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[Review] Microsoft Surface com Windows RT: o futuro ainda não chegou

O Surface foi, até agora, a maior surpresa do ano em tecnologia. A Microsoft nos atiçou com um tablet que fazia o iPad parecer velho. Seu teclado encaixável fez todos os laptops parecerem imediatamente antiquados. E ela prometia o Futuro dos Computadores. Nós não ficávamos ansiosos por algo assim há muito, muito tempo. Agora ele […]

O Surface foi, até agora, a maior surpresa do ano em tecnologia. A Microsoft nos atiçou com um tablet que fazia o iPad parecer velho. Seu teclado encaixável fez todos os laptops parecerem imediatamente antiquados. E ela prometia o Futuro dos Computadores.

Nós não ficávamos ansiosos por algo assim há muito, muito tempo. Agora ele está aqui. E faz tempo que um gadget não me desapontava assim. O Surface é bom, mas o Surface com Windows RT com certeza não é o futuro. Pelo menos, ainda não.

Vídeo

Por que ele é importante

O laptop está tão avançado quanto alguém possa imaginar. O MacBook Air e uma horda de ultrabooks estão chegando ao limite em termos de tamanho e formato. Da mesma forma, o tablet não está exatamente fazendo civilizações avançarem: ele ainda é fundamentalmente um dispositivo de luxo, um brinquedo agradável para se ler e-mails no sofá ou assistir vídeos em um avião. Ninguém precisa de um tablet: ele é algo lindo e supérfluo. Mas todo mundo precisa de um computador.

A grande promessa da Microsoft para o Surface era desbravar o caminho para um novo tipo de gadget: toda a elegância e lazer de um tablet, combinado à capacidade de realmente fazer coisas que um computador traz. Criar, não apenas consumir. Digitar, editar, mudar. Trabalhar. Ótimo! A Microsoft afirma abertamente que o Surface reúne o melhor de tudo o que existe, a fugidia união de laptop e tablet. Ou, no mínimo, o Surface seria um tablet que você realmente pode usar como computador principal.

As pessoas que construíram o Surface a partir de uma pilha de protótipos de papelão, que virou este gadget que eu venho usando há uma semana, estavam na minha frente – quando visitei a sede da Microsoft – e disseram exatamente isso. A Microsoft está anunciando uma mudança histórica aqui. E ela tem um histórico recente de construir coisas excepcionais. Claro, está chegando uma versão do Surface com Windows 8 Pro, que terá hardware completo e potente de laptop, e vai executar o mesmo software de qualquer PC – será a melhor chance da Microsoft em oferecer um computador para você. Porém mesmo esta variante com Windows RT deveria nos dar uma síntese, que esperamos há tempos, de laptop e tablet.

A Microsoft cumpre esta promessa? Esta é a pergunta mais importante em tecnologia neste ano. O Surface pode ser o modelo para a máquina que você vai usar, e na qual vai digitar, na próxima década. Afinal, este é o Futuro dos Computadores. Sem pressão, Microsoft.

Usando

Por fora, o Surface é a tentativa da Microsoft de ganhar da Apple fazendo algo que ela faz: ficando obcecada com design. E dá para notar isso na maior parte do tempo: há uma quantidade enorme de atenção dedicada mesmo a pequenos detalhes. Isso parece bobagem, até você ouvir por si próprio: o suporte embutido no tablet possui design personalizado, e foi feito para garantir um som agradável chkkk toda vez que você o abrir. É bobagem? Só se você achar que algo que será usado e tocado inúmeras vezes durante o dia é bobagem. Isso é design bem planejado.

E na maioria das vezes, o Surface é um computador bem planejado. É bonito, na mão ou sobre a mesa, sempre com ângulos agradáveis de ver e usar. Ele parece um pouco pesado demais na mão – um pouco mais que o iPad 3 – mas ainda assim ele é confortável de segurar, com uma moldura inclinada que se encaixa perfeitamente na mão. Há uma porta USB bem conveniente que, ao contrário de outros tablets, não parece uma ferida aberta na lateral delicadamente chanfrada. A tela não alcança a nitidez da resolução no iPad Retina, porém deixa as cores mais vivas, o que ajuda o colorido Windows 8. Em todo o Surface, estes pequenos detalhes refletem o trabalho de cérebros grandes.

Mas, mais importante, o Surface é bonito. Aquela sensação de boa qualidade em ver e segurar está espalhada em todos os cantos do Surface. Você vai gostar disso cada vez que pegá-lo e ligá-lo. É uma experiência simples e que satisfaz. Abra a Touch Cover com seu teclado e trackpad, abra o apoio para mesa, e coloque-o na mesa como um laptop. Comece a escrever. Vire a capa, esconda o teclado, e segure-o como um tablet. Comece a navegar pela web com os dedos. Ou abra o apoio com a capa dobrada e crie uma base estável para ver um vídeo em uma mesa. Alternar entre esses modos é rápido, é algo totalmente intuitivo. A Touch Cover dá a sensação de ser parte integrante do Surface. Há muitos motivos para acreditar que a maioria dos computadores terá visual e experiência semelhantes em breve.

