Maior vazamento da história revela corrupção mundial em 2,6 terabytes de dados

Equipe internacional de jornalistas obteve dados sobre contas offshore e paraísos fiscais gerenciados pelo escritório jurídico Mossack Fonseca, do Panamá.

Uma equipe internacional de jornalistas obteve o “maior vazamento da história”: são 2,6 terabytes de dados sobre contas offshore e paraísos fiscais gerenciados pelo escritório jurídico Mossack Fonseca, do Panamá. Eles revelam esquemas de corrupção ao redor do mundo, e claro que o Brasil está envolvido.

Cem organizações de mídia no mundo inteiro vêm trabalhando nesse projeto – chamado de “Panama Papers” – ao longo do último ano. No Brasil, participam da investigação o UOL, o Estadão e a RedeTV!.

São mais de 11,5 milhões de arquivos, uma escala extremamente maior do que os telegramas diplomáticos revelados pelo WikiLeaks em 2010, por exemplo. Esta imagem mostra como o vazamento é gigantesco:

Os dados foram vazados ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung por meio de um informante que usava meios de comunicação digital seguros. Como seria impossível lidar sozinho com tantas informações, o jornal procurou o Consórcio Nacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) para compartilhar a tarefa.

São cerca de 214 mil empresas offshore, abertas e fechadas em 21 países diferentes, entre 1977 e 2015. A Mossack Fonseca trabalhava com cerca de 14 mil intermediários, incluindo bancos e escritórios de advocacia, dos quais 403 eram do Brasil.

No Brasil

Eis alguns dos casos descobertos por jornalistas brasileiros:

– pelo menos 107 empresas offshore estão ligadas a personagens da Operação Lava Jato, e ainda não haviam sido mencionadas por investigadores brasileiros. Algumas dessas contas estão ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer (controladora do grupo Suzano) e a Walter Faria, do Grupo Petrópolis;

– a Mossack Fonseca também criou ou vendeu empresas offshore para políticos brasileiros e seus familiares, e há ligações com PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB;

– documentos mencionam uma das contas atribuídas a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Ela foi aberta por meio da offshore Penbur Holdings, administrada pela Mossack Fonseca; e os detalhes batem com a descrição feita na delação premiada do empresário Ricardo Pernambuco – ele diz que Cunha teria usado a conta da Penbur para receber propina. Cunha nega ter contas no exterior;

– Carlos de Queiroz Galvão, dono da construtora Queiroz Galvão, comprou duas empresas offshore em 2014, após a Polícia Federal ter deflagrado a Operação Lava Jato. Uma das empresas foi usada para movimentar uma conta no banco Crédit Agricole. A construtora diz que a offshore foi usada para comprar um imóvel no exterior;

– Joaquim Barbosa comprou um apartamento de 73 m² em Miami em 2012, enquanto era presidente do Supremo Tribunal Federal e relator do processo do mensalão. Ele usou uma companhia offshore criada pela Mossack, e aparentemente deixou de pagar um imposto de US$ 2 mil.

Quanto a este último caso, Barbosa respondeu no Twitter que trabalhou por mais de quatro décadas, boa parte delas “com remuneração elevada”, e que teria condições de pagar por um imóvel de R$ 600 mil.

O UOL lembra que “a lei brasileira permite a qualquer cidadão ter uma empresa num paraíso fiscal. É necessário, entretanto, que a operação esteja registrada no Imposto de Renda do proprietário”. Barbosa diz que a transação foi informada à Receita Federal e o imóvel “consta de todas as minhas declarações de IR”.

No mundo

O jornal britânico The Guardian também publicou uma série de artigos sobre possíveis casos de corrupção em outros países:

– detalhes sobre uma rede de acordos e empréstimos no valor de US$ 2 bilhões ligando o presidente russo Vladimir Putin e seus conhecidos mais próximos;

– revelações de como os membros da comissão de ética da FIFA estavam mais estreitamente relacionados com a corrupção do que se pensava;

– e uma offshore do primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson, suspeito de ter escondido milhões de dólares nas Ilhas Virgens britânicas.

panama papers

Há ainda o caso de uma offshore associada a Mauricio Macri, presidente da Argentina, e a dois familiares. Ela foi dissolvida em 2009 e não aparece nas declarações patrimoniais do político (na época, ele era prefeito de Buenos Aires). Um porta-voz do governo argentino diz que as contas não são de Macri, e sim do grupo familiar Socma, e garante que o grupo declarou essas contas.

A lista também inclui Xi Jinping, presidente da China; os reis Mohammed VI e Salman, de Marrocos e Arábia Saudita; o pai do primeiro-ministro britânico, David Cameron; e até mesmo celebridades como o jogador de futebol Lionel Messi e o ator Jackie Chan.

A Mossack Fonseca é o quarto maior provedor de serviços offshore no mundo. A empresa diz que os seus “serviços são regulados em vários níveis, muitas vezes com sobreposição de agências, e nós temos um registro de forte cumprimento das regras”, acrescentando que eles são “membros responsáveis ​​da comunidade financeira e empresarial global”.

Confira mais detalhes no site da ICIJ: panamapapers.icij.org.

[Blog do Fernando RodriguesG1 – The Guardian]

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