[Review] Samsung Galaxy S III

Nunca um smartphone da Samsung causou tanta curiosidade assim. Foram meses de informações vazadas, especulações desencontradas e até aparelhos vistos dentro de cases, tamanho segredo em torno do design do sucessor do Galaxy S II. A responsabilidade era enorme: substituir o rei dos Androids em 2011. O Galaxy S III é tão imponente assim? Resposta […]

Nunca um smartphone da Samsung causou tanta curiosidade assim. Foram meses de informações vazadas, especulações desencontradas e até aparelhos vistos dentro de cases, tamanho segredo em torno do design do sucessor do Galaxy S II. A responsabilidade era enorme: substituir o rei dos Androids em 2011. O Galaxy S III é tão imponente assim?

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Resposta rápida: sim. Resposta mais detalhada: chega mais.

Hardware e Design

Uma coisa não podemos negar: a Samsung anda bem fiel à sua escola. Desde o lançamento do primeiro Galaxy, a empresa abdica do metal escovado e utiliza plástico em sua família topo de linha. Nas duas gerações anteriores, isso era praxe em qualquer review — um ótimo smartphone, mas por tal preço esperávamos uma construção mais confiável. Isso se repete no Galaxy S III, mas com algumas importantes ressalvas.

Primeiro porque eu não tive coragem de dobrar a capa traseira mais do que isso:

Eu queria ir além, mas não deu. Há um limite para cada um de nós, você entende? E, como vocês podem ver, esse limite pode ser ainda maior do que isso. Eu não vejo muitos pedaços de plástico fazendo isso. E eis o truque: isso é policarbonato, e não plástico comum.

Você frequentemente terá a sensação de estar segurando um aparelho “barato” — a lateral pintada em prata só aumenta a sensação — mas se isso é um sacrifício necessário para um aparelho duradouro, entendemos os coreanos.

Da mesma forma que entendemos também, após passar um bom tempo com o aparelho, o design do Galaxy S III. Grande mistério antes de seu anúncio, em maio, o aparelho vem sendo chamado por aí de “saboneteira”. Muitos ficaram decepcionados com o que viram no dia. Mas há mais acertos do que erros aqui.

Primeiro, ele é absurdamente leve. 133 gramas. Sabe quando você pede 100 gramas de presunto, o cara coloca aquelas duas fatias a mais e você diz “tudo bem”? É isso. Curiosamente ele tem apenas 7 gramas a menos do que o iPhone 4S, mas por causa do tamanho de sua tela, ele parece sensivelmente mais leve.

Fila indiana de iPhone 4S, Galaxy S III e o Razr, da Motorola

Depois, ele tem uma empunhadura incomum aos celulares atuais. Ele encaixa na mão de forma exata, com sua lateral arredondada e sem pontos obtusos, apenas como se ele realmente tivesse sido “desenhado para humanos”, como a Samsung quer vendê-lo. No fim das contas, você às vezes até esquece de tê-lo no bolso, já que ele não traz o efeito “homem-beringela”, principalmente por sua espessura, 8,6mm. Ergonomia em primeiro lugar.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas há um sensível porém: a tela é grande demais para mim. A Samsung fez um ótimo trabalho ao espremer a moldura e colocar a tela de 4,8 polegadas de um jeito menos asssutador do que no Galaxy Note. Mas certas coisas não mudam.

Eu me acostumei com o iPhone 4S. Me acostumei com a facilidade de usar o dedão para fazer basicamente tudo, até mesmo digitar com uma só mão. Com o Galaxy S III, sem dúvidas eu teria uma lesão no osso do dedão ao tentar fazer isso.

