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Quem é o mineiro por trás dos quatro Oscars de “Nada de Novo no Front”

Daniel Dreifuss, mineiro de BH, é um dos produtores do filme alemão “Nada de Novo no Front”, que venceu quatro categorias na 95ª cerimônia do Oscar

Nada de Novo no Front

Imagem: Reprodução/Instagram

De Minas Gerais para o mundo! Daniel Dreifuss, mineiro de 44 anos de BH, é um dos produtores do filme alemão “Nada de Novo no Front”,ganhador de quatro categorias na 95ª cerimônia do Oscar. O longa teve nove indicações e levou as estatuetas de Melhor Filme Internacional, Fotografia, Direção de Arte e Trilha Sonora Original.

Daniel Dreifuss, como produtor, é premiado oficialmente nas categorias onde a equipe de produção é creditada — no caso de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. Há cerca de 20 anos, ele se mudou da capital mineira para Los Angeles, onde reside atualmente, mas nunca deixou de amar o Brasil e a sua cidade natal. 

“Lembro de assistir ao Oscar lá na minha casa, no Sion [bairro de BH], mas era outro mundo. Estar do lado de dentro do teatro, com algo que é fruto do meu trabalho, eu não imaginava. Espero que isso inspire outras pessoas”, disse o produtor ao portal G1. Daniel se apaixonou por produções audiovisuais ainda na infância, quando sua mãe, Áurea, o levava para sessões de cinema na capital mineira. 

Ele diz se lembrar de ir nos cines Pathé, Acaiaca, Royal e Joia com a mãe para ver, principalmente, grandes filmes franceses e italianos. Também cita a adolescência e idas aos cinemas Belas Artes e o Usina. E lamentou a redução no número de cinemas de rua, que acabarm virando shoppings, igrejas e estacionamentos. 

Mudança para os EUA

Na adolescência, o belo-horizontino foi morar no Rio de Janeiro com a família, onde estudou cinema. Após a morte de seu pai, há cerca de 20 anos, Dreifuss se foi para Los Angeles, EUA. O início da carreira por lá, não foi fácil.

“Cheguei com apenas duas malas, não tinha conexões, ninguém da minha família fazia cinema. Foi uma longa e dura jornada. Acredito que a transparência nas relações, meus valores e ideias tenham me ajudado a chegar até aqui”, diz.

Em território norte-americano, já assinou a produção de alguns importantes projetos, como “No”, de Pablo Larraín, primeiro longa chileno indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, em 2013, com Gael García Bernal, e “Sérgio” (2020, Netflix), estrelado por Wagner Moura e Ana de Armas, sobre o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello (1948-2003).

História com “Nada de Novo no Front”

“Nada de Novo no Front” chegou às mãos de Daniel há cerca de dez anos, e quando se deparou com o roteiro do longa pela primeira vez, a história lhe chamou atenção em razão do seu avô ter lutado no conflito e ficar ferido na frente de batalha. A produção conta a história do jovem soldado alemão Paul (Felix Kammerer), que se alista para lutar na 1ª Guerra Mundial. 

O roteiro é baseado no romance homônimo do escritor Erich Maria Remarque, lançado em janeiro de 1929. Daniel Dreifuss contou ao G1 que recebeu o roteiro em inglês de “Nada de Novo no Front” no ano de 2013 e chegou a tentar financiamento para o filme em Hollywood, mas foi recusado muitas vezes e percebeu que o melhor caminho para o projeto era outro. 

Originalmente, o filme seria todo falado em inglês e tinha uma pegada mais comercial, com muitas cenas de ação e explosões. A trama focava mais no último dia do conflito, horas antes do armistício do dia 11 de novembro de 1918, às 11h. “Lutei pela autenticidade que sempre norteou minha carreira. Eu pensei: ‘por que alemães estariam falando em inglês entre si?’. Fui para a Alemanha em 2019 com a ideia de voltar ao texto original e tentar levantar a produção em alemão”, explicou. 

Ligação com a trama

Daniel explicou sua ligação com a trama em entrevista recente ao jornal O Tempo. A família do pai dele é toda da Alemanha, na fronteira com a França. Seu avô Max nasceu em 1899, se alistou em 1917 e foi lutar pela Alemanha na 1ª Guerra. Ferido nas costas e no pulmão, Max foi mandado de volta para a casa.

O primo de Max é uma das pessoas das quais o filme retrata. Ele morreu a 40 horas do fim da guerra. Vinte anos depois, Max foi mandado para um campo de concentração por ser judeu-alemão, segundo Daniel.

O avô Max fugiu para o Uruguai, onde nasceria o pai do produtor, o cientista político e historiador René Dreifuss (1945-2003). 

Daniel nasceu em Glasgow, em 1978, quando o seu pai fazia doutorado na Escócia. Um ano e meio depois, chegou a Belo Horizonte. Há tantos anos fora do Brasil, o produtor não quer que seus laços com o país se enfraqueçam com o tempo. Amizades, família, culinária, música e visitas pontuais ao país ajudam a manter forte essa relação.

Produções no Brasil

Perguntado se atuaria em uma produção brasileira e, quem sabe, ajudaria o país a levar a tão cobiçada estatueta com um filme nacional, Daniel foi enfático.”Seria uma honra enorme, adoraria produzir no Brasil. Não para vencer o Oscar, mas pelo trabalho em si. Sinto falta de projetos de streaming com maior ambição artística”, afirma.

“Gostaria que o Brasil se lembrasse mais que eu sou brasileiro, adoraria levantar projetos no Brasil. Nosso país tem muitos talentos no cinema, diretores interessantíssimos, tem a turma de Recife, dos meus conterrâneos do ‘Marte Um’, da Filmes de Plástico. Espero que eu tenha o privilégio de acabar me conectando mais com a indústria brasileira. Eu vou onde as histórias estão, e elas não têm fonteiras”, completa o produtor. 

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