[Review] Mountain Lion: O que aconteceu com a inovação da Apple?

O Mac OSX Lion não parecia pronto, e pior ainda, não era inovador. Quando o Mountain Lion apareceu duas semanas atrás, nós ficamos animados: foi uma atualização relativamente rápida, e nós esperávamos que ela fosse acabar com nossas preocupações. Porém… Eu já estou usando o Mountain Lion há mais de uma semana, e eu estou […]

O Mac OSX Lion não parecia pronto, e pior ainda, não era inovador. Quando o Mountain Lion apareceu duas semanas atrás, nós ficamos animados: foi uma atualização relativamente rápida, e nós esperávamos que ela fosse acabar com nossas preocupações. Porém…

Eu já estou usando o Mountain Lion há mais de uma semana, e eu estou com a mesma sensação que eu tive do Lion: Scott Forstall – o Doutor Moreau da Apple – ainda está tentando empurrar um híbrido de desktop e iPad. Não é o futuro; é uma experiência genética bizarra ancorada nos sucessos do passado e do presente da Apple.

Mesmo com as novas funções legais do Mountain Lion – e existem algumas – o novo SO traz uma sensação assustadora: que a Apple está ficando sem ideias. Ou pior, que a Apple está com medo de aplicar novos conceitos, temendo que irá matar a galinha dos ovos de ouro da empresa. Com medo de mudar o mundo de novo, como Steve Jobs costumava dizer, um desktop por vez.

O Mountain Lion tem o mesmo Finder e a mesma abordagem centrada em apps que o seu antecessor: mais das mesmas interfaces cheias de couro e páginas copiadas; mais metáforas gráficas antiquadas e enfeites desnecessários. E sim, tem algumas funções novas legais, que são úteis e bem-vindas, mas não é nada impressionante ou inovador. E algumas dessas novas funções legais também têm seu lado negativo.

Novas funções legais – e cheias de veneno

Minha função favorita do Mountain Lion são as Notificações, um painel atualizado em tempo real que se esconde no lado direito da sua tela. Se você tem um iPhone ou iPad com iOS 5, você sabe como funciona: Quando um novo e-mail, mensagem no Twitter, ou qualquer outro alerta chega, uma notificação aparece brevemente na sua tela. Depois de um tempo, ela desaparece e fica guardada no painel de Notificações. Para ver o painel, apenas deslize dois dedos da direita para esquerda no seu trackpad ou clique no ícone que fica no canto superior direito na sua tela, a última novidade adicionada à infinidade de ícones da barra de menu do OS X. (Eu ainda lembro-me dos comentários do Steve Jobs sobre como ele odiava essa infinidade de ícones na época do Mac OS 8.)

As Notificações são uma ótima maneira de acompanhar o que quer que seja importante. Você pode escolher quais quer receber no painel de controle. E no app de Mail da Apple você pode deixar pessoas nos favoritos, para que apenas e-mails dessas pessoas apareçam no painel de Notificações. Essa funcionalidade pode estar disponível em apps de terceiros também.

Na verdade, qualquer app de terceiros pode usar a interface de programação das Notificações – qualquer app que seja vendido através da App Store, pelo menos. A Apple não irá perder sua taxa de 30% e o controle sobre a plataforma. E porque ela deveria? Afinal de contas, é a plataforma e serviço da Apple. Mas ainda assim parece que o Don Corleone está fazendo uma oferta que os desenvolvedores não podem recusar.

A mesma coisa com o iCloud, outra boa função que finalmente está totalmente implementada e utilizável. Qualquer app de terceiro que quer usar o iCloud precisa passar pela App Store. E assim como as Notificações, a Apple está contando com o fato que todo mundo irá querer usar o iCloud, porque ele funciona bem (na maior parte do tempo).

