Capturar imagens em 360° com o smartphone geralmente não traz bons resultados, pois qualquer tremida pode estragar a composição das imagens via software. Para tornar a tarefa mais simples, a Samsung lançou no Brasil a Gear 360, umas das poucas câmeras portáteis disponíveis para imagens panorâmicas.
Passamos um tempo com a Gear 360 para ver como se sai em algumas atividades simples. Com o preço de um smartphone – ela pode ser encontrada no varejo por R$ 2.000 – já adiantamos que é um produto interessante para early adopters, e cuja experiência deveria ser simplificada.
Por dentro da bolinha
A Gear 360 é basicamente uma bolinha com um pequeno tripé acoplado. Dentro dela, há duas lentes olho de peixe de 15 megapixels com abertura f/2.0. Cada uma delas captura 180° horizontalmente e verticalmente. Juntando o que é capturado pelos dois sensores, você terá uma imagem de 360°.
A proteção IP53 significa que ela é resistente a resíduos sólidos e a borrifos de água — nada de colocar debaixo d’água, e em caso de sujeira, um pano deve dar conta.
Carregar a câmera pode ser um pouco complicado por causa de seu formato. Não é algo que caiba num bolso de calça, então você deve levá-la em algum recipiente. O bom é que a Samsung, junto com o kit que acompanha o dispositivo, incluiu uma sacolinha e um cordão para levá-la no pulso, por exemplo.
A título de comparação, a LG tem também uma câmera 360°, chamada LGR105, e ela é bem magrinha e discreta. Porém, captura vídeos e fotos com resolução menor.
Um item importante que não acompanha a câmera é o cartão de memória. Para fazê-la funcionar, você vai precisar comprar um cartão microSD — ela suporta até 200 GB.
Usando
Após colocar um cartão de memória e ligar a câmera, a interface é bem simples. Há só um visor e três botões: um para ligar/desligar, que também dispara a câmera; um de voltar; e um para o menu. Neste último, você escolhe o modo que quiser: vídeo, foto, timelapse ou vídeo em loop. É possível ainda escolher se você quer usar apenas uma lente (frontal ou a traseira) ou as duas. A câmera sempre executa um timer quando o usuário clica no disparador.
A bateria de 1.350 mAh segura bem o tranco. A empresa diz que, em gravação contínua e na maior qualidade, ela dura pouco mais de duas horas. Nos testes que fiz, sem gravações de longa duração, deu para usar por umas 4 horas tranquilamente — lembre-se que essa provavelmente não vai ser sua câmera primária numa viagem, então, dá para usá-la bem em situações pontuais.
A câmera vem com um pequeno tripé, mas, na maioria das vezes, a captura de vídeos ou fotos geralmente é feita com o operador segurando a câmera na mão. Após os primeiros testes, fiquei um pouco irritado, pois quase todas as vezes meus dedos ficavam em destaque.
Decidi, então, apelar para algo não muito bem visto pela sociedade: tirei o tripé que veio junto e parafusei na câmera um pau de selfie. Apesar de ser esquisito andar com ele por aí, toda a captura ficou melhor com o acessório.
E consegui tirar boas fotos em 180°:
Depois de gravar ou tirar fotos 360°, há dois cenários: um simples e outro complicado. Vamos começar com o mais tranquilo.
Com um smartphone Galaxy compatível
Se você tiver um dos smartphones compatíveis da Samsung (Galaxy S7, S7 Edge, S6, S6 Edge, S6 Edge+ ou Note 5), tudo funciona redondo. Basta parear o smartphone com a câmera via Bluetooth e abrir o app Samsung Gear 360.
Você conseguirá configurar todos os modos citados acima e ainda visualizar ao vivo o que as lentes estão capturando. Basta escolher um deles, filmar e transferir para o smartphone — tudo isso é feito via Bluetooth, e o consumo de bateria é intenso, pois estamos falando ainda de arquivos pesados, sobretudo se forem vídeos. Fotos 360° geralmente ficam com no máximo 15 MB.
Pronto. Agora é só compartilhar onde você quiser. O Facebook e o YouTube entendem de cara que o vídeo é 360° — o mesmo vale para fotos panorâmicas, no caso da rede social.