Há um limite de alcance do dedão. O meu, por exemplo, deixa uma faixa de cerca de um centímetro sem alcance. Requer o uso com duas mãos. Para piorar, essa faixa é uma das áreas mais quentes do Android: o topo, onde fica a central de notificações e a barra de endereços do Chrome. Isso é um pouco irritante, mas se você já usa o celular com frequência com duas mãos (basta ter comprado um Android gigantesco no ano passado), o costume é natural. Até porque, claro, há o lado positivo de uma tela desse tamanho…

Tela

Deixemos de lado a discussão sobre PenTile e a construção de pixels dessa tecnologia. O que importa mesmo é o que vemos quando a tela de 4,8 polegadas se acende. E o resultado é bem animal. A combinação de AMOLED com a resolução de 1280x720p e 306 ppi coloca o Galaxy S III lado a lado com a Retina Display do iPhone 4S:

iPhone 4S e Galaxy S III

E esse nível de detalhamento é importante para uma tela tão grande: os textos em aplicativos como o Kindle e o Instapaper são melhor renderizados e há uma facilidade em ler por longos períodos; jogos mais recentes como GTA III e Oscura rodam de forma belíssima; e eu até assisti às finais da NBA na tela do celular, pelo NBA.TV, sem sentir falta da TV.

Mas é preciso reparar que os pontos fortes e fracos do AMOLED da Samsung continuam aqui. Os níveis de preto, por exemplo, continuam absurdos em qualquer situação, com um contraste incrível, mas não é incomum ver o aparelho pendendo para outras matizes de cor — às vezes com um tom amarelado, outras vezes azulado.

Câmera

Já me sinto confortável o suficiente para dizer que câmeras de smartphones substituem, com certa folga, câmeras point-and-shoot convencionais. No ano passado, com o Galaxy S II e o iPhone 4S, o caminho já havia sido traçado. Agora, a Samsung subiu mais alguns degraus para decretar de vez a morte da câmera de bolso.

A sacada aqui é a combinação de um ótimo sensor de 8 Megapixels com um software rápido e cheio de truques. Se o sensor é capaz de adicionar uma profundidade de campo incomum aos smartphones, o aplicativo também já traz um modo de disparo contínuo e opção de HDR. O nível de detalhamento das imagens é incrível. Aqui, vale mais a pena observar do que ler.

O que nos surpreendeu foram os resultados à noite. Mesmo com pouca luz — e sem confiar no flash, ainda um problema em celulares — a câmera foi capaz de tirar fotos mais do que decentes, o que já é um grande avanço. O que nos incomodou foi a ausência de um botão físico para os cliques — há um botão na lateral direita, o que liga e desliga o aparelho, que poderia muito bem ser utilizado para a câmera. Tocar na tela para fotografar não é só ruim, é ergonomicamente incorreto.

Mesmo na parte de vídeo, em full HD, o resultado à noite, em ambientes fechados, é bem aceitável:

[youtube ARPbuPa1j2s 640 360]

O único incômodo na hora de filmar é que a câmera ainda tem aquela dificuldade no foco automático, e é normal perder um ou dois segundos esperando que o sensor se encontre.

Usando o aparelho

Velocidade

O que você espera da junção de um processador Exynos de quatro núcleos com o Android 4.0? Velocidade, claro. Mas como o Galaxy S II já era extremamente veloz, o S III apenas aparou as arestas.

A evolução dos Galaxy é realmente notável. Em questão de três anos, a Samsung foi capaz de desenvolver processadores que casam bem demais com o Android. Para efeito de comparação, peguemos o benchmark Quadrant Standard, um dos mais populares do robô: em 2010, o Galaxy S marcava 1.917 pontos. Em 2011, o Galaxy S II, ainda com Android 2.3, marcou 2.959 pontos nos testes do chapa Henrique, do Ztop.

Mas com o Android 4.0, as coisas ficam próximas. O S II marca 4.069, enquanto o S III atinge 5.062 pontos. A diferença é que ele não vê ninguém à sua frente: nem o One X, da HTC, nem o tablet Transformer Prime, da Asus, são capazes de ultrapassar os quatro núcleos do Exynos.

Na vida real, essa evolução da segunda para a terceira versão não é tão gritante assim. Claro, tudo é mais fluido e não há menção de travamento, mas você só vê o real poder do processador em tarefas específicas, como “janelar” um vídeo — você pode assistí-lo enquanto faz outras atividades, como abrir o navegador ou olhar o calendário. Ele faz isso sem nenhum engasgo. Não há outro Android tão capaz quanto este.