Na verdade, o iCloud é o melhor aspecto dos novos apps do OS X 10.8: Mensagens, Lembretes, Contatos, Calendário, Notas e Game Center. Eles são idênticos aos equivalentes no iOS, incluindo as mesmas metáforas horríveis na interface de usuário que mal fazem sentido no iOS. Por que os designers da experiência de usuário ainda acham que a única maneira de encorajar controle por toque é imitar superfícies do mundo real? Já é ruim o suficiente no seu celular, mas não faz sentido nenhum no OS X, já que é uma tela que você não pode tocar de verdade. Você sabe: As Notas no OS X parecem com uma folha oficio amarela, o Game Center tem uma textura parecida com uma mesa de um antigo casino de Vegas que os mais velhos irão adorar, os Lembretes parecem com um bloco de anotações, e por aí vai.

É a antítese do design minimalista de Jon Ive, com a essência desprovida de artifícios. Na verdade, isso vai contra tudo que a Apple costumava defender quando era a rainha do desenvolvimento de interfaces de usuário: de que tudo deveria ter a mesma linguagem para tornar tudo intuitivo e familiar para o usuário. Com o iOS, a Apple voltou atrás dizendo que os aplicativos deveriam imitar os itens do mundo real que estavam tentando substituir. Isso fez um pouco de sentido em um celular, mas quase nenhum no seu desktop. E abre uma porta para uma linguagem de design fragmentada que pode tornar o futuro do Design da Apple bem pouco atraente. É um deslize que leva em direção a um futuro onde cada app tem sua própria interface – um desastre berrante de gadgets na tela.

Deixando de lado o design ruim, existe alguma esperança: Estes apps sincronizam dados instantaneamente usando o iCloud. Ele é incrivelmente conveniente, útil e viciante, mesmo que não seja perfeito (as Notas, por exemplo, não podem sincronizar fotos). Também é ótimo que a Apple tinha finalmente conseguido acompanhar a implementação de coisas na nuvem do Google. E nenhum desenvolvedor deveria ficar de fora dessa.

Na verdade, eu acho que isso torna o Gatekeeper – uma nova função de segurança – quase desnecessário. A Apple diz que o Gatekeeper é projetado para proteger você contra os apps malignos: o Mountain Lion irá requerer que qualquer app use ou um identificador único da Apple ou que seja vendido através da App Store. Usuários podem usar qualquer outro app por sua conta e risco, mas o Gatekeeper irá enviar um alerta. Isso irá proteger – e assustar – muitos novatos, que ficarão mais inclinados a usar apenas a App Store para fazer download de Software. (Mesmo que a App Store não seja mais o lugar mais seguro). É uma maneira nada sutil da Apple de encurralar os desenvolvedores em seu quintal. Mas com tantas vantagens do iCloud, é improvável que a maioria das pessoas irá se aventurar fora da App Store para conseguir software de qualquer maneira.

Depois do iCloud, minha outra função favorita é o AirPlay Mirroring, que permite que você envie qualquer coisa que você possa rodar na sua tela do Mac para qualquer Apple TV ou projetor ou receptor habilitado para AirPlay. Isso inclui conteúdo do Adobe Flash e Microsoft Silverlight, discos DVD, e qualquer outro app de playback de vídeo. Então você poderia assistir qualquer filme ou série de TV sem ter que passar pelo iTunes. Eu fiquei surpreso pela Apple ter feito isso, porque abre um buraco no muro de proteção. Na verdade, eu tenho medo que essa função não estará completamente disponível na versão final. Afinal de contas, a Apple não permite o Hulu na Apple TV – nem através de Airplay – porque ele compete com a loja do iTunes.

A Apple diz que tem mais de cem novas funções e melhorias, como o compartilhamento no Twitter implementado por todos os apps. Ou a nova barra de endereço unificada do Safari, que assim como o Chrome do Google, agora aceita termos de busca e endereços da web no mesmo campo.

Todos os apps da Apple – e a maioria dos apps de terceiro que eu possuo – podem agora ser executados em modo tela cheia também, o que é bom se você tiver um trackpad. No meu review do Lion, eu argumentei que a falta de tela cheia nos apps tornava o modo tela cheia inútil. Agora, exceto pelo Photoshop e alguns outros apps profissionais que ainda não dão suporte ao modo tela cheia, você pode usar apps em tela cheia o tempo todo.

