A linha Moto G ganhou um aparelho Power pela primeira vez no ano passado. A proposta era fazer um aparelho bem simples, praticamente uma versão Play com bateria gigante, dispensando memória RAM, câmeras múltiplas e tela de resolução mais alta.
No Moto G8 Power, a Motorola decidiu ser mais generosa. Junto com a mesma bateria de 5.000 mAh da geração anterior, ele vem com tela FullHD e um conjunto quádruplo de câmeras. Os 4 GB de RAM e o processador Snapdragon 665 são dos irmãos mais caros.
Eu usei o aparelho por dois meses e digo como esse time reforçado se sai.
Moto G8 Power
O que é?
O membro da família intermediária da Motorola com bateria grande.
Preço
R$ 1.599 no site da Motorola; cerca de R$ 1.600 no varejo online.
Gostei
Bateria de ótima duração; Android quase puro com recursos extra úteis.
Não gostei
Desempenho deixa a desejar.
Tela e design
O Moto G8 Power trouxe algumas novidades no design e ficou com cara de Motorola One, com as câmeras dispostas na vertical e no canto. O leitor de impressões digitais continua centralizado na traseira do aparelho. Ele é um pouco mais baixo que o resto da superfície, fica bem localizado e ostenta a logomarca da Motorola.
No geral, o visual do aparelho agrada e tem cara de aparelho mais caro. Mesmo assim, é só pegar que você percebe que é plástico de intermediário mesmo e fica com marcas de impressão digital. Apesar disso, ele parece bem sólido e resistente.
Na mão, ele fica bem confortável, apesar do display de 6,4 polegadas (proporção 19:9, 100,7 cm² de área, segundo o GSM Arena). É possível alcançar bem todos os cantos da tela com o polegar, mas eu toquei acidentalmente várias vezes nos cantos inferiores com a base do dedão.
A tela do Moto G8 Power continua a tradição dos últimos anos da Motorola. Mesmo optando por um painel LCD IPS, as cores mostram boa saturação, que pode ser regulada em três níveis nas configurações. O preto não é tão escuro e isso fica visível no Moto Tela, mas não atrapalha na hora de usar os apps ou ver vídeos. A resolução FullHD+ também garante bom nível de definição.
Usando
Testar aparelhos da Motorola e voltar a usar o software da empresa é sempre uma experiência agradável e familiar. O Android 10 tem pouquíssimas alterações, como a ausência da barra de pesquisa do Google na tela de multitarefas. Mesmo assim, é bem próximo do que você poderia encontrar em um Pixel ou em um Android One da vida.
E há também os recursos já consagrados da linha Moto. O Moto Tela mostra o relógio quando você tira o aparelho do bolso e acende a tela quando chega uma notificação nova. O Moto Ações traz o atalho de chacoalhar o aparelho para acender a lanterna e girar o celular duas vezes para abrir o aplicativo de câmera, e esses dois movimentos facilitam a vida em várias situações.
No Moto G8 Power, eles ganharam a companhia do Moto Áudio, com equalizador e efeitos sonoros, e do GameTime, com recursos úteis para quem joga, como capturas de tela, bloqueio de notificações e chamadas e atalhos para apps personalizados. São novidades úteis, e mesmo que você não precise delas, não é nada muito pesado ou que atrapalhe a experiência com o aparelho.
No entanto, por mais úteis que sejam, as alterações de software da Motorola começam a dar os primeiros sinais de desgaste e envelhecimento.
O Android 10 tem recursos bem mais avançados que a Moto Tela para gerenciar notificações. Ele conta com notificações silenciosas, ideais para aqueles apps que nunca mandam nada de importante. Também há um modo que bloqueia distrações, que é muito útil para esconder mensagens de redes sociais ou conversas com os amigos e evitar que você se distraia na hora de trabalhar. Esse modo, inclusive, pode ser programado para horários e dias pré-definidos.
O problema é que o Moto Tela ignora essas duas configurações. Então, mesmo que você tenha definido uma notificação como silenciosa ou colocado o aparelho no modo de foco, a tela vai continuar acendendo para as notificações indesejadas. Para evitar isso, você tem que bloqueá-las de novo no app Moto. Aliás, ter que bloquear app por app também é um trabalho chato: eu gostaria de ter a opção de bloquear tudo e ter apenas algumas exceções para o que é realmente importante.
Talvez seja uma limitação técnica e o Android não permita que os apps tenham acesso a essas configurações de sistema, mas não deixa de ser um pouco frustrante ter que configurar o celular duas vezes para funcionar como você gostaria.
O desempenho do Moto G8 Power é razoável. Há alguma lentidão para abrir apps. Na hora de alternar entre eles, a velocidade melhora, mas não muito. Quase todos os apps funcionam direitinho, mas nem sempre: a fluidez em animações e ao rolar a interface em apps de redes sociais não é perfeita e tem uns engasgos. O Chrome teve uns travamentos pontuais também.
O Android 10 tem um modo de navegação por gestos em que o comando de voltar passa a ser uma deslizada de dedo na borda da tela, de fora para dentro. Quando o aparelho está em modo paisagem, como ao ver um vídeo em tela cheia no YouTube, o sistema parece se perder com os gestos e dar uma travadinha. Em um desses casos, eu precisei reiniciar o aparelho.
