Cientista do transplante de cabeça diz ter recolocado espinha dorsal em ratos, mas há controvérsias
Sergio Canavero quer realizar transplantes de cabeça, e não podemos ignorar. Apesar do nosso ceticismo contínuo, ele parece ter algum progresso. “Parece” é a palavra imperativa aqui, porque outros cientistas ainda não estão convencidos pelas evidências.
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Canavero e um time de doutores chineses no Harbin Medical Center anunciaram que conseguiram remover e recolocar com sucesso uma espinha dorsal em ratos. O artigo, publicado no periódico CNS Neuroscience and Therapeutics, não menciona transplante de cabeça. Mas recolocar uma espinha dorsal seria um dos muitos obstáculos necessário para a equipe pelo menos tentar trocar cabeças em humanos.
Antes de entrarmos no assunto dos transplantes de cabeça em humanos, vamos olhar esse novo estudo. A equipe abriu 15 ratos e cortou suas espinhas dorsais, embora o estudo note que “não houve lacunas”. Então, seis ratos do grupo de controle recebeu uma injeção de soro fisiológico no corte, e nove receberam uma injeção de polietileno glicol no mesmo local. Essa substância, escreveram os cientistas, poderia “restaurar a integridade de fibras nervosas severamente separadas ou selar a membrana de neurônios danificados”, baseado em pesquisas anteriores, ao fundir as fibras de volta.
Todos, menos um, dos ratos do grupo de controle, sobreviveram a operação. Mas nenhum deles conseguia andar depois do procedimento. No entanto, todos os ratos que tomaram a injeção de polietileno glicol conseguiram retomar pelo menos alguma capacidade de movimento um mês depois do procedimento.
Esses experimentos são bem parecidos com aqueles que os pesquisadores realizaram em ratos e cachorros, mas tais testes tinham algumas controvérsias, como apontamos; a amostragem era pequena, não havia controle e não havia provas de que os pesquisadores tinham cortado a espinha por completo.
Esses são alguns dos problemas nesse novo estudo, também. Um pesquisador, Jerry Silver, da Case Western Reserve University, de Ohio, afirmuu estar muito cético para dar alguma credibilidade ao artigo. A conclusão implica que os pesquisadores apenas cortaram e consertaram parte da espinha dorsal, não ela inteira. As taxas de recuperação eram completamente irreais, com apenas um mês de recuperação, segundo ele. A equipe não demonstrou completamente que os axônios, a parte comprida das células nervosas, tinham crescido novamente.
Canavero já enfrentou ceticismo similar em seus trabalhos passados. No ano passado, ele afirmou que transplantado a cabeça de um macaco, e que o animal sobreviveu por 20 horas após a operação, mas parecia um esforço para atrair a atenção da imprensa. O caso não tinha um artigo publicado na época (e não consegui descobrir se o artigo foi publicado desde então). Além disso, se você ler toda a proposta, ela soa bem insana, e críticos pensam que esses estudos se baseiam em “má ciência”.
Dito isso, a Newsweek reporta que, embora um cidadão chinês irá substituir o homem russo que se ofereceu para o primeiro transplante, a equipe ainda planeja realizar a operação em dezembro. Canavero disse que daria uma conferência para imprensa “global” com mais detalhes.
Veja só, Canavero – estamos definitivamente interessados, mas dada a extrema natureza de uma operação dessas, ninguém irá acreditar em você até que outras pessoas reproduzam seus métodos – é assim que a ciência funciona.
Ou até que algum cara ande por aí com um corpo totalmente novo.
[CNS Neuroscience and Therapeutics via Newsweek]
Imagem do topo: Ryan F. Mandelbaum/Brandonng06/Wikimedia Commons