto da poluição nos animais marinhos e elaborarem estratégias eficazes de proteção
Resíduos sólidos de origem humana, principalmente plásticos, estavam no organismo de quase 70% das tartarugas-verdes encontradas encalhadas no litoral centro-sul do Rio de Janeiro entre maio de 2019 e março de 2021. As constatações são de artigo publicado pela revista científica “Ocean and Coastal Research” nesta sexta (20) por pesquisadores da Universidades Federal Fluminense (UFF), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de instituições parceiras.
O trabalho analisou os tratos gastrointestinais de 66 tartarugas-verdes – um tipo de tartaruga marinha. Os cientistas encontraram, no total, 1.683 detritos, sendo 850 deles – ou seja, mais da metade – plásticos flexíveis, como os de sacolas plásticas. Esses detritos estavam localizados principalmente no intestino grosso dos animais. Outros tipos de resíduos encontrados foram linhas e cordas, plásticos rígidos e borrachas.
O artigo sugere que a espécie possivelmente ingere detritos que se assemelham à sua alimentação natural. A cor predominante dos resíduos, presente em mais de 36% dos casos, era âmbar ou marrom, e a faixa de tamanho observada em mais de 40% dos registros era de meio milímetro a dois centímetros e meio.
A pesquisadora da Uerj Beatriz Guimarães Gomes, uma das autoras do estudo, explica que este é o primeiro trabalho a analisar o conteúdo do trato gastrointestinal de tartarugas encalhadas coletadas pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos. “Os dados evidenciam o impacto da poluição plástica nas tartarugas-verdes, contribuindo para uma melhor compreensão do problema na região e orientando as autoridades na criação de estratégias eficazes de proteção”.
Os animais marinhos costumam confundir os plásticos com alimentos e ingeri-los, o que pode levá-los à morte e contaminar as cadeias alimentares. Para estimular a solução de problemas como a poluição das águas, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano. Somente no Brasil, são lançados no ambiente quase três milhões e meio de toneladas de sacolas plásticas, garrafas PET, canudos, embalagens de xampu e isopor anualmente, de acordo com estudo realizado pelo Pacto Global da ONU em 2022.
Gomes enfatiza que a falta de conscientização, o consumo excessivo de plásticos descartáveis e o descarte inadequado são práticas comuns que ampliam a presença de resíduos nos mares. Neste sentido, “a educação ambiental das comunidades é uma medida fundamental para reduzir os danos às tartarugas-verdes e às demais espécies marinhas”, avalia.
A autora também observa que a pressão da sociedade sobre indústrias e governos para promover alternativas sustentáveis e políticas de gestão de resíduos ainda é insuficiente. Para ela, além de incentivo à reciclagem e ao descarte correto, a responsabilidade individual e coletiva passa também pela transição para a economia circular, focada em reduzir desperdício e reaproveitar materiais. “Com esse engajamento, talvez, seja possível combater a poluição plástica nos oceanos”, completa.