[Review] Motorola Moto G100: smartphone tem potência de sobra, mas ignora todo o resto
O Moto G foi um dos primeiros smartphones que eu tive contato e o segundo aparelho pessoal que eu tive depois do finado Google Nexus 5. E eu não duvido que o dispositivo da Motorola foi a porta de entrada de muita gente no mercado de celulares que, naquela época, tinha preços mais acessíveis. Pois bem, eis que em 2021 a linha segue na ativa, mas agora com foco em todos os públicos — até os que estão dispostos a tirar o escorpião do bolso. E para esses consumidores, o Moto G100 é a bola da vez.
Ele não é apenas o modelo mais avançado da família Moto G, mas também é o primeiro aparelho quase premium que a Motorola lança há muito tempo nessa linha, uma vez que a companhia sempre apostou em produtos de entrada e intermediários aqui no Brasil. O Moto G100 pode não ter o conjunto que você esperaria de um topo de linha, mas certamente, no que diz respeito ao hardware, ele dificilmente vai te deixar na mão. Nos parágrafos a seguir eu conto como foi minha experiência de uso com o smartphone e se vale a pena pagar os R$ 3.999 cobrados pela marca.
Motorola Moto G100
O que é
O integrante mais caro da linha Moto G, agora com processador Snapdragon 870Preço
Sugerido:R$ 3.999. No varejo: em média, R$ 2.600Gostei
Hardware para ninguém botar defeito, ideal para jogos; Ready For funciona e traz uma boa primeira impressão; câmera principal entrega bons resultadosNão gostei
Uma tela desse tamanho que não é AMOLED; a recarga é demorada; política de atualização do Android ficou ainda pior
Design
A Motorola não vende o Moto G100 como um dispositivo totalmente premium, mas a fabricante tenta simular a sensação de um aparelho nessa categoria. Embora o corpo seja em plástico, o telefone tem seu charme nas bordas levemente arredondadas e na traseira azul que alterna entre tons de roxo de acordo com a incidência de luz. As três câmeras, inclusive, têm o anel ao redor em um azul mais claro que contrasta muito bem com o restante da carcaça. A companhia mantém a inclusão de uma capinha transparente na embalagem do produto, mas é aquela coisa: ela com certeza ficará amarelada com poucos meses de uso.
Se não fosse pelo tamanho avantajado ou por esse degradê de cores na traseira, o Moto G100 claramente não se passaria em nada por um smartphone mais caro. Ele não tem um design extravagante, a traseira ainda é um ímã de dedos e, apesar da pegada ser firme enquanto estava em minha mãos, sua construção me pareceu bastante frágil para um aparelho de quatro mil reais. Soma-se a isso o fato de que o celular não tem qualquer tipo de certificação contra água e poeira.
Felizmente, o design sem grandes atrativos não matou características que há anos já estão ausentes em smartphones mais caros. Isso inclui entrada P2 para fone de ouvido, botão de liga/desliga que serve como leitor de impressões digitais e o adaptador de tomada.
Tela e som
O Moto G100 vem equipado com um painel LCD de 6,7 polegadas Full HD+ (2.520 x 1.080 pixels) com taxa de atualização de 90 Hz e suporte para HDR10. O display não é de todo ruim, podendo exibir imagens com ótimo brilho e contraste, em partes devido aos 90 Hz, que garante maior fluidez na navegação e reprodução de imagens. Na tela, temos dois furos no canto superior esquerdo para abrigar as câmeras de selfies, e ambas não ousam muito espaço.
A questão é a seguinte: é nítida a diferença entre o LCD e a tecnologia AMOLED, pois o LCD não atinge os mesmos níveis de saturação de contraste do concorrente. Ficou claro que, com o Moto G100, a Motorola preferiu se focar no hardware e deixar todos os outros quesitos em segundo plano. É algo compreensível, visto que o principal chamariz do telefone é mesmo sua configuração de ponta.
O som também não me surpreendeu em nenhum aspecto. Na verdade, faltou equilíbrio entre os médios e agudos, que se misturam constantemente, dificultando a percepção de instrumentos em músicas ou vídeos com trilha sonora. Há apenas uma saída de som, ao lado da entrada USB-C, e o áudio não é estéreo, o que compromete uma reprodução mais fiel do som em filmes.
