Pelo menos 50% dos jovens brasileiros de 16 a 24 anos que interromperam os estudos o fizeram porque precisaram trabalhar. Nesse grupo, 36% deixaram de estudar para manter a família, enquanto 18% pararam por gravidez – sobretudo mulheres.
Os dados estão em uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), publicada no último dia 26 de maio, após entrevista com 2.007 brasileiros com mais de 16 anos em todo o país.
Segundo a pesquisa, 53% dos jovens de 16 a 24 anos estão estudando, seja no ensino médio, técnico ou superior. Entre pessoas de 25 a 40 anos, o percentual é de 12%. A pesquisa mostra uma profunda desigualdade entre os jovens que permanecem e os que abandonaram as salas de aula – a começar pela renda familiar.
Entre os matriculados, 24% têm renda familiar com cinco salários mínimos ou mais, enquanto apenas 9% dos que deram continuidade aos estudos ganham entre um e dois salários mínimos, o que equivale a pouco mais de R$ 2,6 mil.
Além disso, somente 17% dos estudantes com renda familiar de até um salário estão matriculados no ensino médio. Nas famílias com dois a cinco salários, o índice sobe para 41%, enquanto as com mais de cinco chegam a 73%.
Na pós-graduação, a diferença é ainda maior. Apenas 1% das pessoas com renda familiar de até R$ 1.230 por mês estão na especialização. O número sobe para 13% nas famílias com cinco salários mínimos ou mais.
Diferença entre gêneros
A disparidade persiste entre gêneros. Pelo menos 13% das mulheres de 16 a 24 anos que deixaram de estudar tomaram essa decisão porque engravidaram. Enquanto isso, apenas 1% dos homens deixaram a escola pelo mesmo motivo.
A evasão por gravidez é maior entre moradoras da região Nordeste (14%) e capitais (14%) – o dobro da média nacional (7%).
Por outro lado, a necessidade de manter a família é o principal motivo para que homens interrompam os estudos: 55% deles disseram que pararam de estudar para trabalhar. Nas mulheres, esse índice é de 39%.
Entre homens e mulheres, 11% dos jovens disseram “não ter interesse” em continuar na sala de aula. Outros 15% dos entrevistados do sexo masculino afirmaram que preferiram não continuar os estudos para ter o próprio dinheiro e autonomia. Entre as mulheres, 9% disseram ter feito o mesmo.
Cenário brasileiro
Na comparação entre as regiões brasileiras, o Nordeste sai na frente com mais alunos matriculados (18%). Do outro lado está o Sul, com apenas 10% de pessoas com 16 anos ou mais estudando.
O modelo de estudo EaD (Ensino à Distância) é mais popular entre pessoas de 41 a 59 anos (35%). Também é mais popular na região Sul (24%) que no Nordeste (13%).
Pelo menos 23% dos entrevistados concordaram que a alfabetização deve ser a prioridade do governo na educação. Em seguida estão as creches (16%) e ensino médio (15%). O ensino técnico, por outro lado, foi o que recebeu a melhor avaliação.
A preocupação com o ensino médio vem na esteira com os altos índices de evasão nessa etapa de formação. Segundo o Censo Escolar 2022, 8,9% dos alunos abandonam os estudos no primeiro ano do ensino médio. A série também tem o maior número de repetências: 12,7%.
“Fechar os olhos para essas taxas é contraproducente”, disse o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi. No Brasil, 66,4 milhões de pessoas com mais de 18 anos não têm o ensino médio completo e nem frequentam a escola.
O reflexo da formação incompleta são 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos sem estudo, nem trabalho, segundo levantamento do IBGE do 4º trimestre de 2022. O Brasil é um dos países com mais jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho, junto com a Grécia, Itália e África do Sul.