Depois de ter um problema com o envio na Amazon, passei boa parte do dia tentando encontrar um Nintendo Switch. Eu passei exatamente pelo que muitos donos do Switch irão passar. Rondei o Craigslist, busquei na Best Buy e esperei muito tempo em uma longa fila da GameStop. E depois passei os últimos dias vivendo a vida com o Switch, jogando o que há de melhor disponível. E posso dizer, categoricamente, que esse videogame não compensa a busca incansável.
• Não, o Nintendo Switch ainda não foi homologado no Brasil
• Este SNES portátil é basicamente o tataravô do Nintendo Switch
Legend of Zelda: Breath of the Wild vale a pena. O grande título de lançamento da Nintendo é uma obra-prima no gênero de ação RPG. É viciante, muito bem desenhado e o que falta em história é compensado pela nostalgia e jogabilidade. Mas Zelda é, no momento, o único motivo para se ter um Switch – o novo console híbrido da companhia foi feito para cobrir uma lacuna dos games entre a sala de estar e o mundo lá fora – e isso significa algumas coisas ruins para o console.
O Switch é, visivelmente, um tablet. O formato é de um tablet grosso – pense no primeiro Amazon Fire. Se fosse para julgar apenas essa parte do videogame, o Switch seria um desastre: ele é muito volumoso, a autonomia de bateria chega a duas horas e 50 minutos numa carga, e não é possível navegar na internet ou assistir ao Netflix, nem mesmo conferir o Facebook.
Quando o Switch foi anunciado, o presidente da Nintendo, Tatsumi Kimishima, disse à Time que a empresa estava ocupada demais tornando o console uma “incrível plataforma dedicada aos jogos” para se preocupar com outros aplicativos. Esse dispositivo não está tentando competir por um espaço entre as poucas portas HDMI da sua TV, como o PS4 ou Xbox One. Ele não quer tomar conta da sua sala – ele quer sair por aí e ficar de boa com uns joguinhos.
Então por que só existem nove títulos disponíveis para o console no lançamento? E por que apenas quatro deles são títulos originais? E por que dois desses quatro títulos originais são party games com valor de replay limitado, daqueles que você só joga uma vez? Mesmo que a Nintendo não queira competir com a Sony e a Microsoft, ela ainda está competindo. A empresa quer que você gaste US$ 300 num console e passe suas noites deitado no sofá, segurando o compacto joystick Joy-Con.
Zelda, por mais incrível que seja, não é o suficiente para fazer com que as pessoas gastem US$ 300 só para jogá-lo. Especialmente quando a versão para Wii U do game é tão boa quanto e (ironicamente) não sofre os mesmos problemas de reprodução como acontece no Switch. E esse problema de reprodução – quando o conteúdo da tela dá uns engasgos, enquanto o processador trabalha duro para manter tudo funcionando – precisa ser discutido. Zelda é um jogo intenso nos gráficos, recheado de todos os tipos de vistas deslumbrantes e físicas de partículas que são capazes de exigir muito do processador. Mas Zelda também foi desenvolvido para o hardware de última geração. Se o Switch está tendo dificuldades com Zelda, como aconteceu algumas vezes em que joguei, então o console já chegou no limite do seu potencial, tecnologicamente falando. Zelda, Mario Kart, e o Skyrim, lançado há seis anos, são exemplos do que esse console será capaz de fazer.
Isso não faz o Switch instantaneamente ser um console ruim. O Sony PSP e Vita foram belos dispositivos portáteis com ótimas telas, habilidade para transmitir conteúdo para uma TV e um pequeno, porém excelente, catálogo de jogos. E a Nintendo tem o benefício de liderar o mercado de portáteis por mais de 30 anos e uma incrível série de jogos proprietários, bem como um enorme catálogo de jogos clássicos que as pessoas estão doidas para jogar – embora nenhum deles esteja disponível por enquanto.
O grande problema são os controles Joy-Con. Cada Switch vem com um joystick para a esquerda e outro para direita, que se encaixam nas laterais do tablet, tornando-o algo parecido com o Sony Vita – só que bem maior. A maior parte do tempo que eu estava jogando foi nessa configuração, com o Joy-Con encaixado, e eles funcionam bem, mesmo eu parecendo um idiota jogando num negócio desse tamanho.
