Quando apareceu, em janeiro, o Atrix nos cativou. Android com dois núcleos e um monte de especificações sensacionais, que se transforma em notebook? Fácil, fácil ele virou o smartphone dos seus sonhos. Mas nos sonhos e publicidade tudo sempre é idealizado. Então esperamos ele chegar às lojas, passamos algumas semanas usando intensamente para responder a pergunta: na mão, o desejo virou realidade?
A resposta, para quem quer ler o início e fim e pular essas quase 4 mil palavras, fotos e vídeos, é sim, mas não. O Atrix cumpre o que propõe como smartphone com Android: é rápido, e para quem gosta do robô verde, o hardware com sobras garante (ao menos no papel) que ele pode ser atualizado por muitas e muitas versões. Ele é o mais estável Android que já usamos e com maior autonomia de bateria, mas tem dois problemas quase inerentes aos smartphones da Motorola: Motoblur (que acompanha a doença de falta de atualização) e câmera.
Aspectos técnicos à parte, talvez o maior problema do Atrix é que ele tem essa aura de sonho geek não concretizado. Justamente porque seu grande diferencial, a capacidade de virar um notebook, é bem legal no papel, mas duvidamos do seu uso prático. E, com uma publicidade agressiva e etiqueta de quase R$ 2.000, ele precisa ser sensacional.
Agora vamos dissecar tudo isso em detalhes. Vem comigo.
Aviso:
Um aviso que acho importante: tentamos sempre ser o mais objetivos possível, mas temos consciência que nossos reviews serão pontuados por comparações que têm a ver com o que temos e gostamos, aliado a conhecimento e experiência de outros aparelhos – nunca espere aqui ler algo estritamente técnico. No meu caso, um background rápido: depois de passar por E71 e 5800, eu tive e amei meu Milestone, usei por muito tempo um Galaxy S e agora estou há vários meses com um iPhone 4 como celular principal (e testando novos Androids paralelamente). Ele é hoje o smartphone que mais gosto de usar: é tudo mais estável e rápido, especialmente para o que eu uso (navegar na internet, fotos e jogos). Não sou hacker, já instalei mas acho um saco customizar o Android com ROMs diferentes e acho que um celular deveria vir absolutamente pronto para uso tirando da caixinha. Este é o meu filtro. Considere tudo isso ao ler o review que se segue e entenda que você é diferente de mim, e pode dar mais ou menos valor a determinadas vantagens/defeitos do aparelho.
Hardware
Clique na foto para ler todas as especificações, direto da Motorola:
O Atrix parece bem construído, com um visual sóbrio, talvez até um pouco genérico. Enquanto o Milestone tinha aquela pegada meio Batman, cheio de metais e dourado, este tem um visual de plástico arredondado que poderia se passar por um LG ou Samsung. Gostaríamos de ver mais ferro ou alumínio, mas o que importa é que, apesar de cheio de plástico, ele não parece um desses celulares “baratos”. E considerando tudo que tem dentro dele, é relativamente leve (135g, contra 165g do Milestone ou 137g do iPhone 4).
Ele também não é particularmente grande. A primeira vez que você segura um smartphone com tela de 4’’, como o Atrix, o tamanho pode assustar. Mas hoje a telona já virou padrão para os Androids parrudos, então as dimensões de 117,8 x 63,5 mm x 11 mm não assustam. A resolução da tela, de 960 x 540 pixels, ou qHD, é a maior encontrada em um Android até agora, e quase chega na “Retina” do iPhone em termos de pixels (960 x 640, mas com maior densidade, pela tela menor).
