Réptil antigo desenvolveu cabeça “de pássaro” 100 milhões de anos antes dos pássaros

Imagine um animal com o corpo de um camaleão, pés e patas de tamanduá, corcunda de camelo e uma cauda que é ao mesmo tempo achatada como a de um castor e parecida com a de um escorpião. Se você está achando que isso soa como se alguém tivesse jogado seu zoológico local em um […]

Imagine um animal com o corpo de um camaleão, pés e patas de tamanduá, corcunda de camelo e uma cauda que é ao mesmo tempo achatada como a de um castor e parecida com a de um escorpião. Se você está achando que isso soa como se alguém tivesse jogado seu zoológico local em um liquidificador, é compreensível.

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Mas essa descrição maluca se encaixa com um grupo de verdade de répteis de árvore, extinto há muito tempo, que viveu há mais de 200 milhões de anos. Agora, uma nova espécie dessas criaturas estranhas foi identificada, e seus restos fossilizados contribuem para a estranheza anatômica, mostrando que esse antigo réptil desenvolveu uma cabeça sem dentes, notavelmente parecida com a de pássaros, em um mundo 100 milhões de anos antes do surgimento de pássaros.

A nova espécie, chamada de Avicranium renestoi, descoberta no Novo México e descrita em um novo artigo publicado na Royal Society Open Science, é membro de uma enigmática linhagem de répteis triássicos conhecida como Drepanosauromorpha. Os drepanossauros foram descobertos pela ciência apenas há algumas décadas, aparecendo esporadicamente na América do Norte e na Europa.

O que sabemos deles vem de esqueletos incompletos de um pequeno número de espécies, que são surpreendentemente diversas anatomicamente, cada uma delas descoberta como mais estranha do que a anterior.  Eles parecem ser especialistas em perseguir insetos em árvores, com maioria das espécies ostentando poderosos membros para agarrar e caudas preênsil. Por causa desses traços, os drepanossauros já foram chamados de “simiossauros”, literalmente “lagartos-símios”, embora eles sejam apenas parentes muito distantes dos lagartos.

Muitas dessas espécies tinham corcundas e cumes altos sobre seus ombros, pontas de garras em suas caudas e cabeças esquisitas em comparação com seus répteis contemporâneos — triangulares e frágeis. O fóssil do Avicranium é uma descoberta importante porque representa um dos poucos crânios de drepanossauro conhecidos — um que também manteve seu formato tridimensional (diferentemente de outros crânios mutilados e comprimidos de drepanossauro).

Ilustração do crânio restaurado do Avicranium renestoi baseado em renderizações de superfície tridimensionais de elementos cranianos. De Pritchard e Nesbitt, 2017.

Usando uma combinação de tomografia computadorizada e modelagem no computador para mapear e visualizar seu formato, pesquisadores conseguiram reconstruir com sucesso o crânio do Avicranium, revelando uma cabeça que parecia ter pertencido a um animal longe do galho do Avicranium na árvore da vida — e que não existiria por mais dezenas de milhões de anos. Embora algumas das características da cabeça do Avicranium traiam seu status de ramificação inicial da linha réptil (como seus ossos da orelha), existem várias outras modificações extremas que tornam o Avicranium parecido com algo que você veria aparecer no alimentador de pássaros do seu quintal.

O focinho é completamente desdentado e parecido com um bico, algo incomum mesmo entre drepanossauros. Os olhos grandes são voltados para a frente, provavelmente fornecendo visão estereoscópica. Mais notavelmente, a caixa craniana incha para fora de modo visto apenas em répteis voadores, como pterossauros e maniraptoras (pássaros e seus parentes próximos). É possível que a vida como especialista em viver no topo de árvores levou o Avicranium a essa remodelação craniana.

Navegar por um ambiente tridimensional variável requer visão precisa, percepção de profundidade e coordenação, além da capacidade cerebral para processar todas essas demandas. Pássaros e pterossauros têm exigências neurológicas parecidas, para a maior complexidade do voo.

A estranheza inabalável do Avicranium ajuda a ilustrar a imagem emergente de um período Triássico cheio de especializações e diversidade corporal inesperadas em grupos “primitivos” de animais. Muitos grupos de répteis no Triássico são hoje reconhecidos como pioneiros no conceito de “bauplan” (formas do corpo) eras antes de a evolução refazê-los em nome de novas espécies.

As vias fluviais triássicas eram patrulhadas por phytossauros, que pareciam com crocodilos e viviam exatamente como eles. Eles eram répteis com cabeças abobadadas que definitivamente não eram os famosos dinossauros com que pareciam tanto. Esses casos consistem de “evolução convergente”, um fenômeno em que a evolução resulta em soluções parecidas para problemas parecidos, de maneira independente, em organismos completamente diferentes, e o novo drepanossauro com cabeça de pássaro certamente se encaixa nisso.

[The Royal Society Open Science]

Imagem do topo: Matt Celeskey

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