Hardware, desempenho e bateria
E já que esse é o assunto, vamos partir para o coração do Moto G100: o chipset octa-core Snapdragon 870, da Qualcomm. Trata-se de uma versão encorpada do Snapdragon 865+, de 2020, que se junta a 12 GB de memória RAM, GPU Adreno 650 e 256 GB de armazenamento interno, podendo ser expandido para até 1 TB via cartão microSD. Para se ter uma ideia, o Snapdragon 870 é, atualmente, o segundo processador mais poderoso da Qualcomm, perdendo apenas para o Snapdragon 888, que equipa smartphones caríssimos. Além disso, os 12 GB de RAM do Moto G100 são os mesmos que você encontra no Galaxy S21 Ultra, da Samsung.
Dito tudo isso, o desempenho do Moto G100 é seu ponto forte, e dele eu não tenho o que reclamar. Dos jogos que eu testei — Dead by Daylight, Free Fire, PUBG Mobile, Fortnite, Asphalt 9 —, todos rodaram sem nenhum engasgo ou queda de quadros, mesmo com os gráficos rodando no máximo. A taxa de atualização de 90 Hz ajuda a dar uma fluidez mais natural à reprodução de imagens e animações do sistema operacional.
Para dar conta dessas e de outras tarefas, o Moto G100 conta com uma bateria de 5.000 mAh. É a capacidade da maioria dos dispositivos Moto G, o que significa que a carga dura, em média, um dia e meio a dois dias, desde que o uso seja moderado. Em um dos meus testes, eu assisti quatro horas seguidas de séries na Netflix, joguei Fortnite por meia hora e abri de tempos em tempos algumas redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram, Telegram) — tudo isso com o brilho no máximo e com Wi-Fi e Bluetooth ligados. Ao final, a bateria caiu dos 100% para 47%.
Eu também testei a bateria com o modo Ready For (que vamos falar mais adiante) para jogos. Depois de três horas de jogatina em Dead by Daylight e League of Legends: Wild Rift, a carga foi dos 100% para 54%. Nesse modo, que permite levar o conteúdo do smartphone para uma tela maior, como um monitor ou TV, eu recomendo usar o Moto G100 conectado à tomada, para evitar que a bateria acabe rapidamente.
O que me decepcionou quanto à bateria foi o tempo de recarga. A caixa do G100 inclui um carregador de 20 W, que leva cerca de duas horas para completar uma carga completa. Aparentemente essa é a capacidade máxima suportada pelo dispositivo da Motorola, uma vez que esse foi o mesmo tempo alcançado quando eu usei um adaptador de 96 W.
Software e recursos
O Moto G100 marca a estreia de um novo recurso nos smartphones da Motorola: o modo Ready For. Semelhante ao Samsung Dex, você pode conectar o celular em um monitor ou televisão para usar o telefone como um desktop — com direito a uma interface de computador e tudo. Para isso, é necessário usar um cabo USB-C para HDMI que a fabricante vende em conjunto ou separadamente do G100.
Eu já gostava do Dex por me permitir usar os aparelhos Galaxy mais caros em um monitor externo, podendo ligar também periféricos, como mouse e teclado. O Ready For da Motorola não é uma experiência tão refinada quanto à solução da Samsung, mas está no caminho certo. A transmissão de dados é muito rápida, e a interface adaptada conseguiu se passa por um PC. Claro que nem todos os apps são compatíveis, porém deu para jogar games populares da Play Store e fazer chamadas de vídeo usando um painel maior. A tela do próprio G100 pode ser utilizada como trackpad para auxiliar na navegação.
O G100 é também mais um dispositivo da Motorola que vem preparado para as futuras redes 5G na frequência de 3,5 GHz. Ele já funciona no 5G DSS, que atualmente está disponível em algumas cidades brasileiras.
Para o sistema operacional, a Motorola implementou o Android 11 de fábrica. A plataforma quase não sofre modificações, e todas as funções proprietárias da marca ficam concentradas no aplicativo Moto. É lá que você pode atribuir gestos para abrir a câmera, definir configurações específicas de segurança, ativar o flash LED, entre outras opções. Essa experiência quase idêntica ao “Android Puro” continua intacta, e isso é excelente.