Há nas laterais a entrada microHDMI, microUSB, fone de ouvido comum e botões de volume. Um problema que eu achei foi o botão de travar (que nem é exatamente um botão), que não fica em cima ou do lado do aparelho, mas atrás. É meio esquisito ter que sempre segurar o telefone na mão para destravar – se você deixar ele parado apoiado na sua frente para ler algo (faço isso no almoço), terá que empunhá-lo para destravar. Mas o “botão” tem a dupla função de reconhecedor de impressão digital, para destravar o aparelho com mais segurança, sem a aporrinhação de senhas. Ele costuma reconhecer corretamente umas 80% das vezes a sua dedada de primeira, então é uma função bacana, e até onde sei, inédita.
Se por fora ele é mais ou menos normal, por dentro é um bicho bem diferente, em especial o processador dual core ARM A9 de 1 GHz – fato lembrado logo quando você o liga. O chipset gráfico Tegra 2, da nVidia, é acompanhado de 1 GB de RAM. Tirando a capinha traseira (há um adesivo ensinando como), há uma bateria potente, de 1930 mAh (contra 1500 mAh da maioria dos concorrentes) e espaço para o microSD (até 32 GB) e SIM card. Outro negócio importante é que ele tem 16 GB de memória interna, eliminando aquele problema de usuários de Androids antigos que não podiam instalar muita coisa sem usar programas de terceiros para colocar apps no microSD.
E, não menos importante, é interessante notar o que vem na caixinha. A versão brasileira vem com uma quantidade inacreditável de coisas, que dissecamos no nosso unboxing: cabo HDMI-miniHDMI, dock com saídas USB, carregador veicular, suporte para usar no carro, controle remoto para o dock, fones de ouvido e cabinhos. O Atrix é caro – cerca de R$ 1.900 sem contrato -, mas pelo menos você recebe uma caixa estufada de coisas.
Câmeras
Eu realmente gostaria de entender qual é o problema da Motorola com câmeras. No papel, a do Atrix tem 5 MP e um flash dual-LED. Ela é incrivelmente rápida – tanto na inicialização do aplicativo quanto no processamento da imagem.
O problema é que a imagem em si parece demais com uma câmera de celular. No primeiro dia de testes eu olhei para um teto, achei o detalhe dele bonito, com a luminária, e – mania de hipster com Instagram no iPhone 4 – saquei esta foto:
Aí tirei exatamente a mesma foto do iPhone 4, do mesmíssimo ângulo (a câmera do Atrix, no caso, estava em modo Widescreen, mas com resolução máxima):
Sem HDR, sem tratamento. Parece uma diferença de 3 gerações de celulares. O exemplo que eu dei aqui pode ter sido cruel e a diferença normalmente não é tão abissal, mas a primeira e persistente impressão é esta. Em condições ideais, em algumas tentativas consegue-se fotos boas até, com boa resolução. Mas normalmente o que você vai conseguir são fotos lavadas com um bizarro nível de branco, tendendo pro verde e com muito ruído em baixa luminosidade. Acreditamos que algumas coisas podem se dever a um problema de software, tanto que usando outro app como o Camera 360 a coisa fica melhor. Se você der uma olhada neste grupo do Flickr, vai ver boas fotos. Eu não consegui resultados muito satisfatórios:
Ao menos, como vantagem de todos os Androids, basta clicar na foto recém tirada, ir no ícone de compartilhar e instantaneamente sua imagem horrorosa pode estar no Twitter e Facebook.
A filmadora tem boa definição mas também sofre do problema de cores bizarras – o balanço de branco é muito inconstante. Segurando firme o celular, dá pra fazer alguns vídeos interessantes. Mas chamá-los isso de “HD”, só pela quantidade de pixels, é forçar a barra. Para ser bem franco, o único celular que fez vídeos aceitáveis para mim foi o N8 até agora.