Gostamos

O Surface é instantaneamente mais atraente do que qualquer dispositivo Windows que veio antes dele. É quase do tamanho perfeito, e o formato é quase irrepreensível. Se você quer um tablet, use-lo como um tablet. Se você quer um laptop, use-o como um laptop. Ambos os modos parece certos, como um genuíno e enorme avanço. O Futuro dos Computadores pode entrar em uma mochila, ligar uma tela brilhante quase instantaneamente, executar um sistema operacional que adora ser tocado, e igualmente importante, ele tem um teclado que você pode usar para começar mesmo a realizar coisas.

“Tablets não servem para trabalhar.” É o que dizem. E se eles querem se tornar mais do que brinquedos grandes algum dia, os tablets precisam se tornar viáveis – tanto quanto um desktop – como um dispositivo para escrever (e editar) e-mails longos, apresentações e mais. O Surface com Windows RT é a primeira evidência de que isso é possível, porque você vai usá-lo como nunca usou qualquer computador antes. Seu cérebro começa a se religar, e isso é encantador.

Traga o teclado para a frente. Aperte o botão liga/desliga. Deslize para cima para desbloquear. Digite sua senha. Uma dúzia de blocos super-coloridos mostram de forma ágil o que há de novo: quem tuitou para você, o que chegou em sua caixa de entrada, notícias, suas fotos, mensagens do Facebook e mais, à medida que chegam. Você toca algo, desliza para o próximo, e então começa a digitar, fundindo hábitos que você adquiriu por anos. O Surface apresenta toda a sua internet ao mesmo tempo.

Navegar com o Internet Explorer é tão fácil quanto se deitar para assistir uma maratona de episódios no Netflix, ou trabalhar na suíte Microsoft Office completa. Tudo parece perfeito, natural, o cume de coisas úteis. Esta facilidade, a transferência de esforço entre consumir conteúdo e criá-lo, ler e escrever, ouvir e falar, permeia o Surface como a marca do Novo Computador. Isto é o que os netbooks deveriam ser (até percebemos que eram todos horríveis): computadores pequenos, poderosos, flexíveis e finos que pode fazer várias coisas e de forma fácil.

Você pode agradecer o radicalismo Windows 8 por isso. O Windows tradicional seria um inferno absoluto para usar no Surface – assim como o OS X. Mas o Metro é a melhor base que eu possa imaginar para o Futuro dos Computadores, e se você conseguir lidar com os melindres da interface, você vai adorar. Ela vai tornar você mais poderoso quanto mais você esfregar as mãos nele. É muito bom. Ou pelo menos poderá ser, daqui a algum tempo.

Não gostamos

Ainda não chegamos lá. O Surface é uma promessa fantástica, e tem um potencial fantástico. Mas potencial vale a sua atenção, não o seu dinheiro. O Surface com Windows RT acerta em tantos pontos, e reúne muita coisa boa em um único pacote. Mas ainda não está pronto.

A Microsoft pode ter algo próximo da perfeição em hardware e de revolução em software, mas o Surface sofre com um excesso de pequenos aborrecimentos e falhas. Depois que o prazer inicial de um tablet evoluído desaparece, você vai se irritar, porque o Surface parece unir dois mundos – tablet e laptop – mas na verdade ele traz o pior dos dois mundos. Em vez de trocar seu laptop e tablet pelo Surface, um coquetel de meios-termos que prejudica a experiência, você vai sentir falta dos dispositivos separados.

Quer usar o Surface como um laptop? Desculpe, mas a Touch Cover decepciona. É um esforço de engenharia fenomenal, e o teclado móvel com a melhor integração que eu já vi. Ele está à frente das opções desajeitadas com Bluetooth que existem para iPad. A Touch Cover é perfeitamente integrada ao dispositivo, e ele oferece digitação com feedback tátil. Você não pode dizer o mesmo sobre a tela do iPad.