O que sofreu péssimas mudanças nos últimos anos foi a política de atualizações da Motorola. Se antes ela era a única fabricante a garantir um Android mais limpo e com a promessa de ser atualizado por pelo menos duas versões (em alguns casos até três), agora, nesse quesito, a marca figura na lista de piores do mercado. No caso do Moto G100, só está confirmado o Android 12, que chega em algum momento do segundo semestre de 2021, e dois updates gerais de segurança. Para um smartphone quase premium e com processador de ponta, receber só dois anos de suporte é algo inconcebível.
Câmeras
O conjunto fotográfico do Moto G100 não condiz com o hardware de última geração, mas nem por isso ele decepciona. Na traseira, a principal tem 64 MP com abertura de f/1.7, acompanhada por uma lente grande-angular de 16 MP (f/2.2), que também funciona como macro, e um sensor de profundidade de 2 MP (f/2.4). Não se engane: embora o módulo de câmeras tenha quatro círculos, um deles é um foco automático a laser.
Se você estiver em um ambiente bem iluminado, não tem segredo: na câmera principal, as imagens são registradas com boa qualidade, sem tanto ruído e com equilíbrio na saturação e contraste. Esse mesmo resultado foi visto no sensor ultra-angular. Mas como a captura de luz nesse sensor é menor, as fotos apresentaram um pouco de ruído, principalmente nas laterais que sofrem o efeito do campo ampliado.
A mesma ultra-angular ainda fez fotos macro com uma qualidade ligeiramente superior do que lançamentos anteriores da Motorola. Isso graças a uma luz que se acende em volta do aro da câmera, para ajudar a iluminar na aproximação dos objetos. Só não espere nada espetacular.
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No modo noturno, o Moto G100 traz poucas melhorias, mas as que foram inseridas diminuem consideravelmente o ruído em locais com baia luminosidade. Agora, pontos mais claros da imagem não saem com aquele efeito estourado que é típico dos aparelhos da fabricante. Contudo, vou ser repetitivo: não é nada surreal ou fora de série, uma vez que o G100 não se coloca como o celular ideal para fotografia.
Eu gostei das selfies feitas nas câmeras frontais. Sim, no plural, já que são dois sensores: um principal, de 16 MP (f/2.2), e outro grande-angular, de 8 MP (f/2.4). O primeiro faz fotos normais com as quais estamos acostumados, enquanto que o segundo amplia o campo de visão, do mesmo jeito que a ultra-angular na parte traseira, permitindo que mais pessoas apareçam na foto sem precisar esticar o braço lá na frente. Ambas as câmeras não trazem a nitidez que eu esperava, mas, no geral, cumprem seu papel.
Vale a pena?
Se você não liga tanto para câmeras, tela, recursos ou sistema operacional, e só está de olho mesmo em performance, então o Moto G100 pode ser o smartphone que você procura. Não que as outras características do celular sejam ruins: o Ready For é uma alternativa simpática da Motorola para permitir que o aparelho seja usado para além de um telefone móvel; e o Android 11, embora tenha todo aquele problema de receber somente uma atualização principal, mantém o conceito sem modificações que a Motorola (felizmente!) continua apostando.
Até a publicação deste review, eu encontrei o G100 na faixa dos R$ 2.600, na versão que já acompanha o cabo USB-C para HDMI usado no modo Ready For. Já o modelo que acompanha o celular, o cabo e um suporte deixar o aparelho em pé, o preço salta para R$ 3.599. Para os dois modelos, o valor não caiu consideravelmente, mas é menor que os R$ 3.999 cobrados no lançamento do smartphone.
Reforço o que disse anteriormente: se você não faz questão de mais nada que não seja performance, o Moto G100 é uma opção super viável, em especial para jogos. O preço é elevado, mas é significativamente inferior ao de outros celulares com Snapdragon 870 ou Snapdragon 888. Por isso, se você preza pelo conjunto da obra e prefere algo mais equilibrado em todos os sentidos, mas sem abrir mão da potência, alternativas como o Galaxy S21, que já pode ser encontrado em algumas lojas online por menos de R$ 4 mil, são mais interessantes.