O nosso Sistema Solar tem seu próprio planeta Hoth: a Europa, a lua de Júpiter em que não foi descartada a existência de vida alienígena. Diferentemente de Hoth, em que a vida prospera na superfície gelada, a vida na Europa prosperaria, supostamente, no oceano abaixo de sua superfície frígida — mas a evidência disso poderia estar além do alcance de nossos experimentos.
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Se a vida existe em algum outro lugar, ela deveria deixar para trás algum sinal químico, ou uma bioassinatura, mostrando a presença de certos tipos de moléculas. Plumas de gás saindo das rachaduras na superfície da Europa poderiam conter essas assinaturas, mas a superfície também, segundo uma nova pesquisa. Essas bioassinaturas de superfície só precisariam sobreviver à intensa radiação de Júpiter.
“Nossos resultados também mostram que os aminoácidos, embora altamente reduzidos em concentração, persistiriam em níveis detectáveis … em escalas de tempo de 10 milhões de anos, a profundidades de 10 centímetros, mesmo nos ambientes de radiação mais severos na superfície da (lua) Europa”, escreveram os pesquisadores no artigo, publicado nesta segunda-feira (23) na Nature Astronomy.
Aqui na Terra, existe muita vida que prospera de uma maneira bem alienígena, alimentada não pelo Sol, mas pelo calor e por substâncias químicas vindo do fundo do mar. Existem evidências de que a lua Europa tem um oceano d’água debaixo de seu gelo (como apontado por observações do Hubble e de outras espaçonaves). Talvez essa água abrigue vida parecida com o tipo que prospera nos oceanos da Terra.
Os pesquisadores precisam descobrir uma maneira de identificar essa vida e estão trabalhando em um sonda, a Europa Clipper, que voaria através das plumas da lua Europa. Mas o material do oceano pode ser transportado para a superfície, talvez através dessas plumas ou do oceano derretendo e congelando.
Uma equipe do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e do Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins calculou se moléculas indicadoras de vida, como aminoácidos na superfície, teriam que sobreviver a um ataque de radiação da severa magnetosfera de Júpiter. Existe uma região magneticamente ativa em torno de Júpiter totalmente inóspita para a vida, então imagine para o nosso equipamento científico. Essa magnetosfera acelera partículas de alta energia que podem destruir a evidência química de vida que nossas sondas podem procurar.
Usando dados anteriores de como os aminoácidos podem sobreviver à radiação quando congelados no gelo, junto com dados sobre os ambientes de radiação mais severos da lua Europa, a equipe descobriu onde os aminoácidos provavelmente sobreviveriam. Caçadores de vida podem encontrar bioassinaturas dez centímetros abaixo da superfície, embora em concentração reduzida, em qualquer lugar do planeta, escrevem os pesquisadores. Mas eles poderiam aumentar suas chances se analisarem o gelo mais jovem (nesse caso, com dez milhões de anos de idade) em locais de baixa radiação. Tal gelo existiria nas altitudes médias a altas da lua Europa, mais longe do seu equador, onde a lua aponta para longe de Júpiter, escrevem os pesquisadores.
Isso é apenas um modelo; será necessário fazer uma viagem à lua Europa para determinar se realmente há sinais de vida sob sua superfície. Um comentário na Nature feito pelo cientista John Cooper, do Centro de Voo Espacial Goddard, da NASA, aponta que os impactos de meteoros também podem quebrar algumas dessas bioassinaturas — e que um lander será “o juiz final sobre se fomos espertos ou sortudos o suficiente para encontrar uma bioassinatura, talvez uma se refugiando da radiação ao alcance sob um pequeno bloco de gelo”.
Não sabemos se existe vida na lua Europa, mas os cientistas estão esperançosos. Seja qual for o lander que mandarmos para lá, ele terá que cavar um pouco.
Imagem do topo: NASA