Mesmo em um ano repleto de incertezas e atrasos por conta do coronavírus, a Motorola lançou mais de 20 smartphones (isso mesmo: vinte!) em 2020, incluindo as novas gerações das famílias Moto G e Moto Edge. Além dos celulares, a companhia trouxe uma linha completa de novos acessórios, entre ele fones de ouvido. Uma das opções é o Motobuds Charge, que traz um dos melhores custo-benefício que você pode encontrar em um fone true wireless.
Ele não promete nenhum diferencial específico, nem funções de gadgets mais caros, como cancelamento ativo de ruído. Em vez disso, o produto tem uma proposta bem simplista: ouvir suas músicas usando o mais básico possível e por um dos menores preços: R$ 100. Só que há um detalhe importante, e maior problema do produto: ele só pode ser adquirido como um acessório de alguns aparelhos da Motorola, tornando as vendas bastante limitadas.
A seguir eu te conto como foram minhas quatro semanas de teste usando o Motobuds Charge, e se por esse valor tão em conta ele entrega o mínimo esperado.
Motorola Motobuds Charge
O que é
Os fones true wireless mais baratos da MotorolaPreço
Sugerido: R$ 100Gostei
Preço matador; mini conector USB compatível para recarga direto pelo smartphone; sons graves ficam na média para um dispositivo de entradaNão gostei
Perda constante de conexão com o celular; controles capacitivos não são nada responsivos; não é vendido separadamente
Design
Simplicidade é palavra de ordem no Motobuds Charge. E isso se reflete no design do produto: os fones em si seguem o padrão da maioria dos fones sem fio – me lembrou bastante o formato dos primeiros Galaxy Buds, da Samsung, só que com as pontas um pouco mais ovais. Quando estão ligados, cada um acende uma luz azul ou vermelha, indicando se estão carregados ou se precisam de mais bateria. Gostei do design, mas essa questão das luzes piscando o tempo inteiro é algo que particularmente não me agrada.
O Motobuds Charge inclui três pares com pontas de silicone com tamanhos diferentes, para você testar e descobrir qual delas fica mais confortável. Ainda assim, eu achei que eles pressionaram bastante os meus ouvidos com cerca de 1h10 de uso. Não foi algo extremamente incômodo, e vale citar que essa é uma reação individual, então pode ser que não aconteça com todo mundo. A melhor parte é que os fones ficam bem firmes dentro do ouvido; mesmo durante a prática de 1h de atividade física, em nenhum momento senti que eles fossem cair.
Seguindo a linha mais simples, o estojo de carregamento também tem um design minimalista – e fofo, diga-se de passagem. A caixinha tem o mesmo tamanho do estojo dos AirPods, embora seja mais alta. Mas dá para levá-la tranquilamente dentro do bolso da calça. Além disso, o acessório vem com uma entrada USB-C, na parte inferior, e um mini cabo USB-C acoplado no verso da case, que serve para carregar o estojo diretamente de um smartphone.
Um dos pontos fracos do design do Motobuds Charge talvez seja sua construção. Ele é inteiro feito em plástico, o que, querendo ou não, passa a sensação que o produto é bastante frágil. Contudo, isso é compreensível, já que não tem muito o que esperar de um fone tão barato e sem muita firula. Meu conselho é evitar ao máximo possíveis quedas, nem deixá-lo dentro de uma mochila ou bolso com chaves ou muitos objetos, e muito menos expor o dispositivo à água. A Motorola garante certificação IPX5 de resistência contra respingos, mas não a imersão. Portanto, a dica é se limitar a atividades físicas que não te façam suar muito. Chuva então, nem pensar.
As ponteiras em cada fone também abrigam funções de toque capacitivo, como pausar/reproduzir uma música, pular/voltar à faixa anterior, atender/recusar ligações e ativar a assistente de voz do seu celular (Google Assistente, Alexa ou Siri). Os controles funcionam bem… quando resolvem funcionar. Foram várias as vezes que eu tentava pular uma música no Apple Music e os fones executavam outro comando. Acredito que isso tenha a ver com a área de contato voltada para os toques capacitivos, que parece ocupar o fone como um todo. Se ela fosse menor, os fones talvez fossem mais precisos.
Conectividade e bateria
Chega a ser repetitivo falar o quanto fones true wireless mais simples não trazem facilidade de conexão nos demais aparelhos. E com o Motobuds Charge as coisas não são diferentes.
O que eu mais senti falta foi o simples fato de abrir a case, colocar os fones no meu ouvido e eles serem reconhecidos automaticamente pelo dispositivo. Eu sei que isso ainda não é uma característica padrão desse tipo de produto, mas chega a ser frustrante toda vez que eu for usar os fones ter de ativá-los manualmente no meu smartphone.
Outra questão é que os fones da Motorola não possuem a melhor estabilidade de conexão. Eu conectei os fones em alguns dispositivos aqui de casa, incluindo smartphone, tablet e Smart TV. Em todos, foi comum que um lado dos fones parasse de funcionar repentinamente, mesmo com a bateria cheia. Na maioria das vezes, eu só precisei manter o dedo encostado em um dos fones para pausar e retomar uma música – aí sim os dois lados voltavam a tocar áudio normalmente.