Eu realmente gosto de usar o Mail em uma tela e o Chrome com abas relacionadas ao trabalho em outra; o Chrome com abas relacionadas à diversão em outra, e a apenas um swipe de distância eu tenho uma tela só com o Reeder. É muito conveniente e rápido passar por eles. E isso me ajuda a focar nas tarefas, com as novas Notificações agindo como um link central para o resto de minhas atividades enquanto eu estou digitando um artigo ou editando um vídeo. Funciona. Até certo ponto.

O ponto que começa a não funcionar tão bem são os apps pequenos. Por que eu iria querer as Mensagens em modo tela cheia?

O dilema do inovador

E esse é o exemplo perfeito do que ainda parece errado no Mountain Lion. Tem que existir uma maneira melhor de fazer essas coisas.

Olhe para a Microsoft e o Windows 8, com o seu design de tela dividida: Os usuários podem atribuir um quarto da tela para outro app. É uma maneira brilhante de usar apps full screen – o que eu ainda acho que é a maneira perfeita de interagir com dispositivos hoje em dia – sem sacrificar a multitarefa que alguns apps que sempre estão disponíveis necessitam – como os apps de mensagens instantâneas. A Apple poderia ter ido por esse caminho. Ou qualquer outro caminho. Ao invés disso ou é modo tela cheia como se fosse o iOS enfiado no OS X ou uma enorme bagunça de janelas em espaços separados.

É possível dar um jeito? Claro. Eu consigo fazer funcionar. Mas não é o ideal – é certamente confuso para muitos usuários e irritante para outros, incluindo eu mesmo.

Eu não estou dizendo que a abordagem da Microsoft é a única maneira de fazer isso, mas é uma ótima e intuitiva solução. E é basicamente o que está errado com o Mountain Lion – e a diferença entre a Apple e a Microsoft ultimamente.

A Apple – que deixou de ser o azarão para ser líder – está ancorada no seu legado do iOS. A antiga inovadora está com medo de mudar sua fonte de renda, mesmo que esteja se baseando em princípios de experiência de usuário de Newton e Palm dos anos 90. Parece que a Apple não está tentando melhorar as coisas. Ao invés disso, o pessoal de Cupertino parece feliz em simplesmente manter todo mundo – usuários e desenvolvedores – presos em seu ecossistema fechado usando interfaces familiares, serviços convenientes como o iCloud, e algumas funções legais.

Não há nada intrinsicamente errado com isso. Obviamente, funciona bem o suficiente para a maioria das pessoas. Assim como o Windows 7 e o velho Mac OS X funcionam bem o suficiente. Porém, é uma abordagem falha. É mais do mesmo, não é um caminho para um crescimento futuro.

E era isso que eu estava esperando no Mountain Lion: Uma versão que iria corrigir as muitas falhas do Lion e introduzir novas ideias realmente preparadas para tornar tanto o desktop quando o iOS melhor. Ao que parece, isso não estava nos planos. A Apple está feliz onde chegou – assim como estava nos anos 80. Mas, diferente dos anos 80, o rival da empresa não está copiando suas coisas. Está explorando novos caminhos.

Isto é o mais surpreendente no Mountain Lion. Não o que a Apple fez, mas por deixar claro uma realidade impressionante: A Microsoft é a nova apple, pensando em maneiras de fazer uma experiência de usuário melhor e mais produtiva. Claro, a MS pode falhar, mas pelo menos Redmond está explorando novos caminhos e tentando evoluir a computação.

Pense nisso por um segundo: O Mountain Lion é conservador e chato – e às vezes até mesmo exagerado. Enquanto isso a Microsoft está tentando evoluir e sendo inovadora na sua abordagem de interface de usuário.

Droga. Ele travou.

Este é um review da versão beta do OS X Mountain Lion. Apesar de eu ter encontrado alguns bugs e problemas de desempenho – ele zoou com a saída de som do meu iMac, por exemplo – isso é normal em produtos beta. Este review não leva em conta estes bugs e analisa apenas o design das funções.

Imagens por Shutterstock/Eric Isselée

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