Se você não quer parecer idiota jogando no seu console portátil gigante, você pode desencaixar os Joy-Con do console e colocar num grip – embora ele não tenha uma bateria (essa versão do grip custa US$ 30) e exista um defeito de engenharia que pode afetar a conectividade (a solução, provavelmente, é comprar o controle Pro por US$ 70). Se o estilo de jogo com o controle com grip ou o Pro parece muito mundano para você, ainda dá para jogar nos moldes clássicos do Wiimote, com uma parte do controle em cada mão – muito útil para alguns puzzles do Zelda que tiram proveito do recurso de identificação de localização dos joysticks.
É assim que você joga um dos dois party games que estão disponíveis atualmente – o tão divulgado 1, 2 Switch que é, na verdade, uma demonstração de US$ 50 das possibilidades do Joy-Con – e o Snipperclips, um jogo de puzzles divertido que você deveria jogar com um amigo (também dá para jogar sozinho, mas isso irá fazer você perceber o quão sozinho está). E, como ilustra o 1, 2 Switch, os joyticks Joy-Con são extremamente poderosos para seu tamanho. A Nintendo aprendeu muito desde o primeiro Wiimote sobre como fazer um controle sensível ao movimento e colocou todo esse conhecimento nesses controles.
Mesmo depois de jogar um pouco o Snipperclips, ainda me pergunto por que essas coisas ainda existem. É como se a Nintendo quisesse fazer um console portátil muito poderoso, mas não quisesse alienar todos os fãs que conquistou dez anos atrás com o Wii. Então, ela adicionou um monte de recursos que o seu principal título de lançamento mal usa. O que deixa o console meio sem sentido.
É um sistema que não tem ideia do que quer ser. Ele não tem potência o suficiente para ser algo que ficará na sua sala e é muito grande para você ficar segurando por três horas. Na tentativa de preencher a lacuna entre jogar na sala e jogar por aí, a Nintendo fez um Frankenstein. Embora a transição entre essas duas opções de jogabilidade seja suave, o PSP e o Vita conseguiram feitos semelhantes com um dispositivo muito mais confortável.
Os únicos momentos em que o Switch pareceu ser mais do que uma máquina para o Zelda, e os controles pareceram mais do que jogada de marketing, foram as raras ocasiões em que os joysticks e o tablet se combinaram e tornaram o gameplay mais imersivo.
Eu estava usando a função de câmera do Zelda e precisava capturar uma rápida imagem de uma sala cheia de esboços de galinhas. Eu poderia ter usado o Joy-Con para apontar a câmera, mas em vez disso eu movi o console inteiro e girei como se estivesse na sala com o Link. Foi um momento curto, mas muito legal. Como se a Nintendo estivesse dizendo que entende o nosso desejo louco por mais imersão e estivesse nos oferecendo uma janela para o mundo que não exige um headset pateta ou caríssimo, como é o caso da realidade virtual.
Infelizmente foi apenas um momento, e, mesmo que o Switch tenha muito mais desses momentos – em diversos jogos –, ele não vale a pena. Se você já comprou um, aproveite sua máquina para o Zelda de US$ 300. Se você ainda não tem um Switch, dê uma segurada e espere por mais jogos. A Nintendo fez um console potencialmente legal. Agora ela precisa provar para o que veio.
Destaques
• Consegue atingir pouco menos de três horas de autonomia jogando Zelda.
• O Joy-Con parece uma jogada de marketing.
• Problemas de conectividade e de frame rate revelam que o hardware não é tão impressionante assim.
• Ainda dá para jogar Zelda muito bem.
• Apenas oito títulos de lançamento, e só um vale a pena.
• O design de jogo fantástico do Zelda sugere um console incrivelmente imersivo, mas ainda não chegou lá.
• “Ele tem uma ideia muito boa, mas parece ser um antecessor de um dispositivo que realmente irá atender às expectativas.” – James Whitbrook do io9
Todas as imagens: Alex Cranz/Gizmodo