Bateria
Nas especificações do manual, diz até 250 horas de standby em 3G (400 minutos GSM) e 540 minutos de conversação. Sempre acho esses números bizarros. Então, na prática? Boa notícia: se há um departamento que o Atrix surpreende na maioria das vezes é este. A bateria é maior do que estamos habituados, em todos os sentidos. Pela primeira vez eu consegui ter um uso normal do smartphone (para o meu uso anormal) e chegar até o final do dia com mais de 30% de carga. Por uso normal entenda notificações de Gmail (eu recebo mais de 300 e-mails por dia), Twitter e Facebook ligadas, uns 20 minutos totais de navegação, mais ou menos isso de acesso a redes sociais, joguinho e consultas ao Google Maps ocasionais, sempre em 3G. Os jogos otimizados para o Tegra 2 gastam menos bateria do que seus similares no iPhone 4, por exemplo. É bem verdade que um dia específico a bateria foi embora ridiculamente rápido, mas provavelmente foi algum programa misterioso mal codificado que a estava drenando – algo que pode acontecer no Android se você não monitorar os recursos (eu não monitoro).
O problema da bateria é que ela demora demais para carregar. Demais mesmo – o dobro de tempo que gasto normalmente. Na recarga mais rápida, demorou pouco mais de 3 horas. Em alguns computadores ele simplesmente não carrega via USB – o MacBook Pro novo, que tem uma porta de 1600 mAh (o triplo do normal) e carrega até iPad não dá conta do Atrix. Provavelmente é mais uma coisa de drivers, mas tenha em mente que é um problema comum. Com o dock e a fonte a recarga é um pouco mais rápida, mas isso poderia ser otimizado.
Software/Usando
Usuários avançados de Android, nota: não vamos entrar em detalhes sobre as diferenças do Android 2.2, encontrado no celular, e o 2.3, que já saiu em outros aparelhos mas ainda não encontramos aqui. Para saber mais sobre o Android 2.3 e suas diferenças, leia aqui.
Se você está familiarizado com o Android, não há muitas novidades na versão 2.2 (que, aliás, não é a mais recente): grade de ícones de aplicativos, barra de notificações lá em cima e possibilidade de customizar um bocado: os widgets diversos podem inclusive ser redimensionados por causa do motoblur.
O problema do Atrix, para o usuário médio, é justamente o motoblur, a interface proprietária que a Motorola coloca por cima do sistema Googliano. Por um lado é interessante que, assim que você ligue o telefone (depois de preencher tudo) apareçam seus amigos do Twitter e Facebook, contatos com fotos e tudo. Parece que seu telefone está todo configurado. Mas todos os widgets e aplicativos são mal pensados, espalhados por várias telas, e redundantes. Há leitores de RSS conectados no mesmo canal, ou janela do Twitter que só mostra sua última mensagem, bem grande – qual o sentido disso? Além de tudo, o motoblur consome significativamente mais dados e bateria, pois puxa informações de diversas fontes, o tempo todo, além de consumir RAM. Então, quando você tira o Atrix da caixa, é essa experiência que você tem:
Obviamente muitas pessoas vão dizer que isso não é importante, que limpa-se tudo, mas tenha em mente que esta é a primeira impressão: widgets estranhos, aplicativos da operadora e ausências bizarras: não há um app para tomar notas ou o atalho do Gmail nas telas iniciais. De todo modo, essa reclamação é totalmente contornável. Quem já tem alguma experiência com o Android – ou tem algum amigo que tenha – vai dar um “banho de loja” no bicho. A experiência melhora significativamente, e é assim que o meu fica:
Note a velocidade das transições e abertura de apps. O Atrix é rápido em basicamente tudo, mas – posso estar sendo exigente aqui – não é nada do outro mundo. A quantidade de RAM e memória interna permitem que você abra muitos apps e, se você estiver rodando programas razoavelmente conhecidos, é difícil que ele trave ou fique lento. A experiência é sólida de maneira geral, a melhor que tive em um Android. Mas aconteceu uma vez que o Google Mapas inexplicavelmente travou de um jeito que eu tive que tirar a bateria para fazê-lo funcionar de novo – algo que eu estava mais ou menos acostumado com o meu Milestone tunado, mas que é estranho hoje.