Mas ele só se aproxima de um teclado de verdade. As teclas são ativadas por pressão – quase nem são teclas, na verdade – e são espaçadas de modo que erros se tornam inevitáveis e constantes. Ao contrário da primeira vez que você usou um iPhone ou olhou para E-ink, não há nada instantaneamente intuitivo sobre a Touch Cover. E para que o Surface seja um Admirável Computador Novo, ela precisava ser intuitiva de imediato, algo fácil de se usar e trabalhar. Mas ela exige esforço demais, muito mais que um teclado comum. Você vai se sentir desajeitado. Você vai escrever devagar. Eu tentei escrever este review no Surface, mas eu estouraria o prazo. Você vai melhorar na digitação – provavelmente levará semanas para chegar à sua velocidade normal – mas era para a Touch Cover ser um avanço, uma interface perfeito. Em vez disso, ela é apenas uma lenta subida pela curva de aprendizado. O trackpad é ainda pior: o dedo não desliza direito, e ele faz o cursor saltar na tela. Isto é um contraste enorme com a ótima touchscreen e, ao contrário do teclado, nunca vai melhorar com a prática.

A Touch Cover também não traz a robustez de um laptop: afinal, você não pode apoiar o Surface em qualquer lugar. Você precisa de uma superfície plana e rígida – não em seu colo, como um laptop. É difícil imaginar como seria a solução de design para isso, mas esse é o trabalho da Microsoft, não seu.

Mas o Windows RT no Surface é a maior decepção de todas, a decepção fatal, porque este não é o Windows 8 – é o Windows RT. Você não poderá notar a diferença olhando para eles, mas certamente vai notar ao usá-lo. O Windows RT funciona devagar (tudo se abre e sincroniza um pouco lento demais), é pouco funcional (você não pode instalar apps fora da Windows Store, que ainda oferece uma seleção insignificante) e simples demais (os apps que acompanham o sistema parecem versões Lite de algo melhor). Você estaria certo em notar que muitas dessas limitações se aplicam para o iPad também, mas ninguém poderia confundir o iOS com o Mac OS X da maneira forma que o RT vs. 8. E mesmo que seja um problema comum a tablets, a Microsoft tem alardeado o Surface como sendo muito mais do que o iPad.

Só que, no fim, ele não vai muito além de ser o tablet da Microsoft. Com um sistema falho, ainda sem vários apps básicos. Não há Twitter nem Facebook, e os apps de terceiros não funcionam muito bem, e falham com frequência. O app do Kindle é completamente inutilizável. Não há nenhum software de edição de imagem. O app Pessoas deveria lhe dar todo o acesso necessário às redes sociais, mas é impossível escrever no mural de alguém no Facebook através do app – a única solução é abrir o Internet Explorer. E para ver vídeos? Isso requer um processo confuso de importação por USB, entrando e saindo do modo desktop, para depois abrir um app de vídeo, importar os vídeos, para só então assistir. Socorro.

A Microsoft deve estar guardando lançamentos de apps para esta sexta-feira, mas usar o Surface agora, no início desse novo ecossistema, é para poucos. A questão dos apps é uma aposta para o futuro.

O Windows Phone também sofria com poucos apps, mas há uma diferença: ele contava com a força de ótimos recursos integrados – no Surface, nem tanto. O Surface sofre porque o Windows RT é fraco, um OS morno de tablet fingindo ser um sistema de PC.

Você pode trabalhar, sim, com a versão integrada do Microsoft Office, com Word, Excel, PowerPoint e OneNote. Mas dói que o Office faça você voltar à área de trabalho, onde os usuários do Windows 8 x86 poderão instalar uma década de software legado. Enquanto isso, usuários do Windows RT não pode instalar nada disso: o modo desktop é totalmente inútil no RT, uma provocação cruel de não-funcionalidade. Ele só vai lembrar você de quanto não é possível com o Surface, e vai confundir muita gente que comprou um, especialmente quando o Surface com Windows 8 Pro, construído na arquitetura x86 e perfeitamente compatível com todos aqueles programas legados, chegar em poucos meses. A equipe de varejo da Microsoft terá muito trabalho pela frente.

Devo comprá-lo?

Ainda não. O Surface, com uma Touch Cover obrigatória, custa US$600. Isso é muito dinheiro. Especialmente tendo em conta que ele não substitui seu laptop, não importa a sua aparência nem o que a Microsoft diz. É um tablet: pior, com o preço de um iPad e inferior em vários aspectos (porém não todos).

Isso pode mudar. Talvez haja uma nova Touch Cover que mantenha as qualidades físicas fantásticas do original, enquanto permite uma boa digitação. Talvez o Surface com Windows 8 Pro faça toda a diferença, feito para o mar aberto de software para PC (por várias centenas de dólares a mais).

Talvez a loja de aplicativos esteja bem diferente daqui a um mês, ou um ano, e tenha vantagens em relação à concorrência. Talvez. Mas lembre-se que o Windows Phone – cujo Marketplace cresceu muito rápido, chegando a mais de 120.000 aplicativos – ainda é um terreno baldio em comparação com iOS e Android. O precedente não é ótimo; talvez o Windows RT seja diferente. Talvez.

Mas tantas dúvidas não valem o seu dinheiro. Por mais que parecesse, inclusive em minhas mãos, o futuro ainda não chegou.

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