Android 4.0

Essa velocidade somada à evolução do Android é realmente matadora. Ultimamente, boa parte dos aplicativos que me fizeram mudar para o iOS estão no robozinho. Instapaper, Flipboard, Instagram, jogos atuais. São poucos os buracos que o sistema não cobre mais. A tendência, pelo visto, é que cada vez menos aplicativos sejam desenvolvidos exclusivamente para iOS. E isso é bom. Sério, se até o Instapaper foi parar lá, o céu é o limite.

E o sistema ainda traz uma carta na manga simplesmente animal: Chrome para Android. Esse é o melhor navegador móvel que existe, ponto final. A troca entre abas, a edição de conteúdo, a renderização de fontes, tudo está melhor nessa combinação do novo Android e do navegador do Google.

O TouchWiz, cada vez menos intrusivo, traz uma série de pequenas melhorias que me fazem pensar que eu daria um celular desse para minha mãe sem medo que ela zerasse sua bateria em duas horas e não conseguisse fazer nada. Na área de notificações, duas fileiras de cinco ícones facilitam a vida para resolver qualquer configuração: Wi-Fi, GPS, vibracall, rotação, economia de energia, notificações… São as opções realmente úteis.

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Na tela bloqueada, há quatro ícones de acesso rápido: telefone, browser (o stock, não o Chrome), câmera e o app ChatON, o Whatsapp da Samsung. O problema é que no emaranhado de configurações, não encontrei forma de editá-los. Sim, alguns becos sem saída nas configurações ainda existem, mas eles são pequenos.

Truques (úteis e inúteis) da Samsung

Mesmo mexendo pouco, a Samsung fez questão de falar sobre a Nature UX, que seria o seu toque “humano” ao Android, e frisou muito a leva de aplicativos que já vem pré-instalados no aparelho. Aqui temos coisas úteis, truques baratos e algumas coisas que ainda são mais confusas do que práticas.

Primeiro, a tal Nature UX basicamente não é nada. É aquele efeito de água na tela bloqueada, transições de telas transparentes e outros mimos mínimos, o pinçar para exibir todas as homescreens… nada que o Android não tenha há um bom tempo, agora de forma mais polida e bem feita.

Uma bela solução que a Samsung arranjou para o pouco espaço interno do aparelho nacional (apenas a versão de 16GB chegou aqui) é a parceria com o Dropbox: por dois anos, você ganha 50GB de espaço na nuvem. Isso somado ao upload automático de fotos é provavelmente uma das soluções de nuvem mais úteis que eu já usei.

Já os apps e soluções tem uma ou outra utilidade: o S Memo é o aplicativo de notas do Galaxy Note, em que você rabisca e desenha recados; o S Suggest sugere apps baseados nos seus; e o S Planner é um calendário comum. Nada de muito incrível por aqui.

O que nos chamou mais a atenção foram três coisas: Smart Stay, Wi-Fi Direct e S-Beam.

O primeiro é realmente útil para quem lê no celular. Com a câmera frontal, o S III percebe se você está ou não olhando para a tela. Com ele ativado, um pequeno olho pisca na barra de notificações toda vez que a câmera confere onde estão seus olhos. Se você se afasta, o brilho diminui e a tela se apaga. Se você está concentrado em qualquer canto dela, o celular ignora o tempo-limite e não apaga.

Já o Wi-Fi Direct e o S-Beam são curiosos: o primeiro é menos alarmado por não usar uma nova tecnologia, mas parece mais útil. Basta dois celulares estarem na mesma rede para transferência direta de arquivos. O segundo usa NFC. Revolucionário, né? Mais ou menos. Para trocar arquivos via NFC, precisei colar um Galaxy S III em outro e ficar esperando as opções aparecerem na tela. O processo não foi muito intuitivo, nem rápido. Ainda é algo que precisa evoluir um bocado — e curioso descobrir que o NFC fica na bateria, né? Cuidado ao trocá-la.

A ausência notável nos aplicativos da Samsung é o S Voice, o sistema de voz concorrente do Siri, da Apple. A empresa argumenta que quer lançá-lo aqui apenas quando ele estiver adaptado ao mercado nacional — leia-se, falar e entender o bom português. No entanto, é fácil instalá-la no S III: o app está disponível no Samsung Apps, que vem no aparelho.