Para quem chega de um dumbphone (ou mesmo um iPhone), é sempre bom ter a facilidade de poder visualizar todos os arquivos em qualquer computador, apenas ligando o USB (sem chatice de iTunes) e a beleza de poder buscar o Android Market na web e ver o app comprado automagicamente instalado no celular. Mas o sistema de notificações é certamente a melhor surpresa e algo que sinto falta. Puxe a barrinha lá em cima e veja e-mail, última mensagem, notificações do Twitter, música que está tocando ou controles rápidos de configurações básicas. O tamanho da tela e a velocidade permitem que não exista qualquer engasgo na rolagem, e você possa ver muita coisa. Nos apps nativos do Android, como o Mapas ou o Navegador (sistema de navegação curva a curva do Google que fica mais sensacional a cada update), a resolução de tela maior faz alguma diferença, e é possível ver mais detalhes. O mesmo se pode dizer no sempre sensacional app do Gmail – coisa que sinto mais falta quando volto para o iPhone, diga-se -, onde dá para ver e marcar vários e-mails de uma vez na tela alongada, tudo insanamente rápido.
Mas há algo estranho com o Tegra 2, a “placa de vídeo” do Atrix. Em tese, o chipset da nVidia deveria lidar bem com imagens, estáticas ou em movimento. Mas na prática, isso está longe de acontecer – parece que ela não ajuda muito, e todas as renderizações ficam a cargo do processador. No app de galeria, por exemplo, há bastante lentidão no zoom e definição, em comparação com outros Androids ou mesmo, por exemplo, com o N8, que tem processador bem menos potente (pule para os 40s):
[youtube b6hienXEd0Y?t=41s]
Em vídeos, não vemos um melhor desempenho para formatos conhecidos. De que adianta ser dual core, chip gráfico “diferente”, saída HDMI se ele engasga em um arquivo .mkv e não consegue mandar o dito cujo para a TV? Nos meus testes, um .mkv em 720p ficou na faixa dos 10 frames por segundo, no único programa que conseguiu abrir o arquivo no formato consagrado para baixadores de série em alta definição. Mesma coisa percebemos em vídeos em alta resolução no Flash – falta fluidez. Ao que pudemos notar também no Xoom e diversos relatos lidos na web, a falta de desenvoltura do Tegra 2 com vídeos e algumas imagens parece ser um problema de firmware. Há motivos para acreditar que a coisa pode melhorar, porque quando o chip gráfico se entende melhor com os apps, o desempenho é muito bom, como podemos ver nos joguinhos da Tegra Zone, loja dedicada a jogos otimizados:
[youtube jNN7IzLkDM4]
O touchscreen não parece ter evoluído em relação ao Milestone: continua perfeitamente funcional, mas ocasionalmente – diria que umas 5% das vezes – não registra o toque. Ou registra, deixa o ícone marcado, por exemplo, mas não aciona o app em si. Nada irritante, mas não é perfeito como estou acostumado. Depois do Galaxy S e iPhone 4 não consigo ver muita necessidade mais em teclado físico a não ser para longos e-mails, e o virtual aqui, apesar de não ter autocorreção esperta, funciona direito. Mas se você se acostumar com o swype (não é difícil, dê uma chance), a digitação pode fluir incrivelmente bem, como mostramos no vídeo.
