[Review] Motorola Defy
O que acontece quando você pega o Milestone, tira o teclado físico e coloca mais potência por dentro e resistência por fora? Você tem o Motorola Defy.
Por fora
O Defy foi criado para ser um aparelho mid-end resistente – tanto a quedas, como a respingos e poeira. E dá pra ver isso no aparelho. Ele tem a incrível tela Gorilla Glass de 3,7 polegadas com quatro botões-não-botões (os ícones capacitivos) embaixo. Botões físicos, aliás, são exceção: só o volume e o liga/desliga/trava. Não há um botão de câmera dedicado, mas como a Motorola nunca faz bons botões de câmera nos aparelhos, esta é uma boa ausência.
Além dos botões, o Defy tem entrada para fone de ouvido e para USB, devidamente protegidas por tampas de borracha. Eu abri e fechei essas tampas inúmeras vezes, e elas não apresentaram qualquer sinal de desgaste, o que é bom: se você deixar a entrada USB ou do fone abertas, pode entrar água ou respingo no aparelho. E vale lembrar: como diz a Motorola, “o Defy não é à prova d’água, não utilize esse dispositivo imerso em água”; e “para garantir a máxima resistência à líquidos e poeira, as proteções de entradas… devem estar totalmente fechadas”. Ou seja: ele é feito para condições adversas, mas pegue leve, na medida do possível.
Quando você vira o aparelho de costas, repara em três superfícies diferentes. A superfície emborrachada da tampa, protegendo a câmera de 5MP com flash; uma área de plástico fosco ao redor da tampa, onde estão os botões físicos; e uma superfície de plástico brilhante ao redor da tela, presa por parafusos visíveis – o que dá aquela cara de resistente ao aparelho. Mas preferia que a parte traseira toda fosse emborrachada: essa parte de plástico brilhante arranhou fácil, com uma queda no chão.
No geral, o aparelho é bem resistente: já o levei no bolso com as chaves, derrubei no piso, no concreto, na areia, e ele continua funcionando e sem marcas – quer dizer, só uma, naquele plástico brilhante. É bom ter um aparelho que você pode jogar na mesa, ou para o amigo no outro lado da sala, e saber que não tem (muito) problema se cair.
E o aparelho é fino e leve: seus 118 gramas se assentam bem na mão, e com 13,4mm de espessura, ele não faz volume na calça.
Agora vamos apertar o botão de liga/desliga para ver o que o Defy tem por dentro.
Android e Motoblur
Quando você liga o Defy pela primeira vez, uma tela de configuração do Motoblur te espera. Isso se você tiver inserido um chip: fiquei decepcionado em saber que o Defy não funciona sem chip, em modo Wi-Fi – você precisa inserir de um cartãozinho, como é de praxe em dumbphones – não em smartphones.
O Blur, caso você não saiba, é a banda inglesa que concorria com o Oasis – quer dizer, a interface da Motorola para o Android, que não só agrega as redes sociais que você mais usa – Twitter, Facebook, Orkut – como fornece widgets úteis, um app de música e vídeos melhor que a opção padrão do Android, além de gerenciamento de dados 3G, de bateria e de arquivos sem precisar ir ao Market. A tela inicial tem um detalhe legal: se você quiser trocar dois ícones de posição, basta arrastar um ícone para cima do outro (algo que a versão padrão do Android, incrivelmente, ainda não faz). A ideia é boa: deixar o celular pronto para ser usado, sem ter que fazer as compras de aplicativos logo de início.
“Ah, mas não gosto do Motoblur!” Você está no Android. Se você não gosta de uma coisa, é bem provável que você possa mudá-la. É só colocar apenas sua conta do Google, jogar fora os widgets e pronto. Ou melhor, ir direto ao Market e instalar um substituto da tela inicial, como o LauncherPro. A tela inicial do Defy, aliás, tem um bug irritante: quase toda vez que você volta para a tela inicial, ela é recarregada. Então você quase sempre precisa esperar pra usar um widget ou acessar um programa. Com o LauncherPro, não tenho esse problema.
O Market no Defy tem um problema estranho. Certos apps que posso instalar em outros aparelhos, como o CallTrack (que guarda chamadas feitas e recebidas no Google Agenda) simplesmente não aparecem no Market. Isso acontecia com ROMs customizadas por não terem um “Market fingerprint”, mas é estranho ver isso acontecendo num aparelho sem nem mesmo root. São bem poucos os apps afetados, nenhum crucial, mas vale a pena apontar.
O Defy roda Android 2.1, e felizmente a atualização para o Froyo já está confirmada, e deve chegar ainda este trimestre (assim como a do Milestone). Mas já existem ROMs customizadas com Android 2.2 para o Defy, como a adlxmod Froyo do Alexandre Dumont (@adumont).
Processador, memória, espaço interno, bateria
Então, apesar de o Defy não ter funções como gravar apps no cartão de memória, ou acesso a algumas funções novas dos produtos do Google, ele terá oficialmente em breve. Mas gravar no SD não é algo realmente necessário aqui: o Defy tem 2GB de armazenamento interno – você vai precisar de muitos apps pra encher esse espaço. O espaço interno serve apenas para apps: seus arquivos, músicas, fotos etc. ficam no cartão de memória de 8GB que acompanha o aparelho.
