Nos idos de 2004, o Show da Vida™ tentava entender – e explicar – um fenômeno que estava se alastrando pela internet brasileira: o Orkut. O resultado, intencionalmente ou não, é hilário.
• Hello, a nova rede social do fundador do Orkut, chega ao Brasil
• Rede social Vine chega ao fim
Uma reportagem do Fantástico, preservada no YouTube, queria mostrar para o público em geral o apelo e o funcionamento do Orkut, meses após seu lançamento em janeiro de 2004. Era uma época em que redes sociais como as conhecemos ainda estavam nascendo, e até mesmo o acesso à internet no Brasil era bem menos difundido do que hoje.
A reportagem começa dizendo que os usuários do Orkut têm muitos amigos mas “não fazem parte do seleto grupo de ricos e famosos”; na verdade, eles foram “contaminados por uma praga que surgiu na internet”.
Pedro Bial: Faça as contas. Quantos amigos você fez nos últimos três meses?
Renata Uchôa: 81.
Mulher: 52.
Pablo Miyazawa: 450.
Bial: Calma, gente, eles não fazem parte do seleto grupo de ricos e famosos. Foram contaminados por uma praga que surgiu na internet: o Orkut.
E então bate a nostalgia: os PCs antigos numa sala de computadores; a câmera filmando monitores de tubo bem de perto, e sobreposições entre telas e pessoas que só podem ser descritas como arte.
A reportagem arrisca uma entrevista por e-mail com o turco Orkut Büyükkökten, criador da rede social, mas nem ele entendia o sucesso no Brasil na época.
No ano seguinte, em entrevista à Folha, ele ainda não sabia explicar a grande presença de brasileiros: “não tenho a menor ideia. Talvez seja cultural, tenha a ver com a personalidade de vocês, que são conhecidos como um povo amigável. Pode ser devido à própria característica do mecanismo de entrada no site (só pode se cadastrar quem receber um convite de um dos cadastrados)”.
Em 2007, Büyükkökten visitou o país e disse ao Jornal do Brasil: “é uma combinação de fatores – os brasileiros gostam de internet e o Orkut é fácil de usar, até quando estava apenas em inglês”.
Voltando ao vídeo: ele descreve os usuários da rede social como “orkuteiros”, e lembra que deles, metade era de brasileiros já na época. A reportagem do Fantástico pede, então, a ajuda de um professor de matemática para “calcular onde essa brincadeira vai parar”.
Para dar uma ideia do alcance das redes sociais, o professor imagina o que aconteceria se cada usuário do Orkut adicionasse dois novos amigos por dia. Isso é uma progressão geométrica de base 2 que, por crescer exponencialmente, ultrapassa o número de pessoas na Terra em cerca de um mês (é quase a lógica de um esquema de pirâmide). Claro, o Orkut nunca sequer chegou perto de um bilhão de usuários, marca que o Facebook ultrapassou em 2012.
A reportagem finaliza com algo sobre amigos online que vale até hoje: “amigo é amigo, orkuteiros são um caso à parte”.
Seus dados do Orkut já foram deletados pelo Google; mas as divertidas comunidades do passado e as curiosas reportagens sobre esta rede social ainda permanecem.