O programa de fusão do MIT vem passando por tempos difíceis, mas nem por isso deixou de quebrar grandes recordes mundiais e de manter o sonho de uma energia limpa e ilimitada. Em uma conferência da Agência Internacional de Energia Atômica no Japão, pesquisadores envolvidos com o reator Alcator C-Mod anunciaram que conseguiram gerar a maior pressão de plasma já registrada.
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O reator de fusão atingiu a marca perto da meia-noite do dia 30 de setembro, o último dia de sua operação. “Nós elevamos os parâmetros de propósito no final, para ver se ele conseguia superar os valores que tínhamos atingido antes”, disse Martin Greenwald, vice-diretor do MIT Plasma Science and Fusion Center, ao Gizmodo. “Foi bem empolgante.”
A fusão
A fusão é uma fonte futurista de energia que os físicos vêm perseguindo por cerca de 50 anos. A ideia, basicamente, é aquecer átomos a 100 milhões de graus ou mais, até um ponto em que eles se separam e se tornam uma massa flutuante de prótons e elétrons, chamada plasma. Então, é possível aproveitar os picos extremos de energia que são liberados quando os núcleos atômicos colidem entre si.
O problema é que, para obter mais energia de um reator de fusão do que a necessária para fazê-lo funcionar, precisamos atingir um ponto em que o plasma seja autossustentável, isto é, que queime sozinho com adições mínimas de energia. Mas o plasma só consegue atingir esse “estado estável” se puder ser contido, e átomos em altíssimas temperaturas não gostam de ser contidos – eles gostam de se espalhar para todos os lugares.
Existem algumas maneiras de tentar fazer com que o plasma fique estável. O reator do MIT focava em confinamento magnético, ou seja, utilizava campos magnéticos extremamente fortes para forçar os átomos a se juntarem. E foi o método que conseguiu quebrar um recorde mundial, então podemos assumir que é uma direção interessante para se explorar.
Corte de verba
Infelizmente, o recorde foi batido minutos antes de o Alcator C-Mod, o único reator compacto e de grande campo magnético com design tokamak do mundo, ser desligado. Depois de 23 anos de operações, o Departamento de Energia dos EUA retirou o apoio financeiro do dispositivo do MIT pelo fato de um reator supercondutor na França, chamado ITER, estar devorando toda a grana de pesquisa nuclear.
Curiosamente, para algumas pessoas, o ITER é o futuro da energia de fusão; e para outras, é um projeto inchado e bagunçado que irá atrasar o progresso desse campo pelos próximos 20 anos.
De qualquer maneira, o programa de fusão do MIT, que ao longo dos anos atraiu algumas das mentes mais brilhantes que estudavam a física do plasma, foi encerrado. De acordo com Greenwald, a universidade está procurando investidores na iniciativa privada para uma linha de pesquisa de baixo custo, com reatores de fusão compactos que estudantes de pós-graduação projetaram no ano passado.
Eles também estão pedindo mais fundos ao governo para estudar diferentes aspectos do problema do confinamento do plasma, incluindo as interações entre o plasma quente e os materiais comuns que ficam nas paredes dos reatores.
O último marco da energia de fusão deixa sentimentos mistos, e mantenho a minha crença de que o verdadeiro problema com a energia de fusão não é uma barreira científica intrínseca. Na verdade, o problema tem a ver com a capacidade de dar aos especialistas o tempo e os recursos necessários para vencer os desafios tecnológicos, sem que eles tenham que se preocupar tanto com o apoio financeiro.
A maior recompensa da energia de fusão pode demorar décadas, mas vamos lembrar do que se trata: é a energia das estrelas.
[MIT Research News via The Guardian]
Imagem: interior do reator de fusão Alcator C-Mod no MIT. Bob Mumgaard/Plasma Science and Fusion Center/MIT