O que preocupa é que essa perda de conexão é mais frequente do que parece. Pior: em muitos momentos eu precisei recolocar os dois fones dentro da case, tirá-los de lá e refazer o pareamento com o celular para conseguir ouvir nos dois lados. Ao mudar de cômodo em casa, também foram perceptíveis algumas interferências no Bluetooth. O princípio inicial de um fone true wireless é facilitar a conexão com um dispositivo e mantê-la estável. E isso, infelizmente, o Motobuds Charge não conseguiu entregar.
Bateria também não é o forte do Motobuds Charge, que tem uma autonomia de apenas cinco horas, e mais cinco contando o estojo de carregamento, totalizando dez horas. É um pouco menos das horas totais que os AirDots 2, da Xiaomi, que oferecem até 12 horas considerando a carga dos fones e da case. Mais uma vez venho reforçar que sim, o Motobuds Charge é um fone de ouvido básico, o que nos faz não exigir muito. Por isso, tenha em mente que ele pode te deixar na mão em viagens mais longas e que precisa estar carregado com mais frequência.
Por falar em carregamento, a parte mais legal é um mini conector USB-C na parte debaixo do estojo. Se o seu smartphone tiver esse tipo de conector, é só você plugar no aparelho para o acessório começar a carregar. A Motorola afirma que são necessários apenas 3% de bateria no celular para carregar as 5 horas completas da case, mas essa porcentagem pode variar de acordo com o modelo de telefone.
Qualidade de som
Se na conectividade o Motobuds Charge deixa a desejar, no som ele conseguiu me surpreender positivamente, mesmo se tratando de um fone de ouvido bastante básico. Acredito que isso se deu por causa do volume, que já fica alto o suficiente sem precisar atingir os 100% de capacidade. Mas veja bem: ainda é um produto muito simples, então o jeito é você não ter as expectativas lá em cima.
Os graves se sobressaíram sem apresentar tanto ruído. Faixas como Crimewave e Celestica, ambas do Crystal Castles, têm uma pegada mais eletrônica e com batidas acentuadas que tendem a criar um estouro se o fone não tiver um áudio minimamente decente. No Motobuds Charge, não notei essa característica.
Outros estilos musicais também tiveram a mesma experiência. O pop Cry About It Later, da Katy Perry, foi reproduzido com boa qualidade e sem ruídos. Na faixa PDA, da banda de rock Interpol, os médios e graves não apresentaram queda perceptível na qualidade sonora, sem abrir mão da potência (possivelmente um efeito do volume elevado).
Só não espere por um som super cristalino, principalmente no que diz respeito a vozes. Eu ouvi os discos Pang, da Caroline Polachek, e Fetch the Bolt Cutters, da Fionna Apple. E posso dizer que não há uma distribuição harmônica que destaque mais as vozes das cantoras dos demais instrumentos. Tudo parece ter sido jogado no mesmo recipiente, sem muita diferenciação, o que dificultou ouvir cada elemento separadamente.
Por fim, temos o microfone. E ele não é dos melhores. Além de deixar a voz com um efeito abafado, e em alguns casos meio robótico, qualquer som externo é captado pelos fones, que não consegue limpar esses ruídos o suficiente para tornar o som de uma ligação mais audível. Até em ambientes fechados foi difícil entender o que a outra pessoa dizia do outro lado da linha.
Vale a pena?
Para um acessório de R$ 100, eu acho que o Motobuds Charg entrega até mais do que você encontraria em um fone de ouvido nessa média de preço. O design minimalista é um ponto positivo, e seu grande diferencial é o mini conector USB-C no verso do estojo de carregamento, que permite usá-lo em qualquer smartphone com esse tipo de entrada, e não somente no pacote com o Moto G9 Play. O acessório também traz uma experiência sonora satisfatória, com destaque para o volume do som, que já alcança uma boa potência mesmo sem chegar à capacidade máxima.
Em contrapartida, o Motobuds Charge é um fone bastante limitado. Primeiro porque só pode ser comprado como parte de uma edição especial do Moto G9 Play, que custa R$ 1.699, e por enquanto está indisponível no site da Motorola. Eu questionei a fabricante sobre a disponibilidade do produto, tanto no pacote com o G9 Play quanto se há planos para vendê-lo separadamente. A resposta que eu tive é de que, atualmente, os fones são vendidos apenas com Moto G9 Plus, que tem preço sugerido de R$ 1.999. Contudo, em uma simulação que eu fiz no site da marca, o acessório não aparece como adicional.
Em segundo lugar, estão os fatores negativos que descrevi ao longo deste review, como a instabilidade de conexão e pareamento com o smartphone, a bateria de pouca duração e o microfone que não funciona muito bem em qualquer tipo de ambiente. No mais, o Motobuds Charge pode ser uma opção interessante para quem está trocando de smartphone e tem o Moto G9 Play ou o Moto G9 Plus na lista.