O aparelho em geral é rápido nas transições e em abrir apps. O processador de de 800 MHz pode desapontar aqueles que gostam de números (afinal, os mais novos costumam vir já com 1GHz e além). A verdade mesmo é que a diferença no clock parece não criar uma perda de desempenho muito visível em relação a X10 ou Samsung Galaxy S, com mais força embaixo do capô. Já em relação ao Milestone, com seu processador de 600MHz, a diferença no desempenho é mais visível.
O Defy tem 512MB de memória RAM, mas às vezes não parece: além do bug da tela inicial, que parece reiniciar quase toda vez, tenho o mesmo problema com o Navegador. Páginas antes carregadas às vezes começam a carregar de novo, mesmo estando completamente renderizadas (e sem script pra recarregar). Tive esse problema com o Galaxy Spica (I5700), com só 128MB de memória – no Defy, isso é imperdoável. Mas não temos certeza se é algum bug do sistema (o Safari para iPhone tem dessas também). Então quem sabe o Froyo corrija isso? Vale lembrar que o problema, ao que vi, não acontece em outros apps: ou seja, troque de navegador e de tela inicial, e seja feliz.
A bateria de 1.540mAh é o que você esperaria: ela dura um dia com uso moderado, mas você precisa recarregar o aparelho toda noite. Nada de muito melhor ou pior que a concorrência.
Tela e botões
A tela é basicamente a mesma do Milestone, ou seja é linda e brilhante, com resolução 854×480 e Gorilla Glass. As cores são vivas, o texto é nítido, assim como as imagens – é um grande fator positivo para o Defy (apesar de estar disponível desde o Milestone). A resposta ao toque é boa, mas não ótima: por exemplo, às vezes o ato de tocar não faz com que o programa seja aberto, mas apenas selecionado – mesmo que você tenha tocado direito.
Os botões capacitivos na parte inferior têm boa resposta, mas podem ser um problema às vezes. Ao pegar o aparelho, algumas vezes já toquei acidentalmente no botão de Pesquisa; e enquanto jogava Angry Birds já voltei pra tela inicial porque apertava o botão Home sem querer. Isso não acontece com muita frequência, mas acontece.
Os botões físicos de volume são do tamanho exato, mas como disse, o botão liga/desliga/trava na parte superior é pequeno demais, e por vezes difícil de achar. Como o Defy tem um design simétrico, pelo toque é difícil saber se ele está virado pra cima ou pra baixo – isso já me fez caçar várias vezes, no bolso, o botão de trava na parte de baixo (sem sucesso, é claro, porque ele fica na parte de cima).
O Defy tem luz de notificação no canto superior esquerdo, avisando de e-mails e ligações perdidas com cor verde, e alertando para recarregar a bateria com cor vermelha.
Teclado (virtual)
O Defy não tem teclado físico, mas com o Swype, nem senti muita falta. Com o Swype, você arrasta o dedo pelas letras para escrever palavras, em vez de digitá-las letra por letra. E o Swype do Defy tem um bom vocabulário em português (e inglês e espanhol), e aprende palavras novas facilmente: basta digitá-las letra por letra uma vez, selecioná-la, e pronto.
Mas é rápido digitar com o Swype no Defy? Para testar isso, usei o Google Talk e o MSN no aparelho. Conversei com um amigo, que estava num PC, usando o teclado virtual, e além de eu não errar na digitação, eu respondia rápido. A conversa no Gtalk foi mais agitada: conversei com o Pedro, o Leo e o Fabio Bracht só deslizando o dedo pela tela do Defy, e com sucesso: respostas rápidas, sem erros grotescos de digitação. Com um teclado físico, meu desempenho não teria sido tão bom assim.
Claro, o Swype é uma questão de costume: tem gente que torce o nariz à primeira vista, mas depois de experimentar e treinar um pouco, não consegue viver sem. Mas se mesmo assim você não quiser usar o Swype, pode trocar pelo teclado padrão do Android.
O Swype não é perfeito, claro: ele funciona bem e rápido na maioria das vezes, mas ele não se adapta tão bem ao seu uso quanto deveria. Primeiro, ele não sugere palavras que você usa bastante: mesmo digitando “pra” umas mil vezes, ele sempre sugere a palavra “outra”. Segundo, ele aprende novas palavras bem demais. Por exemplo, eu gravei os termos “nao” e “sao” sem til, pra usar em SMS. Sempre que digito “não”, a primeira sugestão dada é “nao”. O jeito é escolher a segunda opção (com til) ou apagar a palavra “nao” do vocabulário, o que me parece meio difícil.
Câmera
A câmera é basicamente a mesma do Milestone: fotos de 5 megapixels com flash LED, e vídeos em 480p – nada de alta definição. Mas tem uma diferença: a câmera é mais rápida, e conta com pré-configurações (paisagem, noturna, macro etc.) e filtros (preto e branco, sépia etc.). No mais, é uma câmera de celular como as outras: decente com boa iluminação, ruinzinha à noite e em lugares fechados.