Se em apps nativos, notificações e widgets o Atrix manda bem, com uma integração total em redes sociais, a navegação na web ainda não consegue chegar ao padrão da indústria – sim, falo do iPhone 4 novamente. As páginas carregam rápido, o scroll é super veloz e o zoom com pinça é relativamente rápido no smart da Motorola, graças ao processamento. Mas, por tentar emular a experiência de um desktop, ler um site de fato pode ser ruim. As letras são muito, muito pequenas e aparecem em uma fonte bastante pixelada. Então se você entrar em um site não adaptado para mobile, terá necessariamente que fazer um bocado de zoom in e zoom out. Teoricamente isso seria fácil: clique duas vezes e dê zoom. Mas isso nem é tão rápido nem tão satisfatório, não importa a configuração escolhida. O resultado é que quando você navega na internet, dependendo do site, a sensação é que a resolução é pior que o normal. E parece ser a mesma coisa em todos os navegadores do Android, mesmo no ótimo Dolphin. Para entender melhor o que digo, veja esta comparação com o iPhone 4. Vê-se muito mais do site no Atrix, mas a informação é inútil, já que não se consegue ler muita coisa (o Atrix é o da esquerda):
Eu sempre tive a posição de que, mesmo manco e horroso, é melhor ter suporte a Flash que não ter. Mas depois do Xoom e Atrix, começo a rever a minha opinião. Como eu falei, o Atrix foi incrivelmente estável no período de testes. Foi só eu ligar o diabo do Flash (que vem ligado por padrão) e fazer testes mais pesados, em sites com muitos vídeos, publicidade ou jogos não-otimizados, que ele travou 13 vezes em uma manhã. Treze. Vezes. Na maioria, o incômodo era esperar alguns segundos para aparecer a mensagem que o aplicativo do navegador precisava ser fechado. Mas precisei desligar tudo e tirar a bateria em dois momentos. Mesmo quando a opção é “sob demanda”, a página que você está vendo acha que o Flash está instalado, e em vez de carregar a versão em HTML5 ou lançar um vídeo no app do Youtube, rodando lindamente, você é obrigado a ver no Flash: pior, com controles minúsculos, esquentando o aparelho. Não tive tempo de usar a versão 10.3 do Flash Mobile, que aparentemente melhorou a questão do travamento, mas mesmo assim, tenho hoje uma posição firme – e, tenho consciência, polêmica: as empresas de celular têm de boicotar esse câncer que é o Flash em dispositivos móveis – os desenvolvedores fazem coisas pensando em mouse, teclado físico e telas grandes. Se nenhuma empresa suportar, os sites serão obrigados a se adaptar se quiserem atender a crescente demanda por celulares navegando pela internet. No desktop, lindo, ainda há muita coisa boa que por enquanto só é possível com Flash. Mas nos celulares? Não vale a pena. E não senti falta até hoje enquanto estive com Galaxy S e iPhone. Talvez sejam meus hábitos de navegação – alguém costuma ver frequentemente algum site em Flash no celular que valha a dor de cabeça, que não dê pra esperar para chegar a um PC?
Tirando toda a parte de smartphone, como telefone, função que usamos menos de 5% do tempo, o Atrix segue a tradição dos últimos aparelhos da Motorola: voz clara, com diminuição de ruídos (para a pessoa que está ouvindo) e recepção boa. Como tocador de MP3 ele também é bom, e garante um bom volume e, mais importante, reprodução bastante fiel das frequências: enquanto o iPhone dá ceta ênfase nos agudos para balancear os fones de ouvido ruins que a maioria das pessoas usar, o Atrix, em parceria com os meus earbuds de referência foi incrível. Ele não é um boombox em termos de volume, como alguns da Samsung, mas não machucará os ouvidos.
Lapdock/Como computador
Até agora eu descrevi basicamente um Android genérico, um pouco mais rápido que a média. Mas um dos trunfos do Atrix é o Lapdock – este netbook sem cérebro, com tela de 11,6’’ bacana, teclado chiclet bom e touchpad responsiva, que você compra à parte. Como ele funciona? Mesmo que você não entenda inglês, a CNet fez esse vídeo:
Quando você pluga o Atrix no Lapdock, em poucos segundos a tela dele vira um outro sistema operacional. Há uma barra de tarefas muito parecida com a do Mac OS X, e uma janela com uma interface de telefone – se alguém te ligar ou mandar SMS, você vê na tela, além de poder acessar todos os apps na “janela” do celular. Quer digitar um texto? Abra o Firefox (sim, Firefox, não Chrome ou algo do tipo), entre no Google Docs e faça a festa. Em tarefas assim, um pouco mais simples, o desempenho é decente. Mas abra umas 6 abas e tente alternar entre elas. O Atrix pede água e se lembra que não é um PC. Ver vídeos no Youtube em HD? Não vale.
