Faltam pouco mais de dois anos para começarem as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Oficiais do Comitê Olímpico estão fazendo um balanço para ver o nível de preparação da cidade. Obviamente, o Rio não está pronto. Mas há como vencer esse atraso? A cidade consegue resolver tudo (ou quase) até lá?
Reunimos aqui os relatos recentes sobre os preparativos. Eis o que está pronto (ou não) no Rio, e o que pode ser feito para resolver os problemas.
A água
A maior parte das discussões das últimas semanas estiveram centradas em torno da água do Rio – especificamente, a Baía de Guanabara, onde serão realizados os eventos de vela e windsurf. Em 7 de maio, a Associated Press obteve uma carta de autoridades ambientais brasileiras relatando que a baía não estará limpa a tempo para os Jogos Olímpicos. Em vez disso, segundo a carta, vai demorar mais uma década para conter a poluição de forma suficiente.
Uma semana depois, um biólogo chamou o local de uma “verdadeira latrina”, perigosa para os banhistas e cheia de lixo, e o New York Times publicou uma reportagem em vídeo sobre o estado da baía, detalhando como aspirantes olímpicos precisam lidar com esgoto bruto, móveis descartados, carcaças de animais (e de humanos, segundo Lars Grael) e outras formas de lixo.
De acordo com o NYT, a cidade se comprometeu a tratar 80% do esgoto vazando para a baía, mas só atingiu 40% até agora. As tentativas de limpá-la remontam a décadas:
Autoridades prometeram resolver o problema depois que a ECO-92 atraiu escrutínio para as águas sujas do Rio de Janeiro. O governo do estado do Rio garantiu mais de US$ 1 bilhão em empréstimos do governo do Japão e do Banco Interamericano de Desenvolvimento para projetos de limpeza, mas eles não foram nem remotamente bem-sucedidos, de acordo com especialistas em meio ambiente.
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O que fazer? Lars Grael, ganhador de duas medalhas olímpicas de ouro, argumenta que as competições aquáticas devem ser levadas para outra área com água mais limpa, mas as autoridades afirmam que a Baía de Guanabara está passando por tratamentos de grande escala, e estará limpa o suficiente para uso em 2016.
Em outras palavras, os esforços para limpar o lodo de esgoto não estão funcionando tão bem quanto necessário, e não parece haver um plano B.
Estádios e parque olímpico
Como está o restante dos locais olímpicos? Em 14 de maio, um comunicado no site oficial do Rio 2016 notou que 38% das arenas já estão prontas. Onze dos 29 locais esportivos do Rio estão prontos para serem usados, enquanto oito precisam de renovação e 10 ainda estão em construção.
Mas os oito estádios e locais que necessitam de renovação estão causando muitas dores de cabeça. O Estádio Olímpico João Havelange, concluído em 2007, está sendo ampliado para atender mais 13 mil pessoas. Mas em 2013, ele foi fechado após descobrirem que seu telhado estava propenso a entrar em colapso durante ventos fortes. Equipes passaram o último ano reconstruindo a estrutura do telhado.
O Maracanã, originalmente inaugurado em 1950, também passou por uma grande reforma. Na verdade, ele foi praticamente reconstruído do zero ao longo do último ano, aumentando sua capacidade e renovando os assentos e estrutura de telhado revestida em teflon. O local renovado já está aberto.
E as dez arenas que ainda não estão prontas? Em particular, os administradores olímpicos chamam a atenção para uma das quatro áreas das Olimpíadas: a Região Deodoro, no oeste da cidade, onde serão realizadas as provas de equitação, ciclismo (BMX e mountain bike), pentatlo moderno, tiro, canoagem slalom, hóquei e esgrima. De acordo com o vice-presidente do COI John Coates, este é o lugar onde a maior parte do trabalho precisa ser feito:
A preocupação especial foi a zona de Deodoro, que fica a cerca de meia hora da vila olímpica. Nove esportes serão realizados lá, e não são esportes fáceis. Não são estádios temporários que só precisam ser erguidos… são locais complexos que precisam ser montados. E, literalmente, nem uma folha de grama se moveu desde que eu estive lá em outubro.
Em resposta aos comentários de Coates, as federações responsáveis pelos oito esportes afetados anunciaram que enviarão representantes ao Rio para visitas de “emergência” nos canteiros de obras para “acelerar o progresso”, de acordo com o site Around the Rings. Mas Eduardo Paes, prefeito do Rio, rebateu dizendo que “não podemos fazer um único erro aqui [na Região Deodoro], mas ainda há tempo para terminá-lo”.