Sem um smartphone Galaxy
Após gravar o vídeo, você deve copiar os arquivos para o computador, que deve ter o sistema Windows — macOS, nem pensar. Aí você precisa instalar um software de edição feito pela Cyberlink em parceria com a Samsung e importar os arquivos.
Em tese, instalar o Action Director, que está disponível no site da Samsung, não é problema, pois é um arquivo executável. Após o processo, tentei digitar o código que acompanha a câmera, mas não deu certo. Pensei que era algum problema e reiniciei o computador e tentei de novo. Não deu certo. Após ler em alguns fóruns, vi que era necessário digitar a chave do produto com a câmera conectada ao computador. Aí rolou.
É necessário ter um computador bom, pois o processo de carregamento pode levar bastante tempo com arquivos grandes. Na detalhada lista de requisitos para instalar o Action Director, consta a necessidade de o computador ter 6 GB de RAM (caso o processador seja de 64 bits) e placa de vídeo dedicada.
Durante os testes, tentei visualizar um vídeo 360° de 15 minutos e ele levou cerca de 2 horas para processar. Arquivos simples de vídeo de até uns 5 minutos carregavam no máximo em 10 minutos.
O software permite que o usuário faça cortes, ajustes de cor, aplique filtros e ainda coloque trilhas nos vídeos. A interface é um pouco confusa, mas dá para se virar bem. Com o trabalho finalizado, ele gera um arquivo MP4 que, provavelmente, vai rodar de forma muito esquisita em players convencionais — até no VLC, que roda uma série de codecs, o arquivo apresenta umas falhas esquisitas.
Para postar em algum lugar, há uma opção de exportar os arquivos diretamente para alguns serviços como YouTube, Google Maps e Facebook.
Vale a pena?
É um gadget bem legal, mas por ora me parece um produto de nicho. É a primeira câmera 360° da Samsung, e esta é uma categoria relativamente nova para o consumidor final — para profissionais, já existem equipamentos do tipo, ou sistemas de arranjos de câmeras que depois são combinadas com a ajuda de software.
Quando peguei o produto pela primeira vez, meu primeiro pensamento foi: por que vou querer tirar fotos ou vídeos em 360°? De fato, de início, não tive muita motivação para usar a câmera. Porém, com o tempo, reparei que pode ser legal para algumas ocasiões, como numa festa ou mesmo em uma viagem, para as pessoas terem uma noção de como é o local onde você está.
A outra pergunta foi: onde vou postar isso? Bem, não tem muita escapatória: Facebook, Google Maps e YouTube são as principais plataformas para esses conteúdos.
É um produto para quem é aficionado em tecnologia ou profissionais da área que querem começar a trabalhar com este tipo de captura, mas querem brincar antes com um produto mais simples.
Para ser mais amigável ao consumidor, o produto deve ser mais portátil, oferecer suporte a outras plataformas e dispositivos de outras marcas (lembre-se, o gerenciador da câmera só funciona em alguns smartphones Samsung) e ter um software de edição mais palatável.
Com preço na casa dos R$ 2.000, talvez a melhor opção seja tentar aproveitar algum bundle da Samsung que inclui algum smartphone Galaxy topo de linha e headset de VR. Digo isso, pois comprá-la separadamente pode doer bem no bolso. No entanto, não deixa de ser um bom primeiro passo da fabricante sul-coreana na tentativa de popularizar as câmeras 360°.
Especificações da Gear 360
Câmera: duas câmeras olho de peixe com 15 megapixels
Vídeo: MP4 (H.265) – lente dupla: 3840×1920 (30 quadros por segundo)”
Imagem: JPEG – lente dupla: 30M (7776×3888)”
Memória: cartão microSD (até 200 GB)
Modos de captura: vídeo, foto, timelapse, vídeo em loop.
Modo de câmera: modo de lente simples / dupla
Certificação IP53* de resistência à poeira e água
Serviços Samsung: Aplicativo Samsung Gear 360, PC S/W (Gear 360 ActionDirector) software para PC
Conectividade: WiFi 802.11 a/b/g/n/ac (2.4/5GHz), Bluetooth 4.1, USB 2.0 e NFCBT v4.1
Sensores: acelerômetro e giroscópio
Dimensões: 66,7 × 56,2 × 60 mm
Peso: 153 g (incluindo bateria)
Bateria: 1.350 mAh íon-lítio.