No fim das contas, o Lapdock é um netbook piorado, e caro. É claro que você pode acessar coisas que estão no seu telefone, usar a memória dele, mas por que você precisaria disso, de verdade? Qualquer coisa relevante do seu smartphone com Android também está na nuvem, como e-mails e fotos, sincronizadas com o Picasa. Se o Lapdock fosse mais barato (não é vendido separadamente ainda, mas acrescenta até R$ 800 no preço do pacote), ou mais leve (pesa 1,1 kg), talvez fizesse sentido como um dock mais bacana – já que ele carrega o telefone.
Mas, com a tecnologia de hoje, não dá. Quando os celulares ficarem mais rápidos, quando o Chrome Os tiver comido bastante feijão e especialmente quando o lapdock estiver mais barato, poderá fazer sentido. Mas hoje? Palmas para a Motorola por tomar uma decisão ousada assim, mas a não ser que você tenha dinheiro sobrando, não vale gastar aqui.
E a solução alternativa, de criar o próprio dock? Quando você coloca o Atrix no berço de fábrica, há 3 saídas USB. Você pode pegar qualquer mouse ou teclado dando sopa, que eles funcionam lindamente, sem problemas de compatibilidade. Ligue a saída HDMI em uma TV ou monitor, e você tem a mesma interface do lapdock. Mesmas funcionalidades, mesmos problemas: falta portabilidade (quem anda com teclado, mouse na mochila e precisa de uma TV disponível, tem um laptop) e o OS não aguenta tarefas mais pesadas.
O outro problema da saída HDMI muito importante é que quando você liga o Atrix na TV ele automaticamente aciona a interface webtop e limita muito o que você pode fazer. Quer jogar o Need for Speed em tela cheia? Ou rodar um vídeo específico a partir de um programa alternativo que coloque legendas? Nada disso você pode. Contente-se com a galeria de mídia para tocar músicas e fotos e vídeos feitos no celular. Outros Androids têm a possibilidade de “mirror” (a reprodução da própria tela do celular) com o HDMI ligado, mas a Motorola travou essa função. Hackers ainda não conseguiram destravar a coisa, como já o fizeram, por exemplo, com o HTC Evo 4G. É questão de tempo, mas é ruim ver essa impossibilidade em um celular tecnicamente capaz.
Conclusões
O Atrix mostra o amadurecimento do Android, com um sistema estável e boa autonomia e um hardware que garante uma certa longevidade. É um smartphone inegavelmente bom, mas falta algo que justifique a etiqueta e todo o marketing de “smartphone mais poderoso do mundo”: lembre-se que hoje, quando escrevo este review, ele é o aparelho mais caro do mercado.
O Atrix chegou antes, mas ele tem uma concorrência pesadíssima no horizonte: sem contar o iPhone 4, há o Galaxy SII e sua tela incrível, o Sony Ericsson Arc, fininho e com uma câmera bem superior, e o LG Optimus 3D, que além da funcionalidade que ninguém vai usar tem processador e tela melhores, se mostrou mais rápido na nossa mão. Todos os oponentes já vêm com Android 2.3, a última versão, e por não terem a interface de webtop e Motoblur, devem ser atualizados mais rapidamente.
Se você é fã de Android e acredita que poderá usar a sua função de computador, aproveite um plano bacana que dê um descontão e vá em frente no Atrix. Mas a nossa recomendação é: espere ao menos um mês até a concorrência direta aparecer no mercado. Só assim poderemos avaliar em que posição o Atrix realmente está. Smartphone mais ambicioso do mundo? Sem dúvida. Mais poderoso? Não tão rápido.