Além disso, em abril, 2.500 trabalhadores no local do Parque Olímpico entraram em greve por melhores salários e mais benefícios. Eles voltaram ao trabalho, porém greves devem continuar à medida que o trabalho se intensifica ao longo dos próximos meses.
O campo de golfe oficial dos Jogos foi um dos locais que levantou a ira do COI no início de abril. Ele começou a receber o gramado, mas este mês, os trabalhos foram interrompidos depois que um procurador da República bloqueou o campo: ele estaria em uma área de conservação ambiental, explorado sem a documentação adequada.
Enquanto isso, alguns países concorrentes estão preocupados com os locais onde ficarão os atletas. O australiano John Coates, vice-presidente do COI, fez comentários que incitaram rumores de que Londres receberia os Jogos de 2016 como um plano B. Ele também disse que a Austrália reservou US$ 1,6 milhão para hospedar os atletas australianos fora da Vila Olímpica se for necessário.
A infraestrutura
O Rio planeja gastar US$ 16 bilhões em infraestrutura, de acordo com o prefeito, e planeja renovar boa parte das estruturas físicas da cidade, como aeroportos, portos e até esgotos.
O UrbanLand descreve os trabalhos no Rio de Janeiro com as seguintes estatísticas:
4 km de túneis e viadutos, reconstrução de 70 km de ruas, construção de 700 km de redes de esgoto, água e telefonia. O projeto Porto Maravilha também inclui o Porto Olímpico de 850 mil m², que irá incluir a Vila de Mídia, a Vila das Árbitros, um hotel e centros de operações.
A cidade também planeja expandir o sistema de transporte público: a ideia é criar um anel entre as quatro regiões olímpicas – Barra, Deodoro, Maracanã e Copacabana – com um sistema de trens, quatro novas linhas de ônibus, um sistema de metrô expandido com mais 7 km de trilhos e mais seis estações, tudo para tentar resolver o atual sistema congestionado.
Além da infraestrutura pública, há também toda uma rede privada tomando forma. O Guardian revela um pouco sobre a enorme rede de vigilância sendo criada pelo governo do Rio de Janeiro. É “o mais ambicioso centro de comando urbano integrado do mundo”, projetado para monitorar tudo – de inundações à possibilidade de deslizamentos de terra nas favelas da cidade.
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Estes serão os projetos que permanecerão vitais para Rio quando os atletas e a imprensa fizerem as malas e foram para casa. E nenhum deles parece estar em situação crítica, apesar de alguns relatos sobre atrasos – na construção da linha 4 do metrô, por exemplo.
O Rio consegue?
Fazer dez estádios em 26 meses não é tarefa fácil. Por outro lado, como vimos em Sochi e até em Atenas, o COI se queixou publicamente sobre o grau de preparação das cidades-sede com bastante regularidade ao longo da última década – e elas conseguiram realizar os jogos sem maiores imprevistos. A preocupação é real, mas também é uma forma de cobrança pública.
Vamos descobrir muito mais sobre os avanços no Rio ao longo dos próximos meses, especialmente após o fim da Copa: os holofotes ficarão voltados para a cidade-sede, e ela ainda tem um longo caminho a percorrer.
O que acontece se o Rio não estiver pronto? Dá-se um jeito, é claro. Recentemente, autoridades brasileiras vêm desistindo de obras inacabadas para a Copa do Mundo. Em Curitiba, a imprensa vai trabalhar em grandes tendas, em vez de um edifício ainda inacabado; novos terminais nos aeroportos de Guarulhos e Fortaleza ainda operarão de forma provisória; trens em São Paulo (conectando o aeroporto de Congonhas) e em Cuiabá não ficarão prontos a tempo, e outras formas de transporte serão usadas.
Não é exemplar, não é desejável, mas se a mesma coisa acontecer no Rio durante os Jogos Olímpicos, talvez isso ensine ao COI e ao mundo que as Olimpíadas não precisam ser uma corrida contra o tempo de projetos bilionários.
Talvez seja melhor deixar os jogos para países com infraestrutura já pronta, caso do Japão – que será sede das Olimpíadas de 2020 – para não lidar com saias-justas como os Jogos de Inverno de 2022: por enquanto, ninguém quer hospedá-los.
Imagem de capa: estádio do Maracanã/Buda Mendes