Em nossos testes com a moça falando inglês — a voz dela é típica daqueles GPS, feminina e suave, como se você estivesse em uma aula de ioga — as respostas vieram de forma mais fácil do que no Siri, do iPhone. Ela deu dados de temperatura com bastante detalhe, chegou a ler minha agenda… mas nada mais do que isso. Ela parece entender meu inglês com mais facilidade do que a solução da Apple, mas sua utilidade ainda é bem limitada. Esperemos a versão nacional, que a Samsung promete para o segundo semestre deste ano.

Movimentos

Outra aposta curiosa da Samsung é uma lista enorme de movimentos com o aparelho que você pode fazer. Alguns são bem interessantes, outros fazem você parecer um idiota. Há, por exemplo, a captura de tela com a mão: basta deslizar a mão na tela como se você estivesse separando feijões, e ela é capturada. Há também uma solução esperta dentro das mensagens — se você está mandando um SMS para alguém e decide ligá-la, basta levar o aparelho à orelha e ele já começa a discar.

Mas há alguns exagerados. Há um “toque no topo” do aparelho. Nele, se você está em uma lista, basta dar um duplo toque na cabeça do aparelho para, por exemplo, voltar para o início da lista de contatos. Mas eu tive que fazer isso várias vezes para conseguir achar o ponto ideal. O mesmo aconteceu no movimento de mudar um ícone de telas, que requer até calibração. Quando esse tipo de solução dá trabalho tanto para aprender quanto para usar, ela perde o sentido. Mas se você acha que isso é do futuro, esse cara aqui compilou os movimentos em um vídeo:

[youtube 6prVw-nVozY 640 320]

Bateria

Eis um belo trunfo do Galaxy S III. No evento da Samsung, um dos executivos chegou a dizer que o processador de quatro núcleos gasta menos energia. Pode soar estranho, mas faz bastante sentido: delegando tarefas de forma mais distribuída, é natural que o aparelho consuma menos energia.

Isso significa que, no meu uso diário, com 3G ligado o dia todo, checando redes sociais com alta frequência, trocando mensagens e navegando um bocado, o Galaxy S III aguenta o dia todo. No fim de semana, com o uso mais moderado, ele aguenta dois dias — no fim da tarde do domingo você começará a pensar na tomada. É, finalmente, uma revolução que o Android merecia em seus aparelho topo de linha. O fim do vício com a tomada. Do aparelho que invarialvelmente dorme conectado. Mas por um preço, certo?

Então, vale a pena comprar o S III?

Sim.

O Galaxy S III é disparado o Android mais completo e interessante que já usei. Ele é ergonômico, tem uma tela arrebatadora, seu sistema operacional evoluiu consideravelmente e a oferta de apps está melhor do que nunca. É o tipo de compra que daqui a dois anos você ainda provavelmente estará muito bem com ela. A aparente fragilidade pode assustar, mas creio que dá trabalho quebrá-lo. O Galaxy S III é aquele terceiro filme épico, que conclui uma história que já era interessante. Mais “Senhor dos Anéis 3” do que “Matrix 3”.

Para completar, o Galaxy S III tem tudo para reinar absoluto no mercado nacional de Androids. Estamos testando o Xperia S, da Sony, e já adiantamos que ele é apenas um súdito perante o S III. E seu maior concorrente dentro do sistema, o One X, da HTC, simplesmente não chegará ao país, já que a empresa encerrou abruptamente suas atividades por aqui. Ou seja, resta o iPhone 4S, como único aparelho a encarar o Galaxy S III. E aí, meus amigos, depende de seu gosto pelo sistema operacional — apesar das visíveis evoluções, ainda acho o acabamento final do iOS mais bem pensado. Porém, você pode preferir o serviço de mapas impecável do Google, por exemplo.

Mas há uma questão séria com o Galaxy S III: ele é um aparelho bem caro. R$2.099 por um aparelho com 16GB de espaço interno? Isso é bem mais caro do que o normal. Nenhum dos concorrentes — iPhone, Xperia S — custa tanto. Se você conseguir dobrar sua operadora (ponto para a Samsung, ele está presente em todas) e conseguir um belo desconto, a coisa toda faz mais sentido. Você provavelmente vai assustar muita gente com essa tela de 4,8 polegadas por muito tempo.

Fotos por Flávio Oota.

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