Também não dá para esperar grande coisa em jogos. Não sou muito gamer, mas, entre os que testei, Mario Kart Tour vai bem, mas Asphalt 9 fica com a fluidez dos gráficos bastante comprometida.
Sinceramente, eu esperava mais: aparelhos da linha Moto G sempre entregaram um desempenho satisfatório. Mesmo com aparelhos mais simples, como o Moto G7 Play e o Moto G7 Power, o desempenho não impressionava, mas eles eram competentes e entregavam uma experiência mais consistente. Esta é a primeira vez que eu pego um aparelho abaixo da média nessa família da Motorola.
Câmera
O conjunto de câmeras do Moto G8 Power é o maior indicativo do reposicionamento do aparelho dentro da família Moto G. Até me assustei quando fui reler o review do Moto G7 Power, pois não me lembrava que ele tinha uma só câmera na traseira. Seu sucessor ostenta nada menos que quatro lentes. Que evolução, hein?
Tem uma câmera principal de 16 megapixels, uma ultrawide de 8 megapixels e 118° de visão, uma zoom de 2x e 8 megapixels que também serve para ajudar nos retratos com o fundo desfocado e uma macro de 2 megapixels.
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Todo esse arsenal conta com um app bastante simples, mas organizado e competente. Novamente, há lentidão, desta vez na hora de trocar de uma lente para outra. Por outro lado, as imagens ficam ótimas, com bom nível de detalhe e fidelidade de cor aceitável, apesar de alguma tendência à saturação. Mesmo à noite é possível tirar algumas fotos razoáveis, tirando um pouco de ruído e alguns pontos mais claros que ficam estourados.
O modo retrato faz um bom trabalho ao desfocar o fundo, e a câmera ultrawide amplia bastante o campo de visão com nível razoável de distorção. As macros ficam razoáveis: há um bom nível de detalhe, mas a resolução deixa a desejar.
Bateria
O grande destaque do Moto G8 Power é sua bateria de 5.000 mAh, mesmo número do seu antecessor, o Moto G7 Power. Como o aparelho foi reposicionado na linha Moto G, ele ganhou uma tela FullHD+, que acaba gastando um pouco mais rápido a bateria do que a tela HD+ do modelo anterior.
Mesmo assim, a bateria continua com uma autonomia considerável, mais do que suficiente para um dia de uso. Meus padrões de uso acabaram um pouco bagunçados por causa da pandemia e da quarentena: sem sair de casa, eu praticamente não uso o 4G nem ouço música no celular e também não precisei de apps de mapas e transporte público. Por outro lado, acabei ficando mais tempo em redes sociais e brincando com jogos bestas.
Tirando o aparelho da tomada às 8 da manhã e usando umas três a quatro horas de Twitter e Instagram, câmera para tirar fotos e gravar vídeos do meu cachorro e da minha gata e mais uma hora de um jogo simples como o Nonogram, ele chegava ao começo da madrugada com algo entre 40% e 50% de bateria.
No dia seguinte, ele precisava voltar para o carregador mais ou menos no fim da tarde, ainda com alguma folga, entre 10% e 20%. Portanto, não é suficiente para dois dias caso seu uso seja muito intenso, mas dá para chegar ao fim de um dia longo e cheio de tarefas com bastante tranquilidade.
Para quem prefere números, o AccuBattery marcou algo entre 6,5% e 8% de bateria por hora de tela ligada, e entre 1% e 1,2% de bateria por hora com a tela desligada.
Aliás, o carregador rápido de 15 W me deixou bem satisfeito, pois é bastante útil quando a bateria está perto de acabar no meio do dia. Com 45 minutos na tomada, ele consegue levar a carga de menos de 10% para perto de 50%. Com 1h15, ela passa dos 70%.
Podem não ser porcentagens impressionantes, mas lembre-se que estamos falando de um aparelho com bateria de 5.000 mAh. Portanto, se você esquecer de carregar o celular à noite, pode dar um reforço na bateria pela manhã que ela carrega rápido o suficiente para você ficar conectado até o fim do dia.
Conclusão
O Moto G8 Power foi reposicionado e virou meio que um irmão do Moto G8 Plus. Enquanto o Plus ficou com a câmera de resolução altíssima, o primeiro ficou com a bateria gigante. Mesmo assim, ambos têm boas quantidades de RAM e um conjunto versátil de lentes, além de contar com um sistema sem firulas para colocar tudo para rodar.
Particularmente, eu gostei do aparelho. A experiência Moto continua sendo praticamente imbatível em termos de praticidade, as câmeras entregam um bom resultado e a bateria garante bastante tempo fora da tomada.
O que deixa a desejar é o desempenho. O Moto G7 Power do ano passado, com menos RAM e processador mais antiquado, não era lá muito veloz, mas era consistente. A falta de fluidez do Moto G8 Power deve incomodar quem é mais exigente. Quem usa poucos apps e não tem pressa na hora de abri-los pode ficar satisfeito. Com preço na faixa de R$ 1.500 e tudo mais caro por causa da alta do dólar, você dificilmente encontrará um aparelho muito melhor.
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