Lá no começo dos anos 60, o doutor Stewart Adams teve uma ressaca daquelas. Então, ele fez o que muitos cientistas confiantes daqueles tempos fariam: ele tomou um punhado da droga experimental em que ele estava trabalhando. E funcionou — o composto seria mais tarde conhecido como ibuprofeno.
Falando à BBC, o dr. Stewart Adams relembra como o ibuprofeno foi desenvolvido. De fato, foi um longo e lento caminho até chegar em um novo tratamento não-esteroide para artrite reumatóide. Num período de dez anos na Boots Pure Drug Company Ltd, Adams e seus colegas testaram cerca de 600 compostos diferentes para esta aplicação.
As substâncias que passavam no teste de toxicidade acabavam sendo testadas pela própria equipe — uma prática inimaginável nos dias de hoje. Uma delas, recorda Adams, funcionou particularmente bem quando ele teve ressaca depois de um discurso importante:
Eu fui o primeiro a falar e tive uma dorzinha de cabeça depois de sair com meus amigos. Então eu tomei uma dose de 600mg, apenas para confirmar, e descobri que foi muito efetiva… Isso foi importante para fazer o resto da equipe experimentar, e eu fiquei empolgado por ser a primeira pessoa a tomar uma dose de ibuprofeno.
O resto, como dizem, é história. A substância que ele provou, conhecida pelos químicos como ácido 2-(4-isobutilfenil)propanóico, passou por uma série de testes clínicos em 1961, e foi enfim aprovada para uso no Reino Unido como a droga anti-inflamatória não esteroide ibuprofeno. Os bons resultados no que diz respeito à segurança permitiram que a droga pudesse ser vendida sem prescrição médica desde 1983. Hoje em dia, cerca de 20 mil toneladas de ibuprofeno são feitas todo ano.
Adams foi homenageado por sua pesquisa recentemente, ganhando um título honorário de doutorado em ciência da Universidade de Nottingham. E, apenas para deixar claro, engolir químicos em fase experimental é, na grande maioria das vezes, uma péssima ideia. Provavelmente você não terá a mesma sorte que Adams.
[BBC]
Imagem: Stephan Ohlsen, sob licença Creative Commons