Um grupo internacional de pesquisadores afirma ter encontrado evidências que apoiam a possibilidade de uma nova terapia antiviral para a Covid-19: um remédio chamado suramina. O estudo que descreve a aplicação foi publicado na revista Communications Biology.
A suramina é uma droga desenvolvida inicialmente como um antiparasitário pelo laboratório Bayer, em 1916, mas que depois demonstrou atividades antivirais e antibacterianas. Atualmente, usa-se o remédio para tratamento da doença do sono, uma infecção parasitária transmitida por moscas e encontrada na África subsaariana.
Os pesquisadores do Instituto Rensselaer em Nova York, e de outras instituições de pesquisa nos EUA e Coreia do Sul fizeram experimentos in vitro para chegar à conclusão. Eles afirmam que o remédio é capaz de bloquear a interação entre receptores das células hospedeiras e da proteína spike do vírus, inibindo a infecção. A fórmula foi mais eficaz contra a subvariante ômicron do do que contra a subvariante delta e a linhagem original.
“É importante ressaltar que, à medida que o vírus SARS-CoV-2 continua a evoluir, parece obter uma afinidade maior com o heparan sulfato da célula hospedeira [um receptor das nossas células que se liga à proteína do vírus”, disse Jonathan Dordick, que liderou o estudo, em comunicado.
Isso tornaria o remédio ainda mais interessante para o bloqueio dessa interação, segundo a equipe. “Esta é uma possível razão pela qual a suramina é mais eficaz contra a subvariante ômicron do que contra a delta ou em relação à proteína spike original (do tipo selvagem do vírus).”
Longo caminho para o remédio
Hoje, a suramina não é aprovada pela Anvisa, nem pela Food and Drug Administration (FDA, a Anvisa dos Estados Unidos) devido a preocupações de toxicidade. Outros cientistas também já testaram o remédio para o tratamento de doenças como a distrofia muscular, leishmaniose visceral e para a redução de sintomas do transtorno do espectro autista (TEA). Mas não há resultados sólidos por enquanto.
O estudo liderado pelo Instituto Politécnico Rensselaer não é o primeiro estudo pré-clínico que estudou o potencial da suramina para o tratamento da covid-19 – e não deve ser o único. Afinal, ainda há muitos experimentos para se fazer com o suramina para se comprovar seu potencial contra a infecção – e, se comprovado, um longo caminho antes de se desenvolver e disponibilizar uma terapia baseada no remédio.