Outros detalhes
O Defy serve até como telefone! A voz nas ligações é um pouco melhor que no Dext, por exemplo, graças ao CrystalTalk Plus, tecnologia que usa dois microfones – um na parte de baixo, outro ao lado da câmera – para reduzir o ruído das ligações. Mas o Defy tem um bugzinho nas ligações, onde ele troca as imagens dos contatos para quem você ligou.
O som do aparelho, na verdade, é muito bom: você pode ativar o efeito de estéreo 3D, home theater e mais para que todo app com som – música, vídeo, e jogos – tenham um som mais rico. É basicamente um equalizador que age em todos os apps, e deixa a experiência melhor.
E o navegador vem com Adobe Flash Lite, que na minha experiência mais atrapalhou que ajudou: não dá pra jogar games em Flash direito, vídeos do YouTube começam a carregar automaticamente sem minha permissão e sites demoram mais a carregar simplesmente pela publicidade… Talvez ele não aguente mesmo. Mas quando o Defy receber a atualização para o Froyo, ele poderá rodar o Flash completo, por atender às especificações da Adobe – só resta ver se o Flash completo funciona bem nele. [Valeu, Nick!]
Preço
O Defy está à venda com exclusividade na Claro (por enquanto), por R$1.499 no pré-pago ou R$199 no plano com R$80 em ligações mais 250MB de internet. A Claro tem um histórico de retirar apps do Google e acesso ao Market dos seus aparelhos com Android, mas não fez isso com o Defy: você pode baixar apps e acessar Gmail, Mapas, YouTube etc. via apps oficiais – só a busca padrão que é, irritantemente, o Yahoo!. Para mudar isso, o leitor Ederson explica: “Basta limpar as configurações da barra de busca do Yahoo em Configurações > Aplicativos > Gerenciamento de Aplicativos. Após limpar, quando você fizer a primeira busca ele perguntará qual buscador deseja usar, Yahoo ou Google. Escolha o Google e defina como padrão.” [Valeu, Ederson!]
Pelas configurações que o Defy tem, ele é um aparelho mid-end. Ou seja, seu principal concorrente não são os smartphones top de linha, como o iPhone 4, Galaxy S ou Milestone 2 – é o Milestone original. O Defy avança em vários aspectos em relação a ele – mais memória, processador mais veloz, espaço interno enorme, câmera mais rápida – mas conta com muita coisa do Milestone: a tela, a câmera, e o Android Éclair. O sistema operacional, na verdade, agora vem com Motoblur, e será atualizado para Froyo ainda este trimestre – que nem o Milestone. E, claro, o Defy não tem teclado físico: ele não fez falta pra mim, e deixa o aparelho mais grosso, mas alguns ainda o exigem.
Mesmo que você não faça esportes radicais, vá a praia todo dia ou goste de jogar o celular em outras pessoas, é bom ter um aparelho robusto e resistente que não dá uma parada cardíaca em você toda vez que o vê cair no chão (iPhone 4, tô falando de você) ou recebe um spray de água – as proteções duráveis nas entradas também ajudam. Mesmo passado mais de um ano da aparição da maravilhosa tela do Milestone, a combinação de resolução bacana com brilho e resistência ainda impressiona. E, por último, o Android 2.1 é um sistema ótimo, com cada vez mais opções de customização, jogos e sei lá o que mais – especialmente quando sabemos que o upgrade para o 2.2 chega em breve.
A câmera ainda é claramente uma câmera de celular, e a Motorola continua ficando para trás de Samsung, Apple e Sony Ericsson neste departamento. Há alguns bugs inexplicáveis em funções muito usadas (tela inicial, navegador, Swype) e o fardo do Motoblur – uns gostam, outros não. O botão de trava é muito pequeno e os botões capacitivos podem atrapalhar uso do aparelho, especialmente se você vem de um celular com botões físicos. Já que o aparelho prima pela resistência, a borda da tela deveria ser emborrachada também. E, por último, ainda que a mão anti-Google da Claro não esteja tão forte quanto em outros aparelhos (o GTalk sequer aparece no market em Android low-end), é meio triste ter de usar o Yahoo! como mecanismo de buscas principal e não poder mudar.
Vale a pena comprar o Defy? Depende. Se você quer comprá-lo no pré-pago, o Milestone obviamente ainda oferece o melhor custo-benefício, custando muito menos (de R$800 a R$900) e oferecendo o principal da experiência do Defy. Enquanto o Milestone original estiver à venda, vemos nele uma relação custo-benefício melhor. E quando os estoques do Milestone acabarem? Se o preço cair bastante no futuro – algo que esperamos – aí teremos no Defy uma bela opção de aparelho mid-end: potente, mas sem custar muito.
No pós-pago, a coisa muda: o Milestone nem sempre é encontrado com ofertas de operadoras. Se você conseguir o Defy por menos que o Milestone – na Claro, ele custa só R$199 – aí vale a pena (se o teclado não for essencial para você, claro).
O Defy está num lugar entre o Milestone e o Milestone 2, entre o antigo high-end e o novo high-end. Se você quer um aparelho mid-end, o Defy é uma opção a se considerar.