Em Perdido em Marte, Matt Damn usa as próprias fezes para fertilizar batatas e sobreviver no planeta vermelho. Enquanto todos sabem que o Matt Damon não é de fato um astronauta, sabemos que excremento humano é bem real – e ele pode ser um fator integral para enviar humanos a Marte em um futuro próximo.
Pesquisadores da Universidade Clemson, na Carolina do Sul, estudam como moléculas do suor e urina dos astronautas podem ser convertidos em plástico para ser usado como ferramentas dentro da nave. A equipe foca em uma linhagem de levedura chamada Yarrowia lipolytica, que os astronautas cultivariam com o carbono e nitrogênio do próprio excremento. A levedura então agiria como um “reciclador espacial”, criando óleos e gorduras que eventualmente poderiam servir de material para a produção de bioplásticos. O trabalho dos pesquisadores será apresentado esta semana no 254º Exposição e Encontro Nacional da American Chemical Society (ACS).
Se tudo correr conforme o planejado, a Yarrowia lipolytica poderá criar poliéster, o material usado naquelas roupas desconfortáveis. Mas ao longo da viagem para Marte, este plástico pode ser usado em impressoras 3D, que hipoteticamente poderão construir ferramentas sob demanda para os astronautas. Então, caso algo quebre durante o percurso – sem problemas! Um pouquinho de xixi resolve isso.
Astronautas em longas missões não poderão carregar muito equipamento extra para as viagens, já que isso faria a nave pesar mais, além de elevar a quantidade de combustível necessário para lançar a nave no espaço. Como viagens espaciais de longa duração requerem que a tribulação seja parcimoniosa com os recursos, reciclar a urina faz muito sentido – inclusive, astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (EEI) já fazem algo do tipo.
“Nós bebemos o processamento da nossa urina e suor na EEI”, explica Lelan Melvin, ex-astronauta da NASA e educador do STEAM. “Coisas como xixi, cocô e higiene são muito importantes. São as coisas básicas que – se não as fizermos direito – atrapalham a missão porque as pessoas ficam doentes. Mas por outro lado, diminui o nosso consumo pois nosso lixo vira o nosso tesouro”.
Assim como reles humanos normais, os astronautas também vão ao banheiro. O mais cedo que pudermos transformar excremento em algo útil, mais próximo estaremos de nos tornar uma espécie multi-planetária. Eba?
Imagem de topo: Paul Hudson/Flickr