Há cerca de dez anos, o estudante de terceiro ano de ciências da computação escreveu o código que eventualmente lhe renderia US$ 38 milhões: o AudioScrobbler.
A sua criação foi um simples plugin que registrava o que as pessoas estavam ouvindo em vários programas, como iTunes, Winamp e Windows Media Player, usando esta informação para construir um perfil online do seu gosto musical que poderia ser mostrado para os amigos ou usado para gerar recomendações musicais.
O Last.fm comprou o AudioScrobbler em 2003, dando a Jones 15% de participação na empresa. Quatro anos depois, a CBS comprou o Last.fm por 280 milhões de dólares, tornando Jones um multimultimilionário. A CBS deixou o Last.fm operar mais ou menos como sempre fez, expandindo o seu alcance para estimados 40 milhões de usuários, transformando-o em um app móvel, encorajando desenvolvedores a construir coisas ao redor dos perfis de usuário e usando o seu conhecimento para construir serviços de rádio para parceiros como a AOL.
Enquanto isso, o Facebook estava ocupado com o seu “Open Graph” — um perfil não apenas para as coisas relacionadas a música que você Curte, mas também para os filmes, livros, amigos, locais, históricos de estudo e emprego e tudo mais que você puder imaginar. E isso foi em 2008, bem antes deles lançarem o Facebook Music semana passada.
O Facebook agora é como um AudioScrobble que funciona com todos os grandes serviços de assinatura de música, assim como muitos serviços de rádio por streaming e até mesmo destaques recentes como o Turntable.fm, que infelizmente é um dos muitos serviços de música que ainda não funciona no Brasil. Diferente do Last.fm, ele até mesmo fornece a ferramenta que facilita o cadastro dos usuários nesses serviços, o que significa que ele pega as ações do usuário automaticamente desde o início, mesmo daqueles que não seriam tão interessados a ponto de baixar um plugin ou dar permissão manualmente.
Se os seus hábitos musicais influenciarem os seus amigos, o Facebook saberá — e ele também entende que anúncios direcionados às suas preferências são mais valiosos. Você é o que o pessoal do marketing chama de “tastemaker”. Um influenciador, em bom português. O Last.fm não tem um mecanismo visível para esse tipo de coisa, por não ser uma rede social do nível do Facebook.
Como se isso não fosse suficiente, o Facebook também supera o Last.fm pelo fato de acompanhar não apenas as músicas que você ouve, mas os textos que clica para ler, os seriados que assiste, os filmes que curte, os amigos que tem… e por aí vai. Qualquer coisa que use o Facebook como sistema de login ou faz parte do seu novo e crescente ecossistema de “scrobbling” está na brincadeira. Todos estes parceiros, de todos os tipos de indústria, têm um grande incentivo para participar, já que novo Ticker e a nova Timeline são ótimos meios para promover conteúdo.
Mas, como apontou Andy Cush, do Evolver.fm, tem uma coisa que Last.fm faz, e o Facebook não: compatibilidade com o iTunes. No entanto, o que isso parece é que o Last.fm e o iTunes estão se consolando do lado de fora da festa do Facebook, onde a diversão está acontecendo. Se uma música toca no iTunes e o Last.fm grava ela, os seus amigos ficam sabendo? A resposta tende a ser cada vez mais “não” — eles estarão bem ocupados no Facebook.
Richard Jones ganhou 38 milhões de dólares inventando o Scrobbling. Dez anos depois, o Facebook está prestes a ganhar bilhões com o mesmo conceito. É uma estratégia de sucesso: acumular uma audiência tão grande que os serviços de mídia simplesmente querem se implementar no seu serviço, em vez de contar com a boa vontade dos usuários para instalar um plugin.
A Apple venderá hardware e apps de qualquer jeito, e ainda poderá se juntar ao Facebook Music quando o iCloud for lançado ainda este ano. Quanto ao Last.fm, uma vantagem de 10 anos no mercado não será suficiente para impedir o avanço impiedoso do